VIII Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp

GT9 – MEMÓRIA E INSTITUIÇÕES ESCOLARES

Coordenação: André Luiz Paulilo (CME/FE/Unicamp)

Local: CEL – sala 14 – piso 2
26/07 – terça feira – (14:00 às 18:00)

A construção da memória da educação da profissional do estudante surdo a partir da construção do léxico terminológico

Vera Lúcia de Souza e Lima
(CEFET-MG)

A questão da diversidade e da responsabilidade social ganha destaque no âmbito escolar do século XXI. Este trabalho apresenta aspectos da educação profissional ainda pouco discutidos no País: a educação profissional do estudante surdo. A construção da memória da educação da profissional do estudante surdo é complexa, pois precisa partir da construção do léxico. Apresenta a importância do léxico terminológico, bilíngue e bimodal – Língua Portuguesa e a Libras – objetivando a profissionalização do estudante surdo. O CEFET-MG vem desenvolvendo, desde 2008, projetos de pesquisa, tendo como bolsistas de iniciação científica estudantes surdos de nível médio. Uma história de apenas oito anos. A escassez do léxico especializado em Libras constitui-se como importante barreira ao progresso do estudante surdo que almeja alcançar níveis acadêmicos superiores. A falta de proficiência em Língua Portuguesa ou em Libras bloqueia em grande parte a possibilidade de comunicação dos surdos. O dicionário de língua geral, em Libras, possui menos de 10.000 verbetes, enquanto o de Língua Portuguesa ultrapassam os 230.000. A legislação que rege a oficialização da Libras é de 2002, portanto, recente no Brasil, nesta medida, a educação do surdo carece de registro institucional na memória escolar.

 

Acervos da educação e da escola em Centros de Memória e Documentação

André Luiz Paulilo
(Faculdade de Educação da UNICAMP)

O propósito de compreender os modos de dar registro histórico para as práticas de formação e ensino anima as reflexões que se seguem. Trata-se de um estudo das maneiras como os centros de memória e documentação da educação organizaram seus acervos sobre a escola e os processos de escolarização. Portanto, não se pretende mais que comparar arranjos documentais, tanto do ponto de vista da sua tipologia quanto da lógica de preservação. Nesse sentido, foi especialmente útil, por um lado, inventariar experiências de arquivamento da escrituração escolar, dos materiais usados pela escola e das pesquisas sobre a escola e a educação. Por outro, distinguir os perfis de organização dos acervos acerca da história e da memória da escola e da educação serviu para relacionar modelos arquetípicos daquilo que tem sido possível realizar. Como resultado, penso ter delineado uma amostragem oportuna para explicitar, problematizar e discutir as diferenças referentes àquilo que os centros de memória e documentação da educação fazem ou à maneira como estão estruturados.

 

Arquivo pessoal de professores: o caso de Júlio César de Mello e Sousa

Claudiana dos Reis de Sousa Morais
(Universidade Estadual de Campinas)

A proposta deste trabalho é apresentar uma pesquisa realizada no arquivo pessoal de Júlio César de Mello e Sousa, o acervo “Malba Tahan”, que se encontra no Centro de Memória da Educação da Unicamp (CME/UNICAMP). Este acervo compreende cerca de 15.000 documentos, distribuídos em treze unidades de arquivamento. Para este trabalho usaremos a primeira unidade que corresponde 56 cadernos de arquivo, com 4010 documentos. Tendo em vista que este trabalho parte de uma pesquisa com o objetivo de entender como os arquivos pessoais ajudam a pensar a carreira do professor, acreditamos que o acervo “Malba Tahan”, que abrange uma grande variedade de documentos, livros e objetos, representa uma fonte de pesquisa com valiosas informações. Para isto, a problemática é distinguir a documentação proveniente do exercício da docência, com a ideia de compreender como estes arquivos pessoais ajudam a pensar sua prática docente e ainda como poderá repercutir na forma como Mello e Souza ensinou. Este trabalho está fundamentado nas perspectivas de análise de Carvalho e Nunes e de Camargo acerca dos arquivos, além das perspectivas de análise da memória trazidas por Le Goff, Nora, Artières e Ribeiro.

 

Educação e cultura no Brasil: Humberto Mauro e o Instituto Nacional de Cinema Educativo

Anderson Ricardo Trevisan
(UNESP)

Os anos de 1930 marcam um período fértil nas discussões sobre a questão da educação no Brasil, uma vez que seria essa uma das chaves de construção da nação. Um dos caminhos trilhados nesse projeto seria associar a educação à cultura, no sentido de propagar a ideia de um caráter nacional. O cinema educativo foi um dos meios utilizados nesse projeto, a partir da criação do Instituto Nacional de Cinema Educativo (INCE), em 1937. Tendo o antropólogo Roquette-Pinto como diretor, o Instituto tinha como tarefa construir uma imagem oficial da nação. Essa “missão” coube especialmente a Humberto Mauro, um dos primeiros cineastas brasileiros, que dentro do INCE criou centenas de filmes. Aqui discutirei as suas Brasilianas, série composta de sete curtas-metragens dedicados à cultura popular, com temas que tratavam do folclore à poesia romântica nacional. A partir dessa institucionalização da memória nacional-popular, que apresentava um caráter essencialmente rural, Humberto Mauro torna-se um dos propagadores de uma visão de nação, criando imagens destinadas especialmente a um público em idade escolar. Nesse sentido, problematizar esses discursos fílmicos é fundamental para que o cinema de Humberto Mauro torne-se uma ferramenta de compreensão das questões educacionais no Estado Novo.

 

Memória política dos movimentos de renovação educacional em instituições primárias de Santa Catarina, 1911-1945: o aspecto híbrido na prática educativa entre o tradicional e o escolanovista

Ana Paula da Silva Freire
(UFSC)
Elison Antonio Paim
(UFSC)

Este estudo se dedica à memória das instituições primárias, considerando elementos históricos influentes na sua organização política, social e cultural. O objetivo é desvelar a memória dos movimentos de renovação educacional e a presença histórica e natureza dos modelos didático-pedagógicos de educação tradicional e a transposição para aqueles vinculados à Escola Nova. O âmbito cronológico é delimitado pelo conjunto de reformas que teve início em 1911 e pelo fim do Estado Novo, 1945, que podem ter contribuído para uma determinada memória política dos movimentos de renovação em instituições primárias de Santa Catarina. A metodologia é embasada em documentos de acervos escolares, do Museu da Escola Catarinense e do Arquivo Público do Estado de Santa Catarina. Os resultados sinalizam a constituição de um processo histórico de produção e legitimação de uma memória escolar peculiar que se expressa no tensionamento entre as práticas educativas historicamente instaladas e as prescrições reformistas do período. Embasam a afirmação de que foi sendo gradativamente instituída uma prática educativa híbrida. E tal hibridismo foi matizado pela simultânea presença do que se classifica como tradicional e do que foi oriundo das propostas escolanovistas.

 

Os Equipamentos dos Cursos Técnicos da Escola Rosa Perrone Scavone – Itatiba – SP, das Décadas de 70 e 80

Anderson Wilker Sanfins
(ETEC Rosa Perrone Scavone)

Esse trabalho busca analisar a história dos equipamentos utilizados nas aulas práticas pelos alunos e professores da Escola Técnica Estadual Rosa Perrone Scavone, localizada em Itatiba, SP, pertencente ao Centro Estadual de Educação Tecnológica Paula Souza. A Escola Técnica entrou em funcionamento em março de 1950, com os cursos práticos profissionais de mecânica, marcenaria e corte e costura, que funcionaram até a década de 70, quando foram criados os cursos Técnicos Industriais. Segundo Granato e Lourenço (2011), o Patrimônio Cultural da Ciência e Tecnologia, do ponto de vista da tutela, encontra-se em situação vulnerável, de abandono, sujeito a arbitrariedade e em risco de danos irreversíveis ou mesmo perda irremediável. A escola conseguiu preservar muitos equipamentos das décadas de 70 e 80, ainda em funcionamento, principalmente dos cursos de Eletrônica e Mecânica, o que nos permite uma visão diferenciada e a possibilidade de enriquecimento das práticas escolares e pedagógicas do ensino profissional, além de contribuir com a memória institucional.

 

Pesquisando uma escola, encontrando uma professora: D. Maria Amélia Jacobina, primeira professora da Escola das Officinas

Adriana Valentim Beaklini
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Analisar o processo de pesquisa que permitiu conhecer a história de vida da professora D. Maria Amélia Jacobina. Durante a elaboração do doutorado, ainda em andamento, sobre o processo de escolarização nas oficinas, localizadas no bairro do Engenho de Dentro/RJ, da Estrada de Ferro D. Pedro II, deparei-me com a primeira professora da escola de primeiras letras deste local. Dois dados chamaram a atenção: primeiro, por ela ser durante vários anos uma das duas mulheres que integravam o quadro de funcionários da Estrada de Ferro. Como a inserção em um meio masculino refletirá em suas ações? E segundo, seu sobrenome, Jacobina. Existia uma relação de proximidade entre a família Jacobina e a família de Rui Barbosa, importante intelectual brasileiro que pensou e teceu propostas sobre a educação brasileira, e depois se uniram aos Lacombe através do casamento. Ambas as famílias eram influentes e tradicionais na política e na educação. As fontes privilegiadas são 36 cartas localizadas na Fundação Casa de Rui Barbosa, escritas por Maria Amélia para seus familiares onde é possível fazer considerações sobre o processo de admissão na escola, a profissão docente e a vida da mulher no século XIX.

 

Reformas de Instrução Pública (Santa Catarina, 1911 – 1942) – balanço de produção e memórias de movimentos de renovação educacional

Carolina Cechella Philippi
(Universidade Estadual de Campinas)

Esta proposta responde à pesquisa de doutorado desenvolvida na Faculdade de Educação da UNICAMP, orientada pelo prof. André Paulilo. Seu objetivo é recuperar o estado da arte sobre a memória dos movimentos de renovação educacional em Santa Catarina entre 1911 e 1942. Para tanto, lista os diferentes entendimentos, mapeia as problemáticas e discute os resultados das compreensões acerca da matéria. Toma como fontes: teses, dissertações e livros, além da documentação obtida no arquivo Público de Santa Catarina (requerimentos, comunicados e minutas); na Biblioteca Pública do Estado (boletins e periódicos educacionais); e no Setor de Obras Raras da Biblioteca da Universidade Federal de Santa Catarina (periódicos e outras publicações). Busca contribuir com os estudos sobre a memória historiográfica de movimentos de renovação educacional e situa a produção bibliográfica acerca das Reformas de Instrução Pública – trabalho útil ao doutorado em curso. Trata-se, pois, de uma revisão bibliográfica retomada para a escrita deste artigo, objetivando a proposição de uma reflexão acerca da memória historiográfica de movimentos de renovação educacional no estado ao longo deste recorte temporal.

 

Local: CEL- sala 14 – piso 2
27/07 – quarta feira – (14:00 às 18:00)

Biblioteca Central PUC-Rio: 50 anos de memória e patrimônio na comunidade

Tatiana dos Santos Rodrigues Laurindo
(PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO RIO DE JANEIRO)

No ano de 2015, a Biblioteca Central (BC) da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) completa 50 anos de existência. O presente trabalho endossa a trajetória desta instituição que tanto contribui para formação acadêmica em várias instâncias. Sua permanência corrobora para produção de conhecimento científico dentro e fora do contexto nacional. Os diversos tipos de suportes informacionais existentes relatam e representam a memória e o patrimônio deste laboratório de produção de conhecimento. Baseando-se na excelência da PUC-Rio, a BC é uma peça primordial neste cenário educacional, o que torna válido e digno descrever sua história apresentando propostas para um futuro eminente. As práticas biblioteconômicas têm sofrido inovações e adaptações mediante as novidades tecnológicas do século XXI, o que aponta a necessidade de realizar diagnósticos das práticas ligadas à preservação dos diversos tipos de suportes informacionais. Para transcrição histórica da BC foram pesquisados dados documentais: bibliográficos, fotográficos e também relatos orais em parceria com o Núcleo de Memória da PUC-Rio. Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho é resgatar valores históricos e a identidade da BC PUC-Rio, no período de 1965 a 2015.

 

Centros de Memória: Um estudo de multicasos na UFMG

Clausi Maria do Porto Gomes
(UFMG – Escola de Engenharia)

O presente artigo, desenvolvido por meio de pesquisa bibliográfica, documental, consulta a sites, folders, documentos diversos e visitas aos onze centros de memória da UFMG, apresenta um apanhado teórico sobre a evolução do conceito de informação para a Ciência da Informação, bem como a análise de como os centros de memória da UFMG tratam este conceito e se estão levando em conta aspectos como função social da informação e impactos culturais em seu trabalho no dia a dia. Questiona-se, também, se os centros de memória da UFMG são realmente centros de memória em sua concepção e aplicação e conclui-se que: (i) há uma particularização das experiências dos centros de memória e essa particularização pode ser resultado de uma ausência de política institucional para os referidos centros; e (ii) poucos centros de memória da UFMG estão levando em conta os impactos culturais e a função social da informação em seu trabalho cotidiano de divulgação.

 

Estudo histórico-social da gestão dos diretores da FCM/Unicamp, 1963 – 2014: análise dos fundamentos teóricos e metodológicos da pesquisa

Ivan Luiz Martins Franco do Amaral
(FCM/Unicamp)

A proposta deste trabalho é apresentar a metodologia da pesquisa iniciada neste ano, que se refere ao estudo histórico-social da trajetória das gestões dos diretores da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) desde 1963 a 2014. A pesquisa remete ao campo da sociologia das organizações e da gestão das instituições, e o estudo busca conhecer as ações administrativas dos gestores da instituição. Busca-se cotejar a gestão com as questões referentes ao ensino superior das ciências da saúde, com dados biográficos dos diretores, e o momento histórico da instituição, no período em que desenvolveram suas atividades. A FCM foi criada em 1963 e nestes 50 anos apresentou diferentes aspectos em relação a sua estrutura administrativa e curricular, tendo passado por ela 14 gestões. Trata-se de um estudo sócio histórico a partir da sua administração. O material a ser analisado ao longo desta pesquisa compreende: revisão bibliográfica sobre as políticas de ensino superior e médico no Brasil entre 1963-2014; documentos sobre a vida funcional e memorial dos diretores, relatórios de gestão, planos e atos dos diretores. A análise toma como referência a “análise do discurso” de Michel Foucault.

 

Histórias e Memórias do Instituto de Ciência e Tecnologia de São José dos Campos: Protagonismo e Desafios

Zuleika Stefânia Sabino Roque
(Instituto de Ciência e Tecnologia UNIFESP)

Sabe-se que a opção pela instalação do Instituto de Ciência e Tecnologia (ICT) no município de São José dos Campos deveu-se ao fato de que esta ao longo do século XX esforçou-se em cunhar uma tradição e vocação na área de tecnologia. Nesta cidade estão localizados renomados institutos de pesquisa em ciência e tecnologia, como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), o Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e o Departamento de Ciência e Tecnologia Aeroespacial (DCTA); além de empresas como a Embraer, General Motors, Petrobras e um dos Parques Tecnológicos mais ativos do Estado de São Paulo. No entanto, o momento histórico no qual emergiu o ICT e sua Proposta Pedagógica ainda são assuntos pouco conhecidos pela comunidade e merecem atenção. O presente trabalho pretende socializar a trajetória de pesquisa que resultará na constituição de um Centro de Documentação Histórica, não só organizando sistematicamente suas fontes como valorizando documentos humanos, a partir da história oral, convidando vários sujeitos históricos a fazerem parte desta empreitada, justificando-se assim o emprego do plural no título.

 

Memória e Educação no Brasil Oitocentista: O caso do Liceu Literário Português

Alexandro Henrique Paixão
(Faculdade de Educação/Unicamp)

Em 1868 foi fundado, por uma fração da comunidade de emigrantes portugueses do Rio de Janeiro, o Liceu Literário Português. Idealizado quatro anos antes por membros do Conselho do Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro, a escola deveria oferecer educação à comunidade e preparar os estudantes para o mercado de trabalho em desenvolvimento. O Liceu educou crianças, jovens e adultos durante 100 anos, quando foi fechado no período da ditadura militar. O objetivo desta pesquisa é apresentar os anos de formação do Liceu, os agentes envolvidos nesse processo, a construção do prédio da escola, a preparação do currículo escolar, a relação dos docentes, a matrícula dos estudantes etc., algo que ocorreu entre os anos 1868 e 1884. Trata-se de um trabalho que busca resgatar parte da memória educacional brasileira, com a intenção de retrabalhar alguns caminhos da formação das camadas populares do Brasil Oitocentista.

 

Memórias de leitores na biblioteca do Instituto de Educação “Carlos Gomes”

Cássia Aparecida Sales Magalhães Kirchner
(FE/Unicamp)

O estudo aqui desenvolvido busca apreender os traços e contornos das memórias de leituras na biblioteca do Instituto de Educação “Carlos Gomes” a partir dos relatos de ex-alunos, estudantes entre as décadas de 1950 e 1970. O trabalho enfoca as relações entre história da educação, memória e práticas de leitura abordando as três dimensões presentes nos considerados lugares de memória. A partir da dimensão material foram considerados os propósitos presentes na constituição das bibliotecas dos Institutos de Educação; os relatos trouxeram as experiências vivenciadas por leitores possibilitando tratar seu caráter simbólico e a dimensão funcional foi abordada a partir das relações estabelecidas com o lugar, suas imagens e objetos. Pautadas nos trabalhos de Maurice Halbwachs, Pierre Nora e Paul Ricoeur as observações desenvolvidas possibilitaram identificar o deslizamento ocorrido entre a noção de lugar de memória e o processo de patrimonialização da biblioteca desta instituição escolar.

 

Os Vícios do ofício: considerações sobre escrita autobiográfica em memoriais acadêmicos de historiadores (UNICAMP, 2000-2013)

Wilton C. L. Silva
(UNESP)

Buscamos elencar alguns marcadores discursivos que se fazem presentes e/ou ausentes de forma recorrente entre alguns memoriais acadêmicos dos concursos de livre-docência e titularidade no Departamento de História da UNICAMP, entre 2000 e 2013. Tais documentos são produzidos para satisfazer exigências institucionais nos concursos públicos de progressão na carreira docente, com o autor descrevendo sua trajetória, com ênfase em suas atividades de pesquisa, publicações em periódicos indexados, atividades em cursos de pós-graduação, palestras e material didático qualificado produzido, cursos de extensão e demais atividades pertinentes à sua área de atuação. Além de instrumento de avaliação do mérito acadêmico do candidato também se apresenta como um dos raros momentos no qual é legítima a fala do intelectual sobre si mesmo, abordando opções, práticas, vivências e memórias, enquanto “experiência”. Assim, entendemos o memorial acadêmico como uma forma de escrita autobiográfica que é condicionada por uma tradição intelectual e institucional, na qual diferentes níveis de subjetivação afirmam uma persona, delimitada, entre outros aspectos, pela proeminência de modelos narrativos que enfatizam a formalidade (cartesianos) ou que adotam maior subjetividade (hermenêuticos).

 

Uma análise prosopográfica do perfil dos diretores da escola Politécnica de São Paulo (1893 a 1943)

Juliana Fernandes Lança
(Universidade de São Paulo)

Esta comunicação é parte de uma pesquisa que investigou as trajetórias dos primeiros diretores da escola Politécnica de São Paulo, do período de 1893 a 1943, e evidenciou qual foi o papel que estes engenheiros desempenharam na sociedade da época. O objetivo foi identificar qual capital econômico e cultural foram necessários para que assumissem tal posição. O objetivo específico foi apresentar uma análise prosopográfica do perfil dos onze primeiros diretores da Poli e seu fundador, os quais representam a autoimagem criada da instituição e do engenheiro ideal, além da função que deveriam assumir perante a sociedade. Durante a primeira metade do século XX as faculdades de medicina, de direito e as escolas politécnicas se tornaram as principais instituições de formação da elite. Na engenharia, foi possível perceber que, o capital intelectual adquirido por esses egressos proporcionou-lhes oportunidades no campo profissional e político. Metodologicamente pautou-se em análises documentais de diferentes publicações e históricos de funcionários, obtidos no arquivo da Escola Politécnica. Como resultados, a partir do quadro prosopográfico, percebeu-se que as trajetórias são muito semelhantes, estando ligadas principalmente à origem familiar, formação acadêmica e envolvimento político.

 

Local: CEL – sala14 – piso 2
28/07 – quinta feira – (14:00 às 18:00)

A constituição material da escola primária paulista: um estudo a partir dos Inventários de Bens Escolares (1889-1914) reunidos no Arquivo Público do Estado de São Paulo

Flávia Rezende
(FE – Unicamp)

Este trabalho tem como objetivo apresentar a pesquisa realizada no Arquivo Público do Estado de São Paulo, que tomou como fonte documental os inventários de bens escolares paulistas lá reunidos. Os inventários totalizam 156 documentos correspondentes ao período de 1889 a 1914. Por meio desta pesquisa foi possível examinar como a escola primária paulista estava se constituindo, do ponto de vista da sua materialidade, entre os anos de 1889 a 1914. A pesquisa possibilitou perceber como tais documentos podem ser vistos como fonte para a História da Educação, uma vez que, possibilitam uma aproximação dos investimentos estatais com vistas à dotação material dessas escolas naquele período. Vale destacar aqui o fato desse trabalho ser um desdobramento da pesquisa de iniciação científica, realizada com o apoio do CNPq, intitulada “Manuais escolares de Higiene para a infância paulista”, na qual seu objetivo era encontrar indícios sobre manuais escolares de higiene destinados à infância paulista, no final do século XIX e início do século XX, tendo como uma de suas fontes documentais os inventários de bens escolares.

 

A interiorização da assistência institucionalizada à infância no estado de São Paulo: relações entre a obra de Anália Franco e o Asylo de Orphans Anália Franco de Ribeirão Preto

Carla Cristina Johansen
(Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto)

A Primeira República no Brasil foi marcada por mudanças econômicas e sociais. Nesse contexto, o município de Ribeirão Preto, no interior paulista, tornou-se um centro de referência para a cultura cafeeira em ascensão, com repentino aumento demográfico. Surgiram, nesse período, ações no campo da assistência à infância desvalida movidas por Anália Franco e pela Associação Feminina Beneficente e Instrutiva, por ela fundada e presidida. Embora suas práticas estivessem concentradas na capital paulista, existiram instituições no interior do estado com formas de organização correspondentes às paulistanas. Assim, a presente pesquisa objetiva analisar a construção de ações de assistência à infância pobre e abandonada no interior paulista, no início do século XX, por meio do estudo de caso do “Asylo de Orphans Anália Franco”, de Ribeirão Preto, criado em 1917. Pela análise de fontes documentais do asilo e da AFBI, busca-se compreender o real papel de Anália Franco e de sua possível atuação precursora – se não influenciadora – na interiorização de determinadas formas de assistência à infância no estado de São Paulo. Dados já coletados apontam a participação direta de Anália e da AFBI na criação e atuação da referida instituição, assim como em outras localidades do interior paulista.

 

Desafios e caminhos da memória: o acervo e a extinção da Escola Estadual Professor Antônio Fernandes Gonçalves Campinas/SP

Rayane Jéssica Aranha da Silva
(Prefeitura Municipal de Campinas)

O presente trabalho tem como foco a discussão dos desafios do percurso de analise da história da Escola Estadual Antônio Fernandes Gonçalves -Campinas/SP e sua arquitetura. A instituição cuja pesquisa desenvolve-se foi planejada e construída no final da década de 1960 e teve sua extinção promulgada por meio de um processo de municipalização. A pesquisa no acervo da escola analisou os documentos da instituição, os usos e modificações do espaço escolar relacionando-os com as reformas de ensino e suas respectivas políticas curriculares. De acordo com Viñao (2001) os lugares e espacialidades da escola são elementos significativos na história das instituições. A análise das diferentes diagramações do interior da instituição revelou a importância do cruzamento de dados na composição das fontes que possibilitaram a analise da trajetória da escola. Dessa forma o estudo evidenciou a importância da integração de fontes de diferentes arquivos no subsídio da pesquisa histórica da instituição escolar e sua arquitetura.

 

Ensino de Matemática no Liceu maranhense através dos arquivos ludovicenses

Waléria de Jesus Barbosa Soares
(Universidade Estadual de Campinas)

As histórias que envolvem o ensino de uma disciplina podem contribuir para o resgate da memória de uma instituição escolar. Através desta concepção, pretende-se com este artigo, apresentar como foi constituído o ensino de matemática no Liceu Maranhense no período oitocentista. A metodologia qualitativa de abordagem histórica toma como fontes primárias as leis e regulamentos educacionais da província do Maranhão, além de provas escolares e livros para o ensino de matemática, utilizados nesta instituição escolar, no período investigado. Todos esses documentos foram encontrados na Biblioteca Pública Benedito Leite, no Arquivo Público do Estado do Maranhão e no Arquivo do Liceu Maranhense. Constatamos que, mesmo com toda sua organização e disciplina, observadas por meio dos documentos, o ensino de matemática no Liceu Maranhense abarcou uma população mínima durante o século XIX, destinada aos pouco letrados e endinheirados que dispunham de tempo livre para os estudos, o que acabava por afastar os menos favorecidos.

 

Grupo Escolar Rural de Butantan: Arquivos sobre o ensino rural na cidade de São Paulo (1930 – 1940)

Ariadne Lopes Ecar
(Universidade de São Paulo)

Este trabalho faz parte da pesquisa de doutorado em andamento, a qual procura problematizar a implementação de políticas públicas para o ensino rural no Estado de São Paulo, iniciando a experiência com o Grupo Escolar Rural de Butantan – GERB, criado em 1933. A ideia de se fazer uma escola rural na cidade de São Paulo levava em consideração alguns aspectos. O primeiro se deve ao fato de já existir um grupo escolar funcionando dentro do Instituto Butantan, que havia sido escola isolada criada em 1908. O segundo, pelo Butantan ser um distrito afastado do Centro da Capital que estava em progressiva urbanização, e por ser considerado zona rural ainda na década de 1930. O terceiro aspecto, que condensa os anteriores relaciona-se com a experiência de uma professora pioneira chamada Noêmia Saraiva de Matos Cruz, que implementou sua proposta de ensino rural, como uma espécie de modelo para outras escolas no Estado de São Paulo. O arquivo utilizado para a pesquisa pertenceu a esta professora e hoje integra o acervo do Núcleo de Documentação do Instituto Butantan, e tem sido um referencial para a compreensão de como ocorreu o ensino rural em São Paulo e a relação do GERB com o bairro e a cidade.

 

Memória de escolas em núcleos estrangeiros no Estado de São Paulo

Silvia Vallezi
(UNICAMP)

Este estudo analisa a construção da memória da escola e de seus docentes a partir das publicações de notícias acerca da nacionalização e assimilação dos estrangeiros no Estado de São Paulo nos anos de 1936 de 1937. Essas notícias decorreram das visitas de Almeida Júnior, então diretor do ensino do Estado, nas escolas de núcleos estrangeiros. O diretor entendia as inspeções às escolas e delegacias do ensino como parte intrínseca de seu trabalho. As maneiras pelas quais a imprensa noticiou essas visitas, além dos comentários e matérias referentes ao assunto da nacionalização, possibilitam ver as controvérsias, as preocupações e a compreensão de Almeida Júnior acerca da questão da assimilação do estrangeiro, principalmente dos japoneses no interior e no litoral do Estado. As minúcias e detalhes do cotidiano expostos no jornal, permitem apreender vestígios do passado e podem fornecer elementos preciosos para uma outra forma de reconstituir a memória da escola.

 

O Curso Prático Profissional de Orlândia, de 1948 a 1953

Maria Teresa Garbin Machado
(Centro Estadual Paula Souza- CEETPS)

Este trabalho apresenta interfaces do Curso Prático Profissional, embrião da atual Escola Técnica Estadual Professor Alcídio de Souza Prado, da cidade de Orlândia, localizada no interior paulista. Instalado em 1949, ofereceu cursos de iniciação profissional ordinários e extraordinários para meninos e meninas após o curso primário, que proporcionavam rápida inserção no mercado de trabalho, porém sem possibilidade de continuidade de estudos. Os cursos, principalmente de Ajustadores Mecânicos e de Serviços Domésticos, permaneceram na escola até 1964, mesmo com as mudanças de denominações para Escola Artesanal (1954) e Escola Industrial (1963). As fontes primárias visitadas foram documentos escolares como livros de admissão, matrículas e de resultados finais, entre outros, que permitiram a construção do perfil da clientela escolar, e de aspectos rotineiros, como os voltados às exposições de trabalhos e formaturas dos alunos, nos finais de ano. Diante do universo investigado, e tendo como arcabouço teórico a História Cultural, a expectativa foi voltada à compreensão da memória escolar, objetivando desta forma uma reflexão a respeito da memória e do patrimônio histórico educativo orlandino.

 

Vitrais das escolas e dos trabalhadores da educação em Ouro Preto do Oeste/RO

Ivone Goulart Lopes
(UNEOURO-RO)

Este artigo versa sobre uma pesquisa iniciante que tem como objeto a institucionalização da escola primária em Ouro Preto do Oeste/RO, seus sujeitos e procedimentos pedagógicos. Em três períodos: 1º) de 1970-1980, início dos projetos implantados pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), vários contingentes populacionais provenientes das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste do Brasil deslocaram-se para a região, contribuindo para sua prosperidade. O segundo período equivale a fundação do município: 16/06/1981 até 1996 com a publicação da LDB 9.394/96 e a terceira etapa de 1997-2013, momentos fortes do processo de institucionalização do ensino municipal. O projeto se propõe também a estudar a construção da identidade profissional dos professores da educação básica, na sua articulação com o processo de institucionalização desse nível de ensino no Brasil com o foco na cultura escolar. Construção de uma Linha Histórica e um Vídeo. O referencial teórico e metodológico é a História e a Memória das Instituições Educativas, a Formação de Professores.

 

 

 

Ementa do GT:

Já há algum tempo que os estudos sobre a memória alcançaram as instituições escolares. Atualmente não faltam referências de pesquisa para o estudo da memória docente, da memória institucional de diferentes escolas ou da memória política dos movimentos de renovação educacional. A discussão dos resultados dos mais diferentes esforços de compreensão da memória que temos da escola, do magistério e dos processos de escolarização é o objetivo proposto por este Grupo de Trabalho. Assim, a ideia de refletir a respeito dos fundamentos teóricos e metodológicos tanto da pesquisa com a memória escolar e as tradições da profissão docente quanto das estratégias de organização de acervos escolares e da educação pretende reunir diferentes perspectivas acerca das relações entre memória, história e formação escolar. Por outro lado, também as políticas de memória conduzidas no âmbito de Memoriais e Museus Escolares tem demandado uma reflexão especifica ultimamente. De modo que, atualmente, tem interessado compreender os modos pelos quais o poder público, a universidade e as próprias instituições escolares desenvolvem políticas de memorialização das suas ações. Nesse caso, o estudo da memória escolar brasileira e das políticas de sua institucionalização permite problematizar mais que a história da educação, as maneiras da própria sociedade atribuir sentido às suas instituições educativas. Com essa proposta busca-se então contribuir para o debate em torno do patrimônio histórico-educativo e acadêmico-científico com uma reflexão sobre as políticas da memória e suas práticas de institucionalização na escola, na universidade e nas Secretarias de Educação de estados e munícipios.