VIII Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp

GT8 – MEMÓRIA, HISTÓRIA PÚBLICA E MIGRAÇÕES

Coordenação: Ricardo Santhiago (FCM-Unicamp), Olga Von Simson (CMU-Unicamp) e Valéria Barbosa de Magalhães (EACH-USP)

Local: CEL – sala 08 – piso 1

28/07 – quinta feira – (14:00 às 18:00)

Alimentação e memória árabe na área central da cidade de São Paulo: uma reflexão contemporânea

Alfredo Ricardo Abdalla
(Hotec)
Maria Luiza Bullentini Facury
(Hotec)

Este estudo da hospitalidade e comensalidade árabes na cidade de São Paulo centra-se em aspectos que, hoje, talvez nem sejam notados pelo brasileiro contemporâneo, que absorveu e mesclou a cultura árabe a seus costumes. Procura verificar a percepção do paulistano comum ao passar pelo centro velho de São Paulo, que se alimenta de acepipes árabes da mesma forma e com as mesmas intenções de quem se alimenta de fast food, sem perceber ou se dar conta dos movimentos históricos e culturais vividos neste centro velho em relação à afirmação da imigração árabe nesta cidade e neste país. Demarcou-se tal local por ser o epicentro de toda a imigração árabe na cidade. Truzzi (1991; 2009) relata a formação deste espaço como ícone de manifestação da etnia árabe. Para fundamentar as várias etnias e seus movimentos migratórios, que hoje ocupam o centro velho, descaracterizando-o, usou-se PAIVA (2011) e NORA (1993) para se identificar e estudar os lugares de memória e sua dinâmica para com o paulistano.

 

A educação dos trabalhadores e trabalhadoras do PCB de 1920 a 1950

Lilian Zanvettor Ferreira
(Faculdade de Educação – Unicamp)

A presente pesquisa buscou, através da inserção em fontes documentais de natureza variada, compreender os espaços de educação da classe trabalhadora paulistana entre 1920 e 1950, mais precisamente entre os trabalhadores e trabalhadoras militantes do Partido Comunista Brasileiro (PCB). Foram consultados os números dos jornais colaborativos “A Classe Operária”, cartas, fotografias, memórias escritas de velhos militantes, assim como as memórias orais de seus filhos e netos. A inserção nos dados sugeriu que os espaços de participação política foram também compreendidos como espaços de educação e de resistência formativa. Para a classe operária da cidade de São Paulo do inicio do século, prioritariamente imigrante, sujeitas a precárias condições de vida e trabalho, o ensino formal não era uma realidade. A educação oficial começa a dar os primeiros passos no ideário de universalização, porém ainda é restrita e não atinge a todos. Como forma de resistência popular, no entanto, a educação surge por outros vieses: o partido, o sindicato, os jornais colaborativos, o ensino mutuo, as agremiações populares.

 

A Divisa Internacional Brasil-Bolívia, no Sudoeste de Mato Grosso: um estudo sobre a territorialidade na fronteira

Jucineth Glória Espírito Santo Vital de Carvalho
(UFSCAR)

O presente texto resulta de um processo de pesquisa ainda em curso, que objetiva identificar e estudar as principais questões de cunho socioeconômico, político e geopolítico presentes num trecho da fronteira física Brasil-Bolívia, na porção sudoeste do estado de Mato Grosso. A região de estudo denomina-se Ponta do Aterro, bem como, parte de suas cercanias, localiza-se no município de Vila Bela da Santíssima Trindade, entre os municípios de Pontes e Lacerda e Porto Espiridião, dentro da Amazônia legal. O recorte temporal do estudo abrange o período de 1940-2012. A investigação se propõe a tecer uma análise sociológica e discutir a questão da territorialidade social construída pelos sujeitos fronteiriços na região delimitada, composta por: trabalhadores rurais, pequenos produtores, fazendeiros e os povos tradicionais, mestiços, denominados “Chiquitano”. Os resultados preliminares da investigação apontam que a região configura-se num espaço de confrontos e disputas, de enfrentamentos nos dilemas cotidianos, que se fazem presentes nas relações sociais e nos modos de ser e viver daqueles sujeitos.

 

A heterogeneidade Brasileira no Sul da Flórida

Valeria Barbosa de Magalhães
(Universidade de São Paulo)

A imigração brasileira para o Sul da Flórida apresenta algumas características específicas em relação a outras partes dos Estados Unidos. Partindo da premissa de que a imigração de brasileiros para o exterior é um fenômeno heterogêneo, o caso do Sul da Flórida desorganiza tudo o que se sabe sobre brasileiros na América e põe em cheque reflexões generalizantes sobre a possibilidade de existir um único “ser brasileiro” nos Estados Unidos. Esta apresentação visa apresentar algumas características gerais da imigração brasileira para essa região dos Estados Unidos, descrevendo sua heterogeneidade. Os dados são parte do projeto “O Brasil no Sul da Flórida: diversidade e memória”, financiado pelo CNPq e coordenado por Valéria B. Magalhães, no GEPHOM/USP. A pesquisa é baseada em fontes diversas, tendo por método principal a história oral, com ênfase nos aspectos da memória coletiva da imigração.

 

Arquivos, Memória e o Ensino Superior no Campo de Públicas

José Renato de Campos Araújo
(Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH-USP)
Agnaldo Valentin
(Escola de Artes, Ciências e Humanidades – EACH-USP)

O Brasil durante a última década viu emergir um número grande cursos de graduação com denominações das mais variadas – Gestão Pública, Gestão de Políticas Públicas, Políticas Públicas entre outras, além da denominação mais tradicional – Administração Pública. Em comum, estes cursos buscam qualificar quadros técnicos para o Estado brasileiro. Com isso, este artigo tem por objetivo fazer uma reflexão sobre como o papel dos Arquivos Públicos e a questão da Memória do Estado inserem-se (ou não) nestas novas formatações de cursos de graduação, que vêm formando Gestores Públicos que com certeza terão contato direto com questões relativas à Gestão Documental, Arquivos Públicos, Memória do Estado entre outras. Nosso objetivo último é fazer uma reflexão sobre como as questões relativas a Arquivos e Memória não são percebidos como parte do conhecimento necessário para a formação de Gestores e/ou Administradores Públicos no Brasil, demonstrando como a Gestão de documentos e arquivos nunca foram pensadas como centrais para a Gestão Pública brasileira, o que sem dúvida tem reflexos diretos na construção destes cursos de graduação. Por fim, pretendemos apontar como os Arquivos e a Memória do Estado precisam se deslocar para o centro da formação dos alunos de graduação do Campo de Públicas.

 

Os Refugiados da Segunda Guerra e a perspectiva dos Ritos de Passagem: “Você era um Estranho e o Brasil o Acolheu?”

Guilherme dos Santos Cavotti Marques
(UERJ – FFP)

Este trabalho tem por objetivo analisar o processo imigratório dos refugiados da Segunda Guerra Mundial que optaram pelo Brasil enquanto país de destino e passaram pela Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores. Nossa análise estará em estreito diálogo com a teoria proposta por Arnold Van Gennep, qual seja, “os ritos de passagem”, procurando compreender o processo imigratório como uma longa e complexa marcha de transitoriedades, que indubitavelmente, refletirá na identidade do “ser transicional”, do ser imigrante. Sem perder de vista o contexto mais amplo no qual tais deslocamentos se processaram, enfatizamos em nosso estudo o elemento particular, ou seja, as contribuições trazidas por aqueles que vivenciaram tal processo, que através da história oral, demarcam as singularidades que permeiam a ação de imigrar.

 

Pés de obra na Europa: experiências e memórias de futebolistas brasileiros negros

Marcel Diego Tonini
(Universidade de São Paulo)

Esta pesquisa propõe um estudo sobre o fenômeno do racismo e da xenofobia na sociedade europeia por meio das histórias de vida de alguns futebolistas brasileiros negros que atuaram no continente europeu a partir da década de 1960. Procurei entrevistar aqueles atletas que tiveram enorme sucesso na carreira, que jogaram pelos grandes clubes do futebol brasileiro, que disputaram as maiores competições europeias e que vestiram a camisa da Seleção Brasileira, inclusive em Copas do Mundo. São profissionais que atuaram em distintas épocas (da década de 1960 até hoje) e países (Inglaterra, Espanha, Alemanha, Itália, França, entre outros). Através da constituição de documentos inéditos, em cujos textos estão expressas as experiências e as memórias desta comunidade de destino, almejo relacionar o problema da negritude no futebol em vista de um contexto social mais amplo, o qual tem como pano de fundo a globalização e as migrações internacionais. Selecionarei, nesse sentido, alguns temas recorrentes nas narrativas, os quais dizem respeito à própria trajetória de vida e profissional, ao movimento migratório e evidentemente ao racismo e à xenofobia.

 

A dimensão virtual do conjunto: explorando o uso de plataformas de jogos para o registro e popularização do patrimônio edificado

Guilherme Rodrigues Bruno
(Universidade Federal da Fronteira Sul)
Karolyne Viebrantz
(Universidade Federal da Fronteira Sul)

O presente artigo relata o desenvolvimento da pesquisa “Processo inventarial do patrimônio edificado rural do Alto Uruguai gaúcho: inventários de patrimônio contra as invenções de memórias”, desenvolvido com apoio do Programa Institucional de Bolsas de IC da UFFS, Campus Erechim (RS). Nele, trabalha-se com objeto de estudos composto por edificações religiosas e estruturas industriais obsoletas, localizadas na zona rural das cidades da Região do Alto Uruguai, norte do Rio Grande do Sul, utilizando como método de registro a modelagem computacional interativa, por meio do software para desenvolvimento de jogos, recentemente tornado de livre acesso, “Unreal Engine”. O objeto complementa o patrimônio urbano, por serem lugares de memória chave na compreensão de todo o processo de ocupação humana, no choque entre diferentes fases, sucedidas num curto recorte de tempo. O método dá conta da necessidade de registrar, visualizar e tornar atraente a apropriação desse conjunto patrimonial e sua história. Avaliou-se que um livro, pelo mais bem ilustrado e inteligentemente diagramado que fosse, pela sua linearidade e fixação, não conseguiria transmitir a noção de conjunto dessas construções, que evoluíram no tempo, esparsas por um território rural amplo e de difícil acesso.

 

 

 

Ementa do GT:

O GT propõe um espaço privilegiado para a discussão de pesquisas que se refiram às possíveis relações entre os temas da “memória” e da “imigração”. Por um lado, pretende-se fomentar um debate que recupere processos migratórios graças às metodologias qualitativas que se valem da oralidade e da visualidade. Por outro, visa-se propiciar apresentações que nos tragam os resultados dessas investigações para serem discutidos quanto ao seu conteúdo e também quanto à metodologia mais adequada a ser empregada em sua realização. Valoriza-se a preocupação com a devolução dos resultados aos grupos pesquisados, que devem possibilitar processos de conscientização e de empoderamento de tais grupos.

Bibliografia:
Lang,A.B.S.G., Campos, M.C.s de S.C. & Demartini, Z.de B.F. História Oral e Pesquisa Sociológica: a experiência do CERU. S.Paulo, 1998, Humanitas, 37 p.
Magalhães, Valéria; Santhiago, Ricardo. Japoneses, brasileiros e judeus: A história oral nos estudos de imigração no Brasil. Revista Tempos Históricos. V. 19, n 1, 2015. p. 461-480.
Simson, O.R.M. von. História Oral, Memórias Compartilhadas e Empoderamento: um balanço de experiências de pesquisa. Texto apresentado em simpósio realizado na Universidade de Concórdia no Canadá em 2008.
Simson, O.R.M. von & Giglio, Zula. A arte de recriar o passado: história oral e velhice bem sucedida. In NERI, A.L. (org) Desenvolvimento e Envelhecimento: Perspectivas Biológicas, Psicológicas e Sociológicas.Campinas (SP) Papirus; 2001 (Coleção Vivaidade)
Simson, O.R.M. von. Imagem e Memória In Samain, Etienne (org.) O Fotográfico. Ed. Hucitec/ SENAC Ed. S.Paulo, 2005, 2ª. Ed. pp 19 a 32
Simson, O. R.M. von. Diversidade Sócio-Cultural, Reconstituição da Tradição e Globalização: os teuto-brasileiros de Friburgo/Campinas. In: Famílias em São Paulo: Vivências na Diferença. TEXTOS Ceru, Série 2, no. 7m 1007, Ed Humanitas/CERU.pp 63 a 76
Thomson, Alistair. Histórias (co) movedoras: História oral e estudos de migração. Rev. Bras. Hist., São Paulo, v. 22, n. 44, 2002.