VIII Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp

GT7 – MEMÓRIA E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL

Coordenação: Aline Carvalho (Pesquisadora – Nepam-Unicamp) e Maria de Fátima Guimarães (PPG em Educação-CDAPH-USF)

Local: sala CEL6 – piso 1
26/07 – terça feira – (14:00 às 18:00)

A memória mora ao lado: desenhando um projeto de educação patrimonial e mediação cultural com a vizinhança do Arquivo Público do Paraná

Maria da Graça Simão
(Departamento Estadual de Arquivo Público do Paraná)

Uma sociedade em permanente mudança exige que a atuação dos arquivos se firme nessa própria mudança, sempre procurando manter um papel socialmente interveniente. Uma unidade informacional governamental como o Arquivo Público do Paraná possui um vasto potencial educativo e cultural que pode e deve ser explorado em diferentes práticas, enredadas nas interfaces entre memória, patrimônio e acervos documentais. Conhecido na comunidade acadêmica, mas desconhecido na vizinhança de seu próprio entorno, o Arquivo buscou formas de se aproximar deste público diversificado. A abertura do Arquivo ao meio que o circunda, e a sua relação orgânica com o contexto social que lhe dá vida, provocou a necessidade de elaborar e estabelecer relações e conceitos para dar conta deste processo. Numa perspectiva transformadora, “se sentir em um lugar” é um modo de pertença ao mundo e uma condição para a existência e resistência neste mundo. O Arquivo, antes um espaço indiferenciado, transforma-se em “lugar” na medida em que o conhecemos melhor e o dotamos de valor. Este trabalho busca, pela educação patrimonial e mediação cultural centrada no patrimônio documental, desencadear um processo ativo de produção de novos conhecimentos, exercício da cidadania e apropriação da cultura, na qual ele se insere.

 

Conhecimento e Afeto, o Museu Hoje: Programas Educativos do Museu Republicano

Aline Antunes Zanatta
(Universidade de São Paulo)

O Museu Republicano foi inaugurado pelo Presidente do Estado de São Paulo, Washington Luis Pereira de Sousa, a 18 de abril de 1923 e desde então, subordinou-se administrativamente ao Museu Paulista (Museu do Ipiranga) que, em 1934 tornou-se Instituto complementar da recém-criada Universidade de São Paulo e a ela se integrou em 1963. Desde sua inauguração o acervo do Museu Republicano “Convenção de Itu” é constituído por objetos, documentação textual e iconográfica relacionados à Primeira República e História Regional. O processo de curadoria desses acervos é realizado por docentes, especialistas e técnicos, cuja finalidade é cuidar do acervo, disponibilizar instrumentos para pesquisa e desenvolvimento de projetos, além de subsidiar as ações, atividade e programas educativos. Ao reconhecer o potencial do Museu enquanto “laboratório da história”, apresentarei os resultados obtidos nestes 10 anos de trabalho junto ao educativo do Museu Republicano e a comunidade de Itu, articulando uma reflexão entre a produção de conhecimento e diversas formas possíveis de apropriação do espaço museal.

 

Educação patrimonial e cidadania: discutindo multiculturalismo em espaços museais

Alyne Mendes Fabro Selano
(UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO)

Pretendemos discutir a dialogia entre Multiculturalismo e Educação Patrimonial, na tentativa de compreender as tessituras dessas esferas diante das demandas sociais que apresentam questões latentes a respeito de identidade e diferença na formação cidadã. Pretendemos analisar como o Museu Histórico Nacional, localizado no Centro do RJ trata a questão multi/intercultural e destacar a relevância dessa discussão quando se pretende utilizar espaços não-formais para educar para a cidadania. Propomos, portanto, a reflexão sobre o que esse patrimônio representa? Quais são os discursos imbricados em seu espaço? A que tipo de cultura se refere? E num panorama de experiência educacional, nos perguntamos: será que todos os alunos são capazes de se sentirem representados nesse espaço? Para analisar esse cenário e criar condições para que os alunos, enquanto cidadãos em formação, identifiquem esse tipo de dominação e pressionem pela valorização de sua própria cultura, é primordial que se estude e coloque em prática o multiculturalismo crítico, para que se garanta o reconhecimento das várias culturas imbricadas num mesmo contexto social e provoque no aluno, através de ações pedagógicas a sensibilização necessária para que ele se reconheça como ser histórico e se torne atuante na sociedade.

 

Entretecendo Memórias e Histórias da/na Ilha de Santa Catarina

Elison Antonio Paim
(UFSC)

O projeto de pesquisa “Escola e patrimônio cultural: entretecendo memórias e histórias da/na ilha de Santa Catarina” financiado pela Fundação de Amparo a Pesquisa de Santa Catarina (FAPESC) entrecruza cidade, memória, patrimônio, educação patrimonial e ensino de História. Investigamos os diferentes saberes, fazeres e experiências amalgamadas na produção do conhecimento histórico escolar; bem como buscamos identificar como a cidade, as memórias e os patrimônios são agenciados na produção dos saberes escolares a partir da investigação do trabalho docente em instituições públicas de educação básica. Pretendemos ampliar o campo de pesquisa sobre o ensino de História, procurando identificar o conjunto de saberes que formam a cultura escolar e em que medida as políticas oficiais, os projetos dos professores, os livros didáticos, as práticas docentes e as políticas públicas da educação se aproximam ou se distanciam da cidade, das memórias e dos patrimônios. Trabalhamos concomitantemente em múltiplas frentes para a coleta das informações documentos e entrevistas. Os documentos e Políticas Públicas de Educação que expressam orientações para o trabalho com as temáticas da pesquisa. Entrevistas com os professores e as professoras das escolas. Análise de materiais didáticos.

 

Identidade histórica: alfabetização, memória e patrimônio imaterial

Valter Andre Jonathan Osvaldo Abbeg
(Unifesp)

O presente trabalho analisa experiências realizadas com educação histórica na perspectiva da construção de uma consciência histórica (Rüsen), nos anos iniciais do ensino fundamental. Enfocando a questão da genealogia e a construção de uma percepção de identidade histórica a partir de suas matrizes familiares. Foi empregada a metodologia de investigação, argumentando, aguçando e ampliando os saberes já constituídos pelos educandos, quanto ao universo escrito; baseado na dimensão do inquérito, no qual os educandos seriam os investigadores familiares, agrupando não apenas nomes, resultado pragmático de uma genealogia vulgar, mas procurando informações, relatos, documentos, fotografias, utensílios, que foram utilizados pelos próprios alunos como fontes para constituição do seu saber histórico. Mais que reconstruir o conhecimento histórico familiar, abriu-se a possibilidade de interpretação de sua própria identidade histórica, uma análise do patrimônio imaterial, sua composição e interposições no decorrer de sua história de vida. Como resultados, observou-se uma ressignificação da concepção pessoal de história, e como se produz história, uma vez que o educando pode realizar e modificar seu discurso sobre a família a partir do estudo das fontes coletadas significadas e ressignificadas.

 

Patrimônio arquitetônico e a Educação Patrimonial

Samantha Ávila Pinto
(FURG)

A presente investigação faz parte da caminhada desta docente como parte da pesquisa de mestrado desenvolvida no Programa de Pós-graduação em História da FURG, no Mestrado Profissional em História, Pesquisa e vivências de ensino-aprendizagem, sob a orientação da Profa. Dra. Vivian da S. Paulitsch. Têm-se por sujeitos desta pesquisa a Igreja Nossa Senhora do Carmo em Rio Grande, envolvendo uma investigação histórica e arquitetônica da mesma atrelada ao ensino de história; de igual modo, aproximadamente 30 alunos do ensino fundamental II da Escola Adventista de Rio Grande. A pesquisa busca através das práticas docentes despertar nos educandos o interesse pelo patrimônio edificado local, pelas pluralidades culturais que compõem nossa sociedade e por fim o (re) conhecimento da história da cidade e de sua própria a partir dos esclarecimentos acerca da história local a que usufruem e do ensino-aprendizagem com bases na arquitetura da cidade. Apresenta-se também como objetivo disponibilizar material de pesquisa, turístico e de fazer pedagógico interdisciplinar para educadores de história e áreas afins, a fim de que possam também proporcionar a seus educandos as discussões acerca do patrimônio local e das pluralidades culturais.

 

Produção da História Viva: experiências de uso do Patrimônio e da Memória

Márcia Cristina Pinto Bandeira de Mello
(Colégio Pedro II)

O presente trabalho tem como objetivo central, expor algumas das possibilidades do uso da História para a Educação Patrimonial, na escola. Professora do Colégio Pedro II, há mais de vinte anos, pude experimentar junto ao Laboratório de Ensino de História, do Campus São Cristóvão III, no Rio de janeiro, projetos, muitos desses realizados e construídos por alunos do Ensino médio, na área de Patrimônio. Na verdade optei por expor apenas dois desses projetos, que foram pensados e colocados em prática visando dar a História vida dentro e fora da escola. Portanto falo da cidade do Rio de Janeiro e discuto o uso da paisagem como documento histórico.

 

Rastros da cidade, do espaço, do tempo: diálogos ao caminhar pelos trilhos da Estrada de Ferro Santos a Jundiaí

Tamires Freire Silva
(Universidade São Francisco)

O caminho pela cidade de Jundiaí traz as marcas da ferrovia. A Estrada de Ferro Santos a Jundiaí, cujas atividades iniciaram-se em 1867, foi o primeiro trecho ferroviário a entrar em funcionamento no estado de São Paulo. Um marco crucial no desenvolvimento da cidade e da região. A história da Estrada de Ferro Santos-Jundiaí e toda a documentação e registros escritos a seu respeito são parte essencial para a compreensão da história jundiaiense. Voltamos nosso olhar a um ponto de Jundiaí: o Complexo FEPASA. Espaço que abriga o Museu Ferroviário e a Biblioteca Ferroviária. O caminhar por entre o Complexo FEPASA é guiado por um olhar presente que busca nas marcas do passado referências e instaura possibilidades significativas para a análise da história local e a construção de conhecimento histórico educacional. Tomamos “a cidade, a memória e o patrimônio cultural, em escalas mais amplas, na modernidade” (BENJAMIN) e interessamo-nos pelas questões das sensibilidades urbanas contemporâneas. Problematizamos neste artigo as potencialidades de diálogos entre as percepções de memória e patrimônio cultural e a (não) educação a partir das fontes documentais da história da ferrovia, a partir do acervo encontrado no Complexo FEPASA.

 

Local: sala CEL6 – piso 1
27/07 – quarta feira – (14:00 às 18:00)

A educação das sensibilidades: do patrimônio arquitetônico ao fluxo dos corpos

Wesley Baptista

(Universidade São Francisco)

Toda cidade pode ser estudada por suas características físicas e formais, mas também pelo processo de significação, ocupação e destinação do espaço, que não é neutro, é plural, polifônico e polissêmico. O traçado das ruas, a localização dos lugares de lazer, moradia e trabalho, bem como dos imóveis considerados patrimônio cultural indicam que tal espaço acolhe a conformação de territórios e fronteiras em conexão com o fluxo de corpos e interesses distintos, atravessados por tensões, disputas e conflitos, matizados por símbolos, percepções e sensibilidades. Logo, o viver urbano propicia e mobiliza diferentes experiências que trazem indícios de uma educação dos sentidos. Nesta pesquisa focalizaremos as Praças José Bonifácio e Raul de Aguiar Leme, ambas ladeadas por imóveis tombados e situadas em Bragança Paulista, buscando identificar e compreender as experiências e sensibilidades urbanas acerca dos jovens que transitam por tais praças, na relação com o patrimônio arquitetônico, no período de 2000 a 2015. Para tanto, estamos pesquisando os autos de tombamento dos imóveis que ladeiam estas praças, os periódicos locais e o arquivo da Câmara Municipal, em franco diálogo com as contribuições de Benjamin, Bresciani, Gay, Galzerani, Guimarães, Pesavento, Taborda e Thompson.

 

A Educação Patrimonial em empreendimentos de grande impacto: uma reflexão sobre memória

Isabella de Faria Bretas
(Fundação Aroeira)

O conceito e entendimento a respeito de patrimônio devem estar associados à educação, à cidadania e à memória. É com base nessa afirmação que a Fundação Aroeira realiza suas atividades de Educação Patrimonial em grandes empreendimentos, confeccionando material pedagógico e realizando minicursos que promovem a reflexão sobre a memória da comunidade impactada. Como pesquisadores da instituição e responsáveis pelo desenvolvimento de atividades ligadas a Educação Patrimonial de variados projetos, a equipe de autores do presente resumo tenciona demonstrar a metodologia aplicada em campo com o intuito de valorizar a memória como meio de instituir patrimônios materiais e imateriais de determinada localidade.

 

Rememorações: a sensibilidade do olhar narrativas e experiências dos esquecidos escolares como formadoras de conhecimentos históricos na modernidade em Chapecó de 1970 a 1980

Marina Luz Rotava Paim
(Universidade São Francisco)

Este trabalho pretende rememorar o período de 1970 a 1980 da modernidade de Chapecó, cidade do oeste de Santa Catarina, pelas narrativas e experiências de sujeitos esquecidos do meio escolar. A singularidade desta pesquisa apresenta-se na sensibilidade do olhar para esses sujeitos esquecidos e silenciados, os zeladores como parte desse meio, valorizando suas experiências como formadoras de conhecimentos históricos. Fundamenta-se esse trabalho a partir do pensamento de Walter Benjamin e de Thompson sobre a modernidade, devido os matizes do período escolhido sobre a industrialização e modernização da referida cidade. Buscando uma outra história, a partir daquilo que foi silenciado, esquecido ressaltando a importância do sujeito como formador e parte desta. Para isso, desenvolveremos entrevistas semiestruturadas com os zeladores das escolas desse período, tomando como aporte a História oral em diálogos com Portelli. Nos possibilitando (re) conhecer sobre essa modernização e industrialização da cidade de Chapecó, os quais nos sãos (des) conhecidos, desvelando experiências e memórias dos zeladores.

 

Educação Patrimonial e Memória: uma discussão conceitual e prática

Ana Paula Moreira Pinto

(Universidade de Brasília)

Por meio da Portaria nº. 230, de dezembro de 2002 do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), estabelece-se a obrigatoriedade de Programas de Educação Patrimonial. No município de São Pedro do Ivaí está sendo construída uma Subestação de Energia Elétrica de 138 kV pela Companhia Paranaense de Energia (Copel). No município em questão foram realizadas atividades de Educação Patrimonial pela Fundação Aroeira, com o objetivo de sensibilizar a comunidade em preservar seus patrimônios culturais. Para que ocorra uma educação que permita ao indivíduo compreender a formação e origens de seus bens culturais é necessário abordar a memória individual e coletiva, pois é a partir dela que se constituem e dão significados aos patrimônios. Almeja-se, dessa forma, abordar as memórias dos moradores de São Pedro do Ivaí como fator fundamental para a realização da Educação Patrimonial.

 

 

Ementa do GT:

Este GT privilegiará o diálogo, intercâmbio e problematização de experiências que abordem interfaces entre produções de memórias, percepções patrimoniais e espaços da educação patrimonial, e acolherá a participação de profissionais de diferentes áreas de conhecimento. Temos assistido movimentos diversos que valorizam a construção de reflexões ativas sobre a constituição de um patrimônio, assim como acerca da fluidez de seus sentidos e os desafios de seus usos e gestões (VARINE, 2012). Nesta perspectiva, não se trata mais de iniciativas voltadas a uma suposta alfabetização cultural (HORTA; GRUMBERG E MONTEIRO, 1999). O patrimônio, nesses contextos, é entendido como uma chave escolhida para expressar, organizar e representar determinadas comunidades, bem como permitir as mediações entre diferentes identidades, marcadas por suas dimensões simbólicas e materiais. O patrimônio – expressão ativa da memória – torna-se, deste modo, um marcador que cartografa as sensações de pertencimento, propósitos coletivos e do ideal de bem comum (BOCCARDI; DUVELLE, 2013). É bastante claro, todavia, que o patrimônio é sempre escolhido por determinados grupos de interesses, podendo ser inserido (ou não) dentro dos discursos autorizados do patrimônio (SMITH, 2006) ou das oficialidades. Independente do status de que goza, o patrimônio é produzido na dinâmica de tensões e disputas, matizadas por sentidos e sensibilidades plurais. A temática deste GT é complexa e transdisciplinar. Dentre as questões que podemos nos colocar, temos alguns exemplos: Como abordar as temáticas patrimoniais sob o viés da educação formal e não formal? Como atender às exigências das salas de aula, museus, arquivos e outras instituições seduzidas pela produção de novas linguagens e plataformas midiáticas, frente às abordagens patrimoniais? Como resistir aos extremos colocados pelos deveres da memória (HEYMANN, 2007) e do presentismo (HARTOG, 2013).

Bibliografia:
Boccardi, G.; Duvelle, C. Introducing cultural heritage into the sustainable development agenda. UNESCO, p. 1-5, 2013. Disponível em: <http://www.unesco.org/new/fileadmin/MULTIMEDIA/HQ/CLT/images/HeritageENG.pdf>. Acesso em: ago. 2015.
Hartog, F. Regimes de Historicidade. Presentismo e Experiências do Tempo. Belo Horizonte: Editora Autêntica, 2013
Heymann, L. Q. “O devoir de mémoire na França contemporânea: entre memória, história, legislação e direitos”. In: GOMES, Angela de Castro (coord.). Direitos e cidadania: memória, política e cultura. Rio de Janeiro: FGV, 2007, pp. 15-43.
Horta, M. de L. P.; Grumberg, E.; Monteiro, A. Q. Guia Básico de Educação Patrimonial. Brasília: Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, Museu Imperial, 1999.
Smith, L. Uses of heritage. Routledge, 2006.
Varine, H. As Raízes do Futuro: O Patrimônio a Serviço do Desenvolvimento Local. Tradução de Maria de Lourdes Parreiras Horta. Porto Alegre: Medianiz, 2012.