VIII Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp

GT6 – MEMÓRIA E CULTURA MATERIAL

Coordenação: Maria Aparecida Borrego (USP) e Odair da Cruz Paiva (UNIFESP)

Local: sala CEL12 – piso 2

26/07 – terça feira – (14:00 às 18:00)

Artefatos do ‘Quebra’: gênese da Coleção Perseverança a partir do Jornal DE Alagoas – 1912

Anderson Diego da Silva Almeida
(Universidade Federal de Alagoas)
Este artigo descreve o contexto histórico em que se formou a Coleção Perseverança, através da identificação dos artefatos que a formam no Jornal de Alagoas, especificamente na série “Bruxaria”, publicada no ano de 1912, quando culminou o “Quebra do Xangô”. A metodologia contou com análise bibliográfica em livros, jornais, revista e, principalmente, nos artigos do referido jornal. A narrativa que constrói a história da Perseverança começa imbricada de um contexto político e social inserido na sociedade alagoana da época. A Coleção torna-se a memória e a representação do quebra-quebra ocorrido em todo estado, especificamente em Maceió, com a justificativa de que o governador, Euclides Malta, era frequentador assíduo dos terreiros de xangô da capital, principalmente o de Tia Marcelina, negra africana, responsável por fundar a religião em terras caetés. Portanto, este artigo, discute, através da análise de fragmentos descritos por um jornalista não identificado, os artefatos que formam a coleção, atentando-se para a estética, nos símbolos e códigos inseridos, e a função que as peças possuem para os rituais.

 

Colecionar livros: um modo de re-apropriar o passa

Admeire da Silva Santos
(UNISEP)

Apresenta sob a perspectiva da cultura material o diálogo entre uma coleção de livros e a possibilidade de se compreender o passado por meio da representatividade desta. Os livros serão entendidos sob o ponto de vista da coleção, no qual um item só faz sentido em conjunto. O objetivo é entender como uma coleção de livros pode re-apropriar o passado, coletivo ou individual. A pesquisa é de caráter teórico. Os resultados consistem em delineamento das relações conceituais e exposição das etapas do colecionismo. Finaliza direcionando a concepção de coleção como um modo de criar possibilidade para o surgimento da memória coletiva.

 

Das gavetas ao virtual: matéria, arquivamento e coleções na contemporaneidade

Silvana Seabra Hooper

(Universidade Presbiteriana Mackenzie)

A preocupação com as coleções de objetos em sua materialidade tem ganhado, nos últimos anos, grande importância. Por um lado, em função das discussões promovidas pelos estudiosos da “cultura material”, tema tanto da antropologia, como da História. Por outro lado, as novas tecnologias da informação têm imposto uma nova agenda não apenas na conformação dos recursos de pesquisa, mas também nas novas formas de arquivar e catalogar. Assim uma nova forma de coleção tem surgido: online. Esse trabalho pretende apresentar alguns resultados, ainda parciais de pesquisa em andamento, que confronta três coleções e suas formas de catalogação, arquivamento, bem como em suas formas de publicização, discutindo sua materialidade. Trata-se de três coleções bem diferentes em sua origem: uma coleção de livros de culinária, analógica e sem publicização; uma coleção de cartões-postais/presépios, com algum tratamento digital e com algum trabalho de publicização; e uma coleção de fotos do Rio de Janeiro, retirada da Internet/Instagram. Pretende-se discutir, não apenas a distância na natureza dos objetos que separa essas coleções, mas também apontar as questões próprias que se colocam para as novas configurações contemporâneas, como preservação, a propriedade, compartilhamento, e materialidade.

 

Do arquivo à cidade: descaminhos de um cientista na Belle Époque do Rio de Janeiro

Ana Luce Girão Soares de Lima
(Servidora)

O objetivo deste trabalho é revelar novos pontos de vista sobre as relações entre o cientista e a cidade, para além do episódio mais conhecido: as campanhas sanitárias do início do século XX. A crescente urbanização, a modernização dos transportes, a ampliação de portos e ferrovias, a imigração europeia e o desenvolvimento industrial e eram processos já delineados na capital desde o fim do Império. Segundo Arias Neto, entre 1872 e 1920 a população carioca pulou de 274 mil almas para 1,2 milhões. O Rio de Janeiro aportou na República enfrentando problemas de um projeto modernizador excludente, no qual a população sofria com o grande déficit habitacional e sucessivos surtos epidêmicos de febre amarela, cólera e varíola. Sua tese de doutoramento, “A Veiculação microbiana pelas águas”, surgiu quando Oswaldo Cruz analisou água que abastecia a cidade, constatando a contaminação com um bacilo de águas putrefatas. Em seu artigo sobre os esgotos da Gávea, postulava que a crise sanitária que atingia o Rio devia-se ao aumento da população sem acesso aos recursos higiênicos. A produção intelectual de Oswaldo Cruz é uma das fontes de seu acervo elucidativas da articulação original entre produção de novos saberes e ações voltadas para a saúde pública.

 

Memória e Cultura Material: O Baú do Pastor Frederico Weber Spies

Janaina Silva Xavier
(Unicamp)

Esta comunicação apresenta uma reflexão sobre as origens e o desenvolvimento da cultura material, sua importância como documento histórico e as relações dos objetos com o homem e a sociedade que os produz e utiliza. Analisa também a representação dos artefatos nos museus como instrumentos na criação da memória coletiva e individual por meio do caráter simbólico dos objetos materiais. Como estudo de caso tomou-se um baú que se encontra musealizado na coleção do Centro Nacional da Memória Adventista (CNMA) e a biografia de seu proprietário, o pastor e missionário adventista Frederico Weber Spies. A partir das relações estabelecidas entre o objeto e seu dono buscou-se fazer um exercício de compreensão do desenvolvimento do adventismo no Brasil. Para fazer essa análise foram empregados referenciais teóricos sobre cultura material e sobre a história do adventismo no Brasil e nas fontes primárias fez-se um levantamento bibliográfico da vida do Pr. Spies.

 

Marta Rossetti Batista: reconstrução de trajetórias femininas na arte

Marina Mazze Cerchiaro
(Instituto de Estudos Brasileiros – Universidade de São Paulo)

Roberta Paredes Valin
(Centro Educação Adalberto Valle)

Nossa proposta de comunicação é analisar as relações entre formas de história e constituição de memória por meio da investigação do arquivo da historiadora da arte Marta Rossetti Batista, pertencente ao Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo – IEB/USP, que vem sendo processado pela nossa equipe desde 2013. Especificamente, tomaremos como recorte para o estudo de caso a documentação recolhida pela pesquisadora sobre a pintora Anita Malfatti e a escultora Adriana Janacópulos. Por meio da análise dos documentos, pretendemos refletir sobre: 1) as formas de constituição da memória – realizadas pelas próprias artistas e seus familiares, em um primeiro momento, e pela historiadora Marta Rossetti Batista, em uma segunda etapa; 2) o fazer historiográfico de Batista; e 3) os modos pelos quais o arquivo permite reconstruir a trajetória de vida dessas três mulheres. Por fim, buscaremos pontuar a especificidade e a importância de arquivos pessoais de mulheres como fonte para pesquisas históricas, uma vez que auxiliam a recuperar as trajetórias de mulheres artistas e pesquisadoras, frequentemente relegadas ao esquecimento.

 

O trabalho interdisciplinar entre o Museu Paulista e o Instituto de Física da Universidade de São Paulo no processo de Documentação e Restauro

Ina Hergert
(Universidade de São Paulo)

Em 2009, o Museu Paulista da Universidade de São Paulo adquiriu dois documentos da família Taunay que despertaram especial interesse por parte dos pesquisadores internos e externos ao museu: a caderneta de notas de Adrien Taunay, artista de origem francesa conhecido principalmente por participar na expedição Langsdorf, e o álbum de desenhos “Viagem Pitoresca ao Mato Grosso” de Alfredo d’Escragnolle Taunay, o Visconde de Taunay, que durante sua vida exerceu importantes atividades políticas, militares e literárias. Após os processos de documentação e restauro, os documentos foram submetidos a análises por meio de refletografia de infravermelho, técnica óptica não destrutiva. As imagens mostraram camadas subjacentes em grafite, que permitiram uma nova visão dos documentos, revelando manuscritos e desenhos invisíveis a olho nú, permitindo nova leitura do material. Este trabalho foi realizado em parceria com o Instituto de Física da Universidade de São Paulo e patrocinado pelo Instituto Hercule Florence. A pesquisa aqui apresentada é resultado da convergência de metodologias de análises da Física Aplicada com metodologias da conservação e restauração de bens históricos a serviço da pesquisa nos campos da História e da Cultura Material.

 

Samuel Augusto das Neves: engenharia, urbanismo e periodismo

Ana Paula Nascimento
(FAUUSP)

Samuel Augusto das Neves (1863− 1937) foi um profissional com atuação destacada e diversa por mais de 50 anos em diversos estados do Brasil, especialmente São Paulo e Rio de Janeiro. Engenheiro agrônomo, atuou em obras de infra-estrutura urbana, construções particulares e públicas, com especial destaque para o projeto vencedor do concurso da Penitenciária do estado de São Paulo (1910) e do plano de Melhoramentos de São Paulo (década de 1910). Ao lado do exercício projetual e de construção, participou ativamente de sociedades e empresas, eventos sociais e científicos. Manteve ainda por mais de 20 anos uma coluna diária no jornal Correio Paulistano e foi cônsul do Panamá (1909-1937). Apesar das atividades multifacetadas e de ter seu nome no período reiteradas vezes divulgado, atualmente o engenheiro é praticamente ignorado até em publicações especializadas sobre o período. A pesquisa em andamento busca, a partir do Fundo Samuel das Neves (FAUUSP) e da consulta a periódicos de São Paulo e do Rio de Janeiro, restabelecer minimamente sua trajetória de vida, tendo neste estudo de caso a ampliação do conhecimento de como engenharia, poder e sociabilidade estavam configurados em São Paulo nas três primeiras décadas do século XX.

 

Local: sala CEL12 – piso 2
27/07 – quarta feira – (14:00 às 18:00)

A Pesquisa Documental na reconstrução da História Urbana: a Vila de Itu

Anicleide Zequini

(Universidade de São Paulo)

A Vila de Itu foi considerada, em finais do século 18, como a mais importante produtora de açúcar da província de São Paulo. Era também, uma das mais populosas e importantes Vilas na rota da expansão da cultura da cana de açúcar, onde estavam concentrados um grande número de Engenhos e proprietários agrícolas, os Senhores e Senhoras de Engenho. A riqueza gerada por aquela economia refletiu diretamente na urbanização da localidade. Além das construções de importantes igrejas e a instalação de ordens religiosas, a sua área central, notadamente, o Largo da Matriz, destacou-se pela concentração de edifícios destinados a moradias da elite econômica e dos poderes político e religioso. Destacam-se a construção de sobrados em taipa de pilão e a instalação da Câmara e Cadeia. É da reconstrução desta Historia e da dinâmica da ocupação urbana, que propõem este trabalho. Não restando mais os documentos produzidos pela Câmara local, valeu-se para esta pesquisa, da aplicação de uma metodologia baseados em informações dos registros de escrituras de compra e venda de imóveis, como também, de inventários post-mortem, ambos depositados no Arquivo Histórico do Museu Republicano Convenção de Itu.

 

A preservação de Bens Culturais Sacros: os Museus de Arte Sacra e suas especificidades

João Paulo Berto
(Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/Unicamp)

O trabalho apresenta um panorama da preservação dos bens culturais de natureza sacra e suas particularidades no campo do patrimônio cultural, a partir da visão da Igreja Católica, tomando por base o espaço ocupado pelos Museus de Arte Sacra geridos por instituições eclesiásticas. Desde o início do século XX, o debate que envolve a salvaguarda destes conjuntos tem chamado cada vez mais a atenção de pesquisadores, da comunidade acadêmica e de seus próprios detentores. No Brasil, apesar de algumas iniciativas, na prática, ainda faltam normativas da hierarquia eclesiástica capazes de valorizar, democratizar e disseminar estes acervos, além de conscientizar seus detentores acerca de seus papéis na promulgação de práticas de registro e proteção. Tomando por base as diretrizes propostas pela Pontifícia Comissão para os Bens Culturais da Igreja, procura-se pensar de que modo a Igreja vem lidando com esta questão, destacando-se o contexto brasileiro. Particularmente, procura-se entender as especificidades assumidas pelos Museus de Arte Sacra criados por iniciativa eclesiástica nos debates sobre a preservação destes acervos, especialmente nas políticas de gestão e exposição.

 

Aparências tecidas com a linha do tempo: vestimentas, memória e cultura material

Ligia Souza Guido
(EMEF Profa. Vilma Fernandes Antonio)

O presente trabalho propõe uma discussão das relações entre cultura material e memória, que perpassam o âmbito das aparências, visando especialmente as roupas – objetos de uso pessoal que protegem, ocultam, mas também revelam classe e status social. Consideramos essencial abordar as questões de construção dos discursos envolvidas nos processos de patrimonialização de artefatos têxteis em museus, das relações afetivas, políticas e culturais, construídas entre sujeitos e objetos de uso pessoal, empregados na aparência.

 

Casa Guilherme de Almeida: processos de musealização

Guilherme Lopes Vieira
(Universidade Federal de São Paulo)

Este estudo analisa os principais aspectos que o processo de musealização inferiu ao imóvel e a coleção do museu-casa que homenageia a trajetória profissional e intelectual do escritor Guilherme de Almeida (1890-1969). A musealização pode ser entendida, entre outras possibilidades, como o fenômeno de ressignificação que atribui valor aos artefatos da cultura material, tornando-os objeto de museu. No que diz respeito aos museus-casas, a musealização é ascendida em complexidade, na medida em que o imóvel e os itens colecionados, arraigados ao patrono do museu, devem compor a narrativa biográfica que norteara a museografia desse espaço de memória. Portanto, este estudo indicará as potencialidades da musealização de um museu-casa, preocupando-se em evidenciar que os museus não devem ser observados pela aura de detentores de verdades absolutas, mas como um espaço institucionalizado de intermediação entre artefatos que antes inseridos na sociedade possuíam uma utilidade funcional, e que agora em um museu, estão propensos a agenciamentos institucionais promovidos por sujeitos e suas demandas do presente sobre o passado.

 

CONDEPHAAT: Revisão do tombamento do Hospital Umberto I

Elisabete Mitiko Watanabe
(Unidade de Preservação do Patrimônio Histórico)

O Hospital Umberto I – ou antigo Hospital Matarazzo – situado na Al. Rio Claro nº 190, Bairro Bela Vista, na Cidade de São Paulo é bem tombado pelo CONDEPHAAT por meio da Resolução SC-29, de 30/07/1986. O reconhecimento como patrimônio cultural deste bem se deu pelo seu valor histórico enquanto instituição ligada à imigração italiana e de assistência à saúde que funcionou em um harmonioso conjunto arquitetônico construído para este fim. Decorridos quase 30 anos de seu tombamento, em 2014, o ato foi objeto de revisão pelo CONDEPHAAT, levando à edição da Resolução SC- 13, DE 18/02/2014. O presente artigo discorre sobre a tramitação deste processo no referido órgão, percorrendo as reflexões e os resultados do período de vigência da Resolução de tombamento. Neste processo, para além da constatação da situação física do bem tombado ao longo dos anos, é de se salientar a utilização de processos arquivados no protocolo do órgão, demonstrando a importância deste acervo documental como fonte de informação. O caso é também emblemático pela realização de uma audiência pública, ação inédita na atuação do CONDEPHAAT, que passa a considerar participação da sociedade em suas decisões.

 

Os “Trastes Velhos” e a Vida Material Paulista, séculos XVIII e XIX

Rogério Ricciluca Matiello Félix
(FFLCH)

Procuraremos analisar a posse e o uso de artefatos domésticos antigos que compunham a cultura material brasileira – no geral – e paulista – em especifico – durante os séculos XVIII e XIX buscando compreender as suas articulações em diversas esferas da vida social. Sendo os objetos de cultura material tanto portadores de sentidos quanto conformadores de práticas sociais, utilizaremos um variado manancial de fontes, como peças musealizadas e inventários post-mortem para observar a maneira como o mobiliário serve como ativador de memórias e vetor para a produção de tradições, seja nas ocasiões de seu consumo seja nas de seu uso, preservação e legado. Utilizaremos como referencial teórico para nossa análise a “Teoria da Pátina” de Grant McCracken, buscando refletir sobre as suas vantagens e limitações de aplicação para a realidade específica de que abordamos.

 

Trabalho e cultura material: oficiais mecânicos na Vila Real do Sabará (1750-1800)

Ludmila Machado Pereira de Oliveira Torres
(UFMG)

A cultura material e o trabalho estão intimamente relacionados. O trabalho modifica a natureza para produzir uma materialidade a qual nós historiadores denominamos cultura material. O “saber fazer” conceitualmente faz parte da denominada cultura imaterial, dissociados na teoria, mas juntos no cotidiano de trabalho. A dinâmica de trabalho de diversos oficiais mecânicos, produtores de objetos necessários ao cotidiano, é o tema desta comunicação. Na segunda metade do século XVIII, a Vila Real do Sabará apresentava uma diversidade em sua atividade econômica, pois havia um grande número de bens e serviços. Nos inventários os objetos se multiplicam, cadeiras, mesas, ferramentas, vestuário. O trabalho mecânico também se diversifica, não somente sapateiros, alfaiates, carpinteiros, ferreiros e ferradores há também latoeiros, caldeireiros, relojoeiros. Propomos compreender a relação entre o oficial, o “saber fazer”, a materialidade e o seu consumidor. Com enfoque nas relações de créditos dos oficiais e sua sobrevivência a partir da produção de objetos e serviços banais. Através de uma pesquisa documental realizada no arquivo cartorário de Sabará nos inventários, testamentos e processos cíveis.

 

Yuyanapaq e El Ojo que Llora: para não esquecer

Flávia Eugênia Gimenez de Fávari
(USP)

Este trabalho é parte de uma pesquisa de mestrado (em andamento) e tem como objetivo apresentar as disputas (simbólicas e políticas) em torno de dois espaços da memória do Peru: a exposição fotográfica “Yuyanapaq: Para recordar”, criada pela Comissão da Verdade e Reconciliação (CVR) como espécie de relatório visual do período de violência política, e o monumento “El Ojo que Llora”, que está localizado em um parque movimentado no centro da cidade de Lima. Como resultado de uma recente viagem de campo ao país, a exposição e o memorial são analisados tendo em vista o seu conteúdo e o contexto de sua existência. Depois de mais de vinte e cinco anos do fim do conflito armado (1980-2000) desencadeado pela organização maoísta Sendero Luminoso que deixou cerca de 70 mil vítimas – segundo a CVR – o tema ainda é muito polêmico e espinhoso para os(as) peruanos(as) e especialmente controverso no que diz respeito à resistência de alguns atores em reconhecer as suas responsabilidades nos acontecimentos do período.
Local: sala CEL12 – piso 2
28/07 – quinta feira – (14:00 às 18:00)

O Aeroclube do Brasil e o Museu Aeroespacial: vestígios de uma memória quase esquecida na história da aviação brasileira

Rejane de Souza Fontes
(PUCRS)
Claudia Musa Fay
(PUCRS)

A história não é apenas um evento no passado, mas está viva no presente e oferece indícios ao futuro. O presente trabalho, pautado num estudo de caso longitudinal que nos permitiu desenhar diversas conectividades temporais e contextuais, buscou reconstruir, através de fotografias, depoimentos e publicações da época a memória da aviação civil brasileira a partir do primeiro aeroclube aqui fundado em 1911: o Aeroclube do Brasil. A participação do Aeroclube na Campanha Nacional de Aviação (CNA), lançada pelo Ministério da Aeronáutica na década de 40, foi determinante para a expansão da aviação no Brasil e lançou as sementes de uma cultura aeronáutica no país. Entre as várias crises financeiras e mudanças de endereço pelas quais passou, o Aeroclube do Brasil reflete as transformações econômicas do cenário nacional do período pós-guerra e os interesses estratégicos do país em diferentes épocas. A história do Aeroclube tem muito a revelar sobre o ensino da aviação civil no Brasil e o papel da aviação nos desígnios da política nacional. Assim como, desvela, ao lado do Museu Aeroespacial, a cultura da aviação civil no Brasil e a fragilidade dos arquivos relacionados ao tema, demonstrando a ausência de políticas culturais de valorização da memória e do patrimônio histórico nacional.

 

Discursos de um fragmento

Marli Marcondes
(Centro de Memória-Unicamp)

O presente trabalho visa discutir os inúmeros discursos que permeiam a trajetória do fragmento de afresco (50 x 60 cm) que compunha a imaginária da Igreja N. Sra. Do Rosário, de Campinas, demolida em 1956. Trata-se da pintura de um anjo, executada no estilo Beuron, pelo monge alemão Thomaz Scheuchl. O estilo surgiu na Escola Alemã de Arte Sacra (1870-1940) e apresenta elementos artísticos diversos, desde a arte cristã antiga como a bizantina, entre outras. O estudo do fragmento prevê a intersecção dos discursos embutidos na iconografia sacra representada no afresco, sua feitura artística e a função social desempenhada no contexto religioso local. A viabilização do trabalho se dará a partir do estudo da iconografia religiosa, da história da Igreja N. S. do Rosário e da materialidade da obra, a partir de exames organolépticos, fotográficos (ultravioleta e infravermelho), além de exame espectrométrico de fluorescência de raios-x (FTR), que poderão detectar os elementos químicos utilizados na composição das tintas aplicadas sobre a obra. O resultado desse conjunto de análises fornecerá subsídios para a caracterização da obra, sua catalogação no arquivo e, principalmente, fornecerá elementos sobre a constituição física do objeto, norteando as práticas de conservação e restauro.

 

O corpo em desaparição: nota sobre os retratos de prisioneiros expostos nos corredores do Memorial e Museu Auschwitz-Birkenau

Carolina Junqueira dos Santos
(Departamento de Antropologia / USP)

O trabalho a ser apresentado parte das centenas de retratos de prisioneiros expostos nos corredores de um edifício pertencente ao campo de concentração de Auschwitz. Situados em um lugar de passagem – o corredor –, esses fantasmas fazem resistir à ideia de um corpo, de um rosto, de uma humanidade que a máquina nazista desejou eliminar, tendo ela se empenhado, sobretudo, em não deixar rastros. Essas fotografias, produzidas em caráter oficial de registro dos prisioneiros, revelam a face triste e desamparada dos corpos destinados ao desaparecimento imediato. Para além da imagem do rosto, vê-se o nome, seguido pelo número de registro, além das datas de nascimento, deportação e morte. Todos esses elementos ajudam a constituir uma memória do sujeito, mas, para além do impacto dos rostos exibidos no museu-ruína, há uma estranha concepção museográfica que optou por colocar os retratos em um corredor, local secundário que tem como função primordial ligar os cômodos principais de um determinado espaço. Aqueles corpos-fantasmas parecem agora assombrar a memória do edifício e do campo inteiro, fazendo-se presentes nas suas margens, em um lugar teoricamente invisível, o que indica que mesmo a mera disposição espacial do arquivo pode ter a potência de produzir um sentido obtuso e devastador.

 

Intervenções Urbanas em Áreas Centrais Históricas – Privatização e segregação. Os destinos da memória nascida da apropriação do espaço urbano

Paula Marques Braga
(Universidade São Francisco)

Pautado na temática relativa à investigação de aspectos de intervenções urbanas em Áreas Centrais Históricas, através do estudo dos processos de intervenção aplicados ao Centro Histórico de Salvador e ao Bairro do Recife, este trabalho vincula suas análises ao estabelecimento de marcos conceituais específicos – Urbanalização e Processo de Containerização do Espaço Urbano – que buscam entender estas áreas como parte das dinâmicas urbanas da cidade contemporânea e considera as questões relativas à preservação do Patrimônio Cultural, patrimônio arquitetônico e imaterial. Considerando-se o contexto investigativo voltado à Produção do Espaço Urbano e, dentro deste campo de análise, aspectos da segregação socioespacial, busca-se contribuir com este debate visto que as ações de renovação de áreas centrais fazem parte de um conjunto mais amplo de grandes projetos urbanos definidos pelas políticas urbanas de intervenção. Nestes percursos, em que a contemporaneidade exige novos usos aos espaços construídos, também memórias estabelecidas com o tempo podem ser alteradas. O desafio da dinâmica urbana consiste, deste modo, em conciliar a nova produção da cidade com as memórias, identidades, formas de morar e usos cotidianos que caracterizam determinadas áreas em nossas cidades.

 

Unidos pela fé: os irmãos carmelitas em Sabará a partir de seu Estatuto

Leandro Gonçalves de Rezende
(UFMG)

Contrariando a proibição do estabelecimento de clérigos regulares nas Minas, os ideais das Ordens Mendicantes fizeram-se presentes nessa região, desde meados do século XVIII, quando alvoreceram as Ordens Terceiras, reunindo fiéis leigos em comunhão espiritual, fraterna e social. Em Sabará, Ordem Terceira do Carmo surgiu em 1761, momento de consolidação social e urbana. A historiografia destaca que tais associações foram instrumentos políticos e sociais de conformação da sociedade, todavia não podemos olvidar que este fenômeno é concomitante à reforma tridentina, com a valorização do leigo e a disseminação ao culto santoral. Nesta oportunidade, destacaremos os terceiros enquanto atuantes no meio urbano, realizando cerimonias devocionais, fazendo-se sentir na vila, numa visão de mundo hierárquica, de profunda afeição à pompa barroca e aos sinais visíveis da fé. A nossa principal fonte será o Estatuto, além da preciosa documentação conservada no Arquivo da Ordem. Também ressaltaremos que a Capela da Ordem Terceira do Carmo de Sabará e seu entorno são espaços de sociabilidade e de encontro, produzindo sentidos e significados, numa dimensão identitária, para aqueles que se utilizam deles, tanto como recinto de devoção quanto lugar de fascínio diante de sua elegante decoração rococó.

 

Museus da Imigração Italiana em São Paulo: diferentes perspectivas na preservação da memória

Odair da Cruz Paiva
(Departamento de História da Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP)

Este artigo discute as representações sobre o patrimônio da imigração italiana em museus situados nas cidades de Taubaté, Vinhedo e Louveira. Cada uma destas instituições apresenta perspectivas particulares sobre a história, memória e inserção de imigrantes italianos no contexto econômico e cultural paulista. O objetivo deste estudo é analisar o discurso presente nestes espaços museais de maneira a compreender a relação entre a cultura material exposta e a memória que se pretende fixar sobre esta corrente imigratória no presente. Neste sentido, elementos como: preservação das raízes camponesas; hierarquias sociais e elogio à história e cultura italianas são algumas das intencionalidades que informam a escolha e a utilização da cultura material presente nestes espaços. A análise destes museus faz parte de uma pesquisa mais abrangente que tem como foco central a compreensão sobre a musealização do patrimônio da imigração no Estado de São Paulo.

 

Patrimônio cultural: modos de ver e conhecer

Maria Helena Versiani
(Museu da República)

O presente trabalho propõe o exame de certos sentidos e práticas em torno do que se convencionou chamar de patrimônio cultural, tendo em vista privilegiadamente duas de suas dimensões. A primeira, relacionada a sua efetividade como elemento de construção de memórias e de valores sociais. A segunda, relacionada as suas especificidades enquanto fonte de pesquisa e variável forte da produção de conhecimento. No campo do patrimônio cultural, a análise aqui pretendida privilegiará especificamente o conjunto dos bens culturais preservados em museus de história. Estes, por sua vez, sendo referidos como espaços de educação e de produção de conhecimento sobre o mundo social, que têm o patrimônio cultural que preservam como fonte primordial de pesquisa, constituindo múltiplas interações, que abarcam desde o puro entretenimento, o prazer de ver e estar, a ativação de memórias, sentimentos e identidades, entre outras tantas interações possíveis.

 

Desafios e experiências de curadoria em museus históricos

Maria Aparecida de Menezes Borrego
(Museu Paulista e Museu Republicano “Convenção de Itu”)

A comunicação visa apresentar os trabalhos de curadoria realizados no Museu Republicano “Convenção de Itu”, extensão do Museu Paulista da Universidade de São Paulo, para a montagem da exposição Cardápios e banquetes na Primeira República, inaugurada em novembro de 2015. Para tanto, busca discutir o papel da pesquisa e do acervo como eixos norteadores para consecução das atividades solidárias à sua realização: elaboração de problemáticas, investigação e seleção de documentação institucional, mobilização de coleções, estratégias de expografia, concepção de atividades educativas e de difusão cultural.

 

 

Ementa do GT:

Memória e Cultura Material são termos que designam uma pluralidade de fenômenos e processos relacionados em grande parte às formas de conhecimento histórico. A articulação desses termos engendra, a um só tempo, a construção de um lugar comum de interlocução baseado nas dimensões materiais da memória, considerada um componente fundamental da vida social, e uma plataforma privilegiada de observação sobre o vivido pretérito e sobre as perspectivas do presente sobre o passado. Essa união pressupõe que a construção da história é permeada por elementos intangíveis e materiais presentes nas escolhas do historiador e também nas percepções coletivas sobre as permanências e mudanças do tempo social. Este Grupo de Trabalho tem por objetivo agregar pesquisas sobre cultura material, patrimônio cultural (em suas diversas expressões), museus, arquivos, trajetórias de vida e outros temas que discutam as formas da história a partir da associação entre memória e cultura material.

Bibliografia:
ABREU, Regina. A fabricação do imortal. Memória, História e Estratégias de Consagração no Brasil. Rio de Janeiro: Rocco, 1996.
BOSI, Eclea. Memória e Sociedade. Lembranças de Velhos. São Paulo: Cia das Letras, 1994
CARVALHO, Vânia Carneiro de. Cultura material, espaço doméstico e musealização. Varia historia. 2011, vol.27, n.46, pp. 443-469.
FRANÇOZO, Mariana. De Olinda a Holanda: o gabinete de curiosidades de Nassau. Campinas: Ed. Unicamp, 2014.
HALBWACHS, Maurice. A Memória Coletiva e o Espaço. São Paulo: Centauro, 2006.
KOSELLECK, Reinhat. Futuro Passado. Contribuição à semântica dos tempos históricos. Rio de Janeiro: Contraponto/Ed. PUC-Rio, 2006.
LE GOFF, Jacques. História e Memória. Campinas: Ed.Unicamp, 1994
MENESES, Ulpiano Toledo de. Do teatro da memória ao laboratório da História: a exposição museológica e o conhecimento histórico. Anais do Museu Paulista. São Paulo. N. ser. p. 9-42, jan./dez. 1994.
NORA, Pierre. Entre memória e história: a problemática dos lugares. Projeto História. São Paulo: PUC-SP. N° 10, p. 12. 1993
PIRES, Francisco Murari (org.). Antigos e modernos: diálogos sobre a (escrita da) história. São Paulo: Alameda, 2009
RICOEUR, Paul. A Memória, a História, o Esquecimento. Campinas: Editora da Unicamp, 2007.