VIII Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp

GT5 – MEMÓRIA, PRÁTICAS CULTURAIS MODERNAS E SENSIBILIDADES

Coordenação:  Arnaldo Pinto Júnior (Faculdade de Educação-Unicamp) e Maria Sílvia Duarte Hadler (pesquisadora do Centro de Memória-Unicamp)

 

Local: CEL – sala 04 – piso1

26/07 – terça feira – (14:00 às 18:00)

Novas Interfaces para a Memória e o Patrimônio

Priscila Chagas Oliveira (Universidade Federal de Pelotas)

Neste artigo, a partir do paradigma tecnológico da cultura digital, analisaremos o aparecimento de novas interfaces culturais (MANOVICH, 1997) para a memória e o patrimônio. Compreendendo o museu enquanto fenômeno e processo (SCHEINER, 2010), recorre-se ao Movimento Internacional da Nova Museologia para explicitar as bases que circundam o pensamento museológico e patrimonial contemporâneo. Em um contexto marcado pelo surgimento das redes computacionais e de novos modelos de gestão informacional e comunicacional, o Acervo Digital Bar Ocidente e a sua fanpage no Facebook são apresentados como interfaces das memórias dos grupos sociais, como espaços de construção e compartilhamento coletivo dos indicadores de memória (BRUNO, 2006). Considera-se assim que a interface humanomáquina leva a criação de museus virtuais, expressão mais contemporânea do fenômeno Museu, que se impõe perante às problemáticas colocadas ao campo museológico atual, de comunicação intermuseal (ROQUE, 2010) que se opera, neste sentido, aberta, colaborativa e desterritorializada.

 

A narrativa fantástica e a construção de um imaginário sobre o espaço urbano: uma análise de Markheim de Robert Louis Stevenson

Ana Carolina Silva (UNICAMP)

A cidade na obra de Stevenson, na maioria das vezes, é apresentada de maneira cifrada e indireta. A priori, essa tendência de Stevenson de representar a vivência em uma metrópole através de alguns símbolos oriundos e característicos da modernidade, pode sugerir que a cidade em suas histórias possui a mera função de ambientação e a de dar plausibilidade às situações relatadas. Contudo, a partir da análise da estruturação da trama e do conteúdo narrativo, fica perceptível o quanto essa representação fragmentada e sutil foi um dos mecanismos utilizado pelo escritor escocês para delinear, circunscrever e abordar a nova sensibilidade e os novos modos do ser humano interagir e se relacionar consigo mesmo, seus pares e com o espaço. Desse modo, através da investigação conjunta de alguns escritos literários do autor, sobretudo de seu conto Markheim (1885), buscaremos compreender como a narrativa fantástica e a descrição tênue do espaço urbano nos possibilita perscrutar o imaginário e alguns dos anseios manifestos pela sociedade britânica no fim de século e o quanto as temáticas abordadas ajudaram, conjuntamente com outras referências, a moldar e a consolidar o imaginário e as visões correntes acerca dos vícios e das inquietudes presentes nas grandes cidades do período vitoriano.

 

Educação das sensibilidades na urbe moderna: produções didáticas e práticas culturais em Campinas (1890)

Arnaldo Pinto Junior (FE/UNICAMP)

Pesquisadores que focalizam cidades na contemporaneidade ocidental analisam a complexidade de sua história, espacialidade, cultura, dentre outras possíveis abordagens. Considerando as contribuições de diversas investigações, compreende-se que o processo de expansão das urbes, sobretudo a partir de meados do século XIX, está associado ao gradativo avanço das concepções da modernidade capitalista, com seus avanços e retrocessos, permeados por dialéticas relações de forças sociais e de produção de conhecimentos. Neste trabalho recortamos o espaço de Campinas na década de 1890, com o intuito de problematizar o processo de educação das sensibilidades efetivado por determinados grupos locais. Ao elegermos como fontes as produções didá- ticas destinadas aos anos da escolarização primária, observamos concepções da modernidade em sua materialidade, desde a visão comercial do produto cultural até os valores difundidos nas sociedades denominadas desenvolvidas, ou seja, a importância da cultura letrada, a hierarquização de saberes e as funções sociais dos sujeitos. Nesse sentido, propomos a reflexão acerca dessas visões, as quais concorreram para a constituição de práticas culturais com indeléveis signos de civilidade, racionalidade, prosperidade e produtividade.

 

Experiências da transformação urbana: usos dos sentidos vinculados a dinâmica histórica da cidade de Fortaleza-CE (1893-1932)

José Maria Almeida Neto (PREFEITURA DE MARACANAÚ-CE)

O simples evocar da palavra cidade suscita uma série de imbricações com as sensibilidades e estas por sua vez com o corpo. Não pensamos a noção de cidade sem a presença dos corpos. A cidade se tornou, principalmente na modernidade, o espaço do ajuntamento dos corpos, da aglomeração humana, da multidão. Ocorre que, tais sensibilidades não se eternizam em imagens cristalizadas ou enquadradas em um modelo específico ao longo do tempo. Pelo contrário, as nossas habilidades sensoriais são educadas pelo meio social em que vivemos. Demonstrando que, a cada época, mecanismos sociais são criados e significados emocionais e sensoriais também. O objetivo deste trabalho é o de analisar as estruturas sociais e culturais dos usos dos sentidos e sua dinâmica histórica, vinculando-os ao universo do espaço urbano, inserindo-os no conflito das transformações urbanas entre 1893 e 1932 na cidade de Fortaleza-CE. Interpela-se então: Quais foram as sensações, literalmente, de viver em uma cidade durante um período de rápida modernização? Como as sensibilidades podem ser compreendidas como parte das alterações de comportamentos dos corpos na cidade? De que maneira a reforma social e moral, concomitante às transformações urbanas, interviu na concepção das sensibilidades e nos sentidos do corpo?

 

História, memória e educação das sensibilidades: o processo de patrimonialização da Casa Lambert de Santa Teresa-ES

Márcia Regina Rodrigues Ferreira (Prefeitura Municipal de Santa Teresa- ES)

Este trabalho analisa o processo de patrimonialização da Casa Lambert na relação com a história, a memória e as experiências educacionais socialmente construídas pelos sujeitos. Considerada simbolicamente a construção mais antiga da cidade, a Casa foi tombada como patrimônio histórico e cultural em 1985 e hoje funciona como um museu que procura contar a história da família Lambert e da imigração italiana em Santa Teresa e no Espírito Santo. No âmbito da História Cultural, as reflexões acerca do patrimônio afiguram-se como possibilidade de novas leituras e novos olhares relativos aos espaços da urbe, constituídos por múltiplas temporalidades e constantemente reinventados por sujeitos multifacetados, dotados simultaneamente de racionalidade e sensibilidade. Compreendendo o patrimônio como um espaço que educa por meio do contínuo, difuso e incisivo processo de educação das sensibilidades que envolve os sujeitos em circulação pelos diferentes espaços urbanos, no cenário sociocultural de Santa Teresa, a trajetória histórica da Casa Lambert, produção material e simbólica, fornece subsídios para pensar a cultura como um espaço de tensões, conflitos e negociações.

 

José de Castro Mendes e visões sobre a Campinas Moderna

Fátima Faleiros Lopes (Escola Comunitária de Campinas)

José de Castro Mendes (1901-1970) produziu uma série de registros – literários e iconográficos – sobre o universo social campineiro. A análise de tais narrativas nos revela as visões pelas quais o autor aborda, assim como produz, uma História de Campinas: concepções de História, de cidade, de relações sociais. Em específico, a série Campinas de Ontem e Hoje: visão em dois tempos, período: 1960-1965, publicada no jornal Correio Popular, possibilitou-me acercar de tais visões, de forma a contextualizá-las, ou seja, na relação com a imagem de Campinas, “cidade moderna e metrópole”, fortemente divulgada na década de 1960, principalmente pela imprensa local. A difusão de tais imagens sobre a cidade, pela imprensa, por sua vez, se relaciona a uma dada forma de educação das sensibilidades.

 

Memória do Município de Uruaçu- Goiás: Reminiscências de um Patriarca às Margens de uma Nova São José do Tocantins

Layanna Sthefanny Freitas do Carmo (Universidade Estadual de Goiás)

O presente estudo pretende desenvolver uma análise sobre o processo de fundação do município de Uruaçu- Goiás, no contexto do final do século XIX e início do século XX. Dessa forma, a construção da cidade é produto da trajetória de desavenças políticas partidárias entre a família Fernandes de Carvalho e os liberais históricos na antiga Niquelândia (São José do Tocantins). O intercâmbio de contradições em nível político partidário durante o contexto de elaboração da primeira carta constitucional de 1891 em Goiás, provocou o deslocamento da família com aspirações incisivas pela ruptura de um legado de risco e ameaças até a projeção e elaboração do arraial de Sant’Anna, sendo elevado à categoria de município em 1930. Desse modo, a memória do chefe patriarca se mescla a monumentalidade do sujeito invencível no esquecimento da sua derrota eleitoral e na preservação da memória de uma elite aristocrática. Nesse sentido, o presente artigo irá apontar as generalizações dos relatos descritos pelos memorialistas locais ao divulgarem um passado glorioso que levam ao ocultamento da relatividade dos fatos.

 

Outras formas de sensibilidade urbana na Campinas dos anos 1960

Maria Sílvia Duarte Hadler (Centro de Memória-Unicamp)

A cidade de Campinas, SP, vivenciou um processo de rápidas modificações da paisagem urbana, principalmente entre os anos finais da década de 1950 e década de 1960. O Plano de Melhoramentos Urbanos, idealizado na década de 1930, será concretizado de forma mais incisiva a partir da segunda metade da década de 1950, com a definição de ruas a serem alargadas, construções a serem demolidas, com abertura de avenidas centrais e perimetrais. Em meio a uma intensificação do processo de demolições, construções e verticalização das áreas centrais, observa-se a instalação progressiva de outra temporalidade numa paisagem urbana que passa a ser mais intensamente marcada pelos ritmos mais acelerados dos automóveis. É emblemático deste período a construção e inauguração em 1963 do Viaduto Miguel Vicente Cury. Uma outra estética urbana está sendo construída. Imagens fotográficas produzidas por um fotógrafo amador em suas caminhadas pelas ruas, bem como diversas visões e imagens veiculadas pela imprensa local do período a respeito do “progresso vertiginoso” da cidade, nos permitem captar traços de percepções e de formas de sensibilidade urbana que estão se constituindo neste momento de avanço da modernidade no espaço urbano.

 

Local: CEL – sala 04 – piso1

27/07 – quarta feira – (14:00 às 18:00)

Brincadeiras infantis no Município de São Paulo: transmissão do passado ao presente

Daniela Signorini Marcilio (Associação Ipa Brasil)

Madalena Pedroso Aulicino (Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo – EACH/USP)

A criança é entendida como “um agente ativo de transmissão, elaboração e recriação de cultura desde os primeiros anos de vida” (CARVALHO & PONTES, 2003, p. 17), e transmite sua cultura lúdica brincando, pela participação em jogos com os companheiros e pela observação de outras crianças (WINNICOTT, 1979; BROUGÈRE, 2008). O grupo infantil seria uma sociedade bem organizada importante para a socialização das crianças (FERNANDES, 1961). Nesse sentido, como era a transmissão de cultura lúdica no passado? E como é hoje? Essa investigação se interessou em identificar de que maneira brincadeiras eram transmitidas no passado para compreender como esse processo se configura na atualidade, além de levantar fatores que podem ter influenciado nessa transmissão. Utilizando as metodologias de história oral e observação participante, tem-se 13 idosos entrevistados e 340 crianças observadas. Constatou-se que transformações no uso do espaço urbano, unidas às mudanças de modos de vida, foram fatores que influenciaram transmissões de brincadeiras no espaço público, pois crianças da atualidade têm menos oportunidades de interagir pelo brincar com outras crianças na rua.

 

A cidade e a cidadania: relações entre público e privado no ensino de história

Victor Teixeira Wisnivesky Rysovas (Escola Comunitária de Campinas)

Diante do declínio da dimensão pública do sujeito, característica da modernidade, o objetivo da dissertação é pensar como o ensino de história fundamentado em determinadas imagens e práticas pedagógicas pode promover a formação de estudantes de Ensino Fundamental II e Médio na promoção da cidadania no ambiente urbano moderno. São analisados dados produzidos por alunos de alto poder aquisitivo e moradores de condomínios fechados, revelando algumas de suas sensibilidades e noções de cidadania. O trabalho também se dedica a analisar intersecções entre habilidades, competências e cidadania, apontando brechas para professores de história atuarem. Os dados são produzidos a partir de narrativas de experiências de estudo do meio, bem como questionários e discussões em sala de aula. Walter Benjamin, E.P. Thompson, Phillippe Meirieu e Sônia Kramer são referenciais importantes para este debate.

 

Estranhamento e Motivação – A Cidade como forma de Interação, Conhecimento e Pertencimento

Tereza Cristina Bertoncini Gonçalez (Escola Comunitária de Campinas)

A formação de um olhar múltiplo para a arte perpassa pela construção da sensibilidade em perceber e interagir com o mundo em que se vive. Um dos caminhos é aproximar esse olhar com o espaço circundante, com o local onde a construção da identidade social é formada, a cidade. A cidade é um grande arquivo vivo de memórias em constante transformação, onde o velho e o novo convivem em harmonia ou desarmonia. Como um microcosmo, a cidade funciona como um palco de ações em que o passado e o presente estão juntos na construção do futuro e, consequentemente, onde é desenvolvida a concepção de cidadania que possibilita a inscrição de um sujeito participante na busca do entendimento e da transformação global. A exemplificação dessa abordagem será feita através do relato de um trabalho realizado por alunos do 3º ano do Ensino Fundamental 1, na Escola Comunitária de Campinas. A área de Artes encontrou um pródigo campo, com muitas exclamações e estranhamentos que promoveram diversas reflexões que se enquadram em uma das vertentes da arte contemporânea – a interferência urbana como forma de expressão.

 

Fragmentos de uma História – Identidade, práticas culturais e experiências de um cotidiano escolar

Maria Elena Bernardes (Unicamp)

Esta comunicação visa apresentar uma experiência de aproximação do Centro de Memória-Unicamp e a EMEF Professora Dulce Bento Nascimento, carinhosamente chamada de Escola do Guará, fundada em 1978, localizada no distrito de Barão Geraldo-Campinas. Tal experiência pautou-se no desenvolvimento de ações conjuntas entre professores da Escola, pesquisadores e técnicos do CMU com o intuito de explorar as possibilidades de pesquisa a partir do acervo documental do Centro e de sensibilizar a comunidade escolar sobre a importância da preservação da memória, visando a implementação de um Centro de Memória na Escola. Por meio desta experiência, objetiva-se discutir as práticas culturais dos diferentes sujeitos que compõem a comunidade escolar, como microcosmo da cidade, atravessados por sensibilidades na produção de conhecimentos, nas quais são reveladas as tensões de múltiplas visões de mundo.

 

Impressões de estudantes sobre o vestibular

Mateus Leme de Sousa (Faculdade de Educação – Unicamp)

Este trabalho tem como objetivo investigar diferentes visões e experiências de sujeitos sobre os vestibulares do Estado de São Paulo e suas impressões sobre o momento de preparação para os processos seletivos. Com base na bibliografia referente à pesquisa narrativa, como Connelly e Clandinin, e apropriando-se das potencialidades do conceito de mônadas de Walter Benjamin, foram realizadas entrevistas orais com alunos vestibulandos uma escola privada de Campinas, fazendo-os refletir a respeito de suas percepções sobre seu universo escolar e de suas experiências com os processos de seleção para o ensino superior. Partindo de referenciais teórico-metodológicos tais como Benjamin e Peter Gay, a análise das impressões dos estudantes aponta para um evidente incômodo gerado pela pressão das provas, junto da caracterização do período de preparação para o vestibular como um momento de sacrifício e trauma. Nesse sentido, ao possibilitar a produção de discursos e conhecimentos acerca deste tema por indivíduos geralmente silenciados, intenciona-se romper com o vazio de subjetividades e com a corrente naturalização das angústias geradas na competição pelo ingresso no ensino superior.

 

O GRUPO ESCOLAR DE ITAÚNA: Entrelaçando memórias e histórias da educação primária (1908-1924)

Vânia de Araújo Silva (Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais)

Este trabalho apresenta aspectos da História da Educação em Itaúna-MG entre os anos de 1908 e 1924. O objetivo da pesquisa foi ampliar o conhecimento acerca da constituição do Grupo Escolar de Itaúna, verificar como a educa- ção escolar era veiculada pela imprensa local e entrelaçar histórias da educação primária itaunense e as memórias de um ex-aluno da citada instituição. O cruzamento das fontes nos possibilitou apreender como se davam as interações entre algumas pessoas que fizeram a história da instituição pesquisada. As contribuições de Benjamin, De Certeau, Le Goff, Thompson, dentre outros, subsidiaram nosso trabalho. Os resultados obtidos pela pesquisa têm contribuído para o conhecimento da história da educação local, hoje marcada pela linearidade. Registros e memórias de alguns sujeitos diretamente envolvidos com a educação itaunense, especialmente com o Grupo Escolar de Itaúna foram dados a conhecer. A pesquisa poderá suscitar futuras temáticas sobre a educação primária itaunense e para o cotejamento com outras pesquisas que têm como objeto os grupos escolares, a educação primária no Brasil, especialmente em Minas Gerais e entre memórias e educação das sensibilidades.

 

Entre rastros do professor francês anarco-sindicalista Joseph Jubert as avessas dos professores do primeiro Grupo Escolar de Bragança Dr. Jorge Tibiriçá (1890-1920)

Sandra Aparecida de Souza (Universidade São Francisco)

Esta comunicação analisa ações do professor anarco-sindicalista francês Joseph Jubert na relação com os professores do primeiro Grupo Escolar denominado Dr. Jorge Tibiriçá, ambos na cidade de Bragança, interior de São Paulo. Tem como objetivo rastrear, analisar e problematizar a concepção de educação e percepção do que significava ser professor no início do século XX, período posterior à proclamação da república (1889), marcado por conflitos e greves operárias até 1920. Para concretizar esse objetivo parti de um processo crime de 1911 contra Joseph Jubert, cuja origem foi: uma queixa em decorrência da distribuição de um boletim da Liga Operária local, denunciando as precárias condições de vida dos colonos nas fazendas de café da região no contraponto com imagens de professores do grupo escolar mobilizadas em fontes periódicas do período. Esta pesquisa se justifica pelo fato de que, dentre as propostas de Joseph Jubert identifiquei o objetivo de organizar uma escola em Bragança para os operários e seus filhos, fato praticamente desconhecido até o momento, para além de Jubert estar às avessas da imagem do professor idealizado pelo projeto republicano da época. O referencial teórico assenta-se, sobretudo, nas contribuições teóricas de Walter Benjamin e E. P. Thompson e C. Ginzburg.

 

Cor e ensino superior no Mato Grosso: recordando caminhos trilhados

Maria Inês Rauter Mancuso (UFSCAr)

Jacqueline da Silva Costa (UFSCAr)

Este texto apresenta aspectos de história de vida narradas por pessoas que se formaram na UNEMAT – Universidade Estadual do Mato Grosso e nela ingressaram via ação afirmativa, programa criado em dezembro de 2004. Em 2012/2013, quando foi realizada a pesquisa de campo que deu origem a este estudo, já havia a possibilidade de alguns formados. A pesquisa, realizada em Cáceres e Sinop, trabalhou com dados documentais, pesquisa quantitativa para caracterizar os alunos ativos e entrevistas de profundidade para conhecer a trajetória de alunos formados, ativos e desistentes. Os dois municípios foram escolhidos dadas as características socioeconômicas distintas que justificavam a comparação. Este texto trabalha narrativas dos alunos formados, que vão desde as experiências que antecederam o ingresso à universidade até a vida que sucedeu à formatura. A recordação do passado é marcada pelas experiências do presente, como se este já fosse uma promessa do passado ou nele estivesse contido. Do ponto de vista da memória, essa articulação é discutida, entre outros, por Halbwachs. Ganha destaque também como a vivência da cor marcou as escolhas feitas e as experiências vividas sobre as quais não se tinha controle, o que é significativamente compreendido a partir de Stuart Hall e Franz Fanon.

 

Local: CEL- sala 04 – piso1

28/07 – quinta feira – (14:00 às 18:00)

Os Arquivos no contexto pós-custodial: ressignificando a produção do conhecimento arquivístico no século XXI

Luiz Eduardo F. da Silva (UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA)

Este ensaio discute o novo lugar dos arquivos no cenário denominado “pós-custodial”. Assim, os arquivos foram se reformulando ao longo do tempo, sobretudo pelo avanço da arquivística e de seus princípios em diferentes países. Por intermédio, de uma pesquisa teórica e bibliográfica buscamos compreender como a produção do conhecimento em Arquivologia está sendo projetada no século XIX, principalmente diante das novas tecnologias, uma vez que nessa “tempo” pós-custodial os arquivos aparecem com uma nova roupagem e dinamicidade. Sendo assim, apontamos que os arquivos nesse cenário não são “meros depósitos custodiados”, mas atuam como ação participativa nas tomadas de decisões das instituições. Por fim, acreditamos que com a influência do pós-custodial os arquivos também desempenham a função de produzir saberes através da dinamicidade da gestão da informação e sua agilidade no âmbito dessas tecnologias.

 

Discurso, memória e nação: a construção do discurso de gênero na Revista Veja (2010 e 2014)

Andrea Silva Domingues (UNIVAS)

Marciene da Silva Vieira (UNIVAS)

A pesquisa apresentada tem como proposta analisar a construção do discurso feminino, realizado pela Revista Veja nas eleições presidenciais do ano 2010 e de 2014 e perceber como os textos produzidos pela e na revista interferem na constituição das ideias em torno da questão de gênero. Compreendemos o discurso da imprensa como espaço sócio-histórico, de luta e de memória e que os discursos produzidos por este periódico são reproduzidos na sociedade e constroem paradigmas, estereótipos e preconceitos. Metodologicamente o trabalho está sendo desenvolvido na interlocução da Análise de Discurso Francesa e da História Social, possibilitando uma melhor compreensão de como a construção de mentalidades, a ação no imaginário, auxilia na propagação de ideologias, memórias através da imprensa. Entendemos que os papeis sociais definidos para a mulher vem sendo questionados a cada instante e que é fundamental entender os significados atribuídos às mulheres quando da sua inserção em um espaço historicamente masculino. Assim é necessário discutir a inserção das mulheres na política e sua representação nos discursos midiáticos.

 

As batidas do funk e os ruídos do punk: sentimentos, sonoridades e interpretações indigestas das cidades de São Paulo/SP e Rio de Janeiro/RJ no final do século XX

João Augusto Neves (Universidade Federal de Uberlândia)

Se considerarmos que em concomitância ao crescimento das grandes cidades houve o desenvolvimento tanto dos meios de produção das músicas quanto das sonoridades do universo musical, é razoável pensar que por via desse artefato cultural podemos interpretar os sentimentos e subjetividades dos homens e mulheres que produziram e/ou ouviram os sons de seu tempo. Partindo dessa premissa, voltar-me-ei à década de 1990 no Brasil e problematizarei as cidades de São Paulo/SP e do Rio de Janeiro/RJ a partir das batidas do funk e dos ruídos do punk. Para isso, lançarei luz sobre duas produções que, em conjunto, trazem à tona aspectos importantes para pensarmos o desenvolvimento dessas “mega cidades”, os sentimentos e as conexões promovidas pela “sociedade em rede”. O LP “Rap das Armas”(1995), da dupla de MC’s, Júnior e Leonardo, e o CD “Ruas” (1996), da banda de punk rock Inocentes, serão a porta de entrada para compreender os contornos sensíveis e sonoros que formaram essas cidades no final do século XX. Afinal, os BPM’s desenvolvidos pelo funk carioca e os secos acordes do punk nos dizem muito sobre “ser mais um em 1 milhão a ter a mesma dúvida” (Inocentes), como também provoca reflexões sobre as angústias dos que sofrem “violência em todo canto da cidade” (MC’s Júnior e Leonardo).

 

A produção audiovisual sobre a ditadura militar e o direito à memória e à verdade

Cleonice Elias da Silva (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo)

Muitos estudos vêm alisando as relações entre cinema e história, mais especificamente, como o meio audiovisual constrói representações do período da ditadura civil-militar (1964-1985) em nosso país. Nessa relação entre cinema e história, não devemos negligenciar a importância que a memória cumpre em tal dinâmica. Considerando-se que a memória é um fenômeno individual e, sobretudo, coletivo, submetida “a flutuações, transformações, mudanças constantes” (POLLAK, 1992: 201). Parto da premissa que essas obras corroboram para o direito à memória e à verdade, prerrogativas importantes da justiça de transição, que foram estabelecidas a partir do Terceiro Programa Nacional de Direitos Humanos, lançado em 2009. Diversos são os filmes que por meio de recortes diversificados lidam com a temática do período autoritário no Brasil. A minha reflexão sobre a função que essas obras audiovisuais cumprem nesse contexto de direito à memória e à verdade está centrada nos filmes da cineasta Lúcia Murat. Referências Bibliográficas POLLAK, Michael. Memória e identidade social. Estudos Históricos. vol. 5, n.10, 1992, p. 200-212.

 

Mapas culturais: novas dinâmicas dos lugares de memórias

Anahi Rocha Silva (Unesp)

O patrimônio físico dos lugares tradicionais de memória passou a ser replicados, produzidos e disponibilizados em meio digital, num contexto informacional e tecnológico, emergindo o paradigma pós-custodial. Ao lado das novas abordagens dos museus, arquivos e bibliotecas em ambientes informacionais digitais, estão as plataformas eletrônicas governamentais no campo cultural, fazendo com que esse encontro entre memória e tecnologia se dê nas formas, nos lugares e através das ferramentas utilizadas na contemporaneidade de maneira jamais vista. Esta iniciativa de mapeamento colaborativo, feito a partir das narrativas subjetivas da população de determinada localidade, compreende um processo de registro e documentação dos comportamentos e manifestações culturais brasileiras, aptos inclusive a incrementar pesquisas históricas como fontes alternativas, subsidiárias ou como conotação enfática de uma informação contida em algum documento público. Observa-se que a proposta de materialização das memórias individual, coletiva e marginal em suporte digital formam um patrimônio documental importante para a memória do futuro. São apresentadas as possibilidades, sob a perspectiva da Arquivologia, que este ambiente digital contempla, com o fim de contribuir com o fortalecimento da área.

 

O movimento Slow Food e o sujeito contemporâneo: formas de sensibilidades articuladas por uma cultura de consumo

Raquel Duarte Hadler (Escola Superior de Propaganda e Marketing -ESPM)

A proposta deste artigo é apresentar uma das discussões originárias da dissertação “Ética, Comunicação e Consumo: o Slow Food como forma de comunicar uma vida boa nas culturas de consumo”. A proposta desta dissertação foi abordar uma discussão, a partir de uma reflexão sobre o conceito de vida boa desenvolvido por Aristóteles, sobre as possibilidades de comunicação deste conceito nas culturas de consumo, o que foi realizado através da análise de narrativas do movimento Slow Food. Assim, ao avançarmos no desenvolvimento da pesquisa sobre o movimento, observamos o seu forte entrelaçamento com o contexto sociocultural contemporâneo na luta por seus ideais. Este percurso de investigação nos revelou que o movimento não é fruto apenas de reivindicações éticas e políticas, como também espelha uma forma de sociabilidade do sujeito contemporâneo, fruto de uma sensibilidade que se desenvolveu nas brechas da modernidade.

 

Percursos de vida: História de jovens urbanos dos meios populares no enfrentamento dos constrangimentos e potencialidades nos processos de construção de si

Moisés Ferreira Geraldo (Secretária Estadual de Educação – SEEMG)

A proposta é discutir sobre os percursos de vida de jovens moradores do Conjunto Habitacional Palmital, da cidade de Santa Luzia, Minas Gerais, participantes de dois coletivos culturais. Compreender, por meio dos percursos de vida desses jovens os elementos que contribuíram para sua construção identitária. A identidade de jovens pobres do Palmital é o eixo central do debate, partindo da experiência pessoal numa perspectiva em que o sujeito que narra se vê como sujeito que constrói. A história do Palmital e de suas famílias são elementos importantes para entendermos o contexto em que esses jovens se formaram. Jovens urbanos dos meios populares que trazem elementos do próprio bairro para o enfrentamento dos seus problemas, em seus múltiplos significados elaborados em torno de um contexto de grande desigualdade. De que maneiras jovens urbanos dos meios populares constroem sua(s) identidade(s) através da própria trajetória de vida e dos significados construídos de ser jovem através das suas inserções no bairro Palmital?

 

As sessões de cineclubes como metodologias participativas: a educação popular sobre o tráfico humano

Glauber Eduardo Ribeiro Cruz (Rede de Ensino do Estado de Minas Gerais)

O texto tem objetivo apresentar os resultados do projeto Metodologias participativas na abordagem do tema tráfico humano: sessões comunitárias de cineclubes, desenvolvido pelo Instituto de Promoção e Desenvolvimento Social Tucum e financiado pela Cáritas Brasileira. Os cineclubes se tornaram os meios encontrados pelo Instituto Tucum para construir uma proposta de educação popular que englobasse novos olhares pelos sujeitos e suas realidades. O referencial teórico está baseado nas fontes governamentais e de instituições que têm o tráfico humano como tema de pesquisa e preocupação social. A metodologia utilizada no projeto foi baseada nos processos: ver, julgar e agir com foco no tema tráfico de pessoas. O projeto foi construído coletivamente com a participação dos cursistas – que foram moradores/as, agentes pastorais, jovens, educadores/as locais e atores comunitários – como legítimos atores do processo de atuação no território. Enfim, pretende-se analisar como foi realizado o percurso e a realização das metodologias participativas do tráfico de pessoas por meio de sessões comunitárias de cineclubes como uma proposta de educação popular.

 

 

Ementa do GT:

Na contemporaneidade, as cidades se configuram como cenários de complexas relações socioculturais, lugares marcados pelas memórias e histórias de sujeitos e/ou grupos que continuamente procuram (re)inventar suas identidades, formas de sociabilidade e práticas de poder. Nestes cenários, diferentes suportes e meios de comunicação difundem olhares heterogêneos sobre a urbe e seus habitantes, visões que imbricam vozes e sensibilidades provenientes de temporalidades e espacialidades distintas, capazes de desvelar as camadas de sentidos que recobrem as articulações sociais. Práticas culturais diversas, existentes nas cidades, colocam-se como mediadoras presentes nos modos de percepção e apreensão da realidade social pelos diferentes sujeitos que se movimentam no espaço urbano, constituindo-se processos constantes, difusos e heterogêneos de formação de visões de mundo, perpassadas tanto por dimensões racionais quanto sensíveis. Os espaços urbanos apresentam-se, portanto, atravessados por múltiplas formas de educação das sensibilidades, em meio às quais os sujeitos produzem conhecimentos resultantes de negociações, tensões e contradições. Ao focalizarmos memórias e histórias que circulam através dos espaços e equipamentos da cidade – sejam escolas, ruas e praças, meios de transporte, clubes e associações, ou jornais, revistas, rádios, imagens iconográficas diversas, dentre outros –, podemos problematizar as implicações das modernas práticas culturais, das formas de viver, sentir e conceber o espaço urbano. Considerando as potencialidades das investigações que abordam a referida temática, este GT pretende contribuir com as discussões que refletem acerca das relações entre memórias, modernas experiências urbanas e educação das sensibilidades.

Bibliografia:
BENJAMIN, Walter. Passagens. Belo Horizonte: Editora UFMG; São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2009.
______. Magia e técnica, arte e política: ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 2012 (Obras escolhidas; v. 1).
CAUQUELIN, Anne. Essai de philosophie urbaine. Paris: PUF, 1982.
DE CERTEAU, Michel. A cultura no plural. Campinas, SP: Papirus, 1995.
______. A invenção do cotidiano. Petrópolis, RJ: Ed.Vozes, 1998.
GALZERANI, Maria Carolina Bovério. O almanaque, a locomotiva da cidade moderna: Campinas, décadas de 1870 e 1880. 1998. 341 f. Tese (Doutorado em História) – Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 1998.
______. Memória, História e Tempo: perspectivas teórico-metodológicas para a pesquisa em Ensino de História. Cadernos do CEOM, ano 21, n. 28, p.15-31, 2008.
______. Práticas de ensino em projeto de educação patrimonial: a produção de saberes educacionais. Pro-posições, Campinas-SP, v. 24, n.1(70), p.93-107, jan./abr. 2013.
______. Imagens entrecruzadas de infância e de produção de conhecimento histórico em Walter Benjamin. In: FARIA, Ana Lúcia Goulart de; DEMARTINI, Zelia de Vrito Fabri; PRADO, Patricia Dias. (orgs.). Por uma cultura da infância: metodologias de pesquisa com crianças. Campinas, SP: Autores Associados, 2002.
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