VIII Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp

GT4 – MEMÓRIA E CIDADE

Coordenação: Josianne Cerasoli – IFCH-Unicamp

Local: CEL – sala 10 – piso1

26/07 – terça feira – (14:00 às 18:00)

Imagens de São Paulo traçadas pelos caminhos fluídos da memória: um percurso pelas obras de Claude Lévi-Strauss

Thainã Teixeira Cardinalli (Unicamp)

A partir dos fundamentos da memória, sua capacidade de reatualizar e reinterpretar as lembranças e experiências vividas, almejo acompanhar as narrativas de Claude Lévi-Strauss, que se referem a cidade de São Paulo. O antropólogo morou na capital paulista entre 1935 e 1938, onde lecionou na recém fundada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da USP e realizou expedições à campo, primeiramente, nos arredores do estado e depois junto a tribos indígenas do centro-oeste brasileiro. Registrou essas vivências e percursos exploratórios, particularmente, em três obras, Tristes Trópicos (1955), Saudades do Brasil (1994) e Saudades de São Paulo (1996), elaboradas, assim, décadas após as experiências nos trópicos. São produções que além de se apoiarem nas lembranças do antropólogo sobre os fatos ocorridos, carregam suas reflexões inscritas no período da redação. Me proponho, portanto, a investigar o diálogo entre memória e cidade, ao acompanhar de que maneira Lévi-Strauss sobrepõe seus questionamentos, preocupações e críticas nas construções imagéticas de São Paulo.

 

Memórias da praça: análise de relatos e descrições do antigo Jardim Público/ Praça da Matriz da cidade de Piracicaba

Douglas Pinheiro Graciano (Secretaria da Educação – SP)

Essa proposta visa analisar relatos de memória que se remetem ao antigo Jardim Público/ Praça da Matriz da cidade de Piracicaba. O local passou por constantes transformações estéticas que muitas vezes atenderam às demandas dos grupos mais influentes da vida pública da cidade. Os relatos foram originalmente publicados pela imprensa local e se dedicam à primeira metade do século XX. As fontes descrevem o aspecto do local, os usos e a interação dos habitantes, naquele que foi por muito tempo considerado o principal espaço social da cidade. Tenciona-se demonstrar como fontes escritas, disponíveis nos acervos históricos, em especial relatos de memória e descrições de lugares, podem contribuir na abordagem historiográfica que toma a cidade e seus espaços como objeto de estudo. Aqui, Cidade é entendida como construção de diversas épocas, coexistindo num mesmo espaço por meio de processos como a substituição, sobreposição ou composição em diferentes níveis (PESAVENTO, 2008). Além de estabelecer uma imagem e reconhecer as transformações ocorridas na praça tendo por base os relatos, buscar-se-á refletir sobre os elementos constituintes da memória, entendendo-se que o ato de rememorar e a própria memória em si compõe-se de partículas pessoais e sociais, individuais e coletivas.

 

Rizkallah Jorge Tahan e a construção de sua representação no espaço urbano da cidade de São Paulo (1895-1949)

Renata Geraissati Castro de Almeida (Universidade Federal de São Paulo)

Rizkallah Jorge Tahan foi um imigrante sírio-libanês com ascendência armênia que migrou para o Brasil em 1895, e deixou uma série de marcas no espaço urbano, entre elas a Casa da Boia, comércio que foi pioneiro na venda de objetos sanitários e três palacetes residenciais para aluguel na rua Carlos de Souza Nazareth. Portanto o objetivo desta, comunicação é analisar como esses edifícios bem como uma série de outros elementos criados ele, contribuíram para a gênese de uma imagem cristalizada. Percebe-se que o mesmo, ainda no período em que estava vivo, possuía como objetivo forjar uma memória de si, um destes indícios é um filme encomendado por ele em 1928, que mostra os edifícios que estavam sendo construídos sob sua demanda, bem como sua casa na Avenida Paulista, com carros e ônibus transitando pelas ruas pavimentadas e seus funcionários trabalhando na Casa da Boia.

 

Rua Conde de Sarzedas: ocupação urbana e loteamento nas obras particulares de São Paulo (1897-1922)

Monique Félix Borin (UNICAMP)

Esta comunicação propõe a investigação do loteamento e ocupação da rua Conde de Sarzedas, localizada no bairro da Liberdade, em São Paulo, entre os anos de 1897 a 1922. Pretende-se, assim, esmiuçar a ocupação da rua tida como a pioneira da presença japonesa nesse bairro, e a partir disso, discutir a hegemonização da perspectiva de bairro oriental na historiografia sobre a Liberdade. A primeira presença registrada de japoneses habitando a Liberdade é de 1912, quando famílias começaram a fixar residência em moradias coletivas na rua Conde de Sarzedas. Esse não foi o começo do adensamento urbano do bairro, que teve importantes funções públicas para a São Paulo colonial e imperial. Abrigou o primeiro cemitério da cidade, e também a forca, ambos datados de 1775; a forca foi retirada em 1858, sendo a região rebatizada de Largo da Liberdade. Propõe-se a análise dos pedidos sobre a rua na série Obras Particulares, do Arquivo Histórico de São Paulo, para investigar a sua ocupação e suas relações com a perpetuação de um imaginário originário oriental do bairro. A data inicial refere-se à inclusão da rua nos mapas da cidade, no levantamento de Gomes Cardim; já a data fim está há uma década do primeiro registro de ocupação japonesa, permitindo mapear a parte inicial desse movimento.

 

Se toda cidade é histórica: como avaliar a historicidade de cidades não centenárias?

Daniela Andrade Coelho da Fonseca (Universidade do Oeste Paulista)

Esta pesquisa basear-se-á na ideia de que toda cidade é histórica na memória daqueles que percebem nos espaços que ocupam, a vida de seus antepassados. Acredita-se que os espaços façam parte das próprias histórias, principalmente dos habitantes que ali nasceram e permaneceram. Fernando Carrión defende que o todo da cidade e todas as cidades são históricas e essa afirmação baseia-se na questão de que os espaços revelam diversos tempos, como também múltiplas manifestações culturais construídas por seus habitantes durante décadas, séculos ou milênios. Para lucidar essa questão, este trabalho pretende levantar dados da cidade de Presidente Venceslau, Estado de São Paulo, que provem sua historicidade, embora conte com apenas 89 anos. Para isto, far-se-ão levantamentos dos espaços considerados parte da memória da cidade, a fim de visualizar a valorização atual do passado e conceituar essa memória. Discutir os conflitos entre atores sociais que defendem a inovação a qualquer preço e os que lutam pela conservação, constitui-se na parte final deste estudo.

 

Sinfonia na cidade: sons e memória no cotidiano urbano

Marcela Alvares Maciel (UFFS)

Os estudos contemporâneos do ambiente sonoro vêm buscando a transcendência da abordagem tradicional da busca incessante pelo silêncio para o paradigma emergente da qualidade sonora, com destaque para o valor estético da paisagem sonora. A paisagem sonora é formada dentro de um contexto, marcado por todos os estímulos sensoriais e pelo conhecimento acumulado pelas pessoas acerca do espaço e seu uso, incluindo ainda seu significado cultural. Neste contexto, o presente trabalho propõe a compreensão da paisagem sonora enquanto patrimônio imaterial das cidades contribuindo para o fortalecimento da noção de pertencimento de indivíduos a um lugar. Para tanto, buscou-se desenvolver atividades culturais para identificação, registro e salvaguarda de paisagens sonoras em espaços que se concentram e reproduzem práticas culturais coletivas, como em mercados, feiras, praças e santuários. Como principal resultado, apresenta-se a instalação artística itinerante “Memórias Sonoras”, disponibilizada em espaços públicos de Erechim, como uma estratégia de escuta do ambiente urbano, despertando a atenção e consciência dos cidadãos para as questões, virtudes e valores estéticos das paisagens sonoras do cotidiano. Uma raça alegre para um povo triste?

 

Considerações sobre a caracterização do imigrante italiano em Paulo Prado e António de Alcântara Machado (1924-1928)

Allan Cavalcanti de Moura (Universidade Estadual de Campinas)

Aventa-se a hipótese da obra Brás, Bexiga e Barra Funda (1927), de António de Alcântara Machado, propagar um discurso sobre como a permanência dos italianos em solo brasileiro teria o potencial de superar as limitações legadas por uma “raça paulista” pouco altiva e alegre. A obra enuncia em seu prefácio a pretensão de ser o “órgão dos ítalo-brasileiros de São Paulo” e registrar o conturbado e inexorável do processo de integração desses imigrantes e seus descendentes ao solo da nova cidade em que se radicavam. Pretende-se, nessa comunicação, explorar os paralelos que podem ser observados entre esse discurso e os ensaios históricos do industrial paulista Paulo Prado, Paulística (1925) e Retrato do Brasil (1928).

 

Vila Mariana, a formação de um bairro dos Setores Médios na virada do século XIX para o XX

Clara Cristina Valentin Anaya de Carvalho (Universidade Federal de São Paulo)

Uma cidade é constituída pelas ações de camadas sociais diversas, que produzem elementos materiais discursivos sobre processos históricos. Desta maneira, estamos interessados em historiar os empreendedores da urbanização dos setores médios e nos propomos em circunscrever temporalidades e territorialidades nas quais estes agentes históricos reconfiguraram espaços urbanos próprios. No caso de São Paulo, na Vila Mariana, os urbanizadores dos setores médios na virada do século XIX para o XX configuram o bairro a sua feição. Os setores médios, em sua complexidade e heterogeneidade, foram moradores e promotores de construções, aproveitando as oportunidades incrementadas pelos anos republicados. Elaboraram alternativas de sobrevivência, construindo imóveis para residência própria, negócios e para o mercado rentista, tornando-se, inegavelmente, ativos na dinâmica de ocupação e adensamento do bairro. O processo de urbanização na região de Vila Mariana ocorreu de maneira heterogênea e em ritmos diferentes, condicionado pelos modais de transporte, pelos espaços simbólicos, pelas vias de circulação, além da geomorfologia do lugar. E, primordialmente, foi fruto das ações das camadas intermediárias em toda sua diversidade, deixando marcas indeléveis na feição da Pauliceia.

 

Local:CEL –  sala 10 – piso1

27/07 – quarta feira – (14:00 às 18:00)

(Des)cobrir a cidade: ressignificações do espaço urbano de Buenos Aires em Medianeras (2011)

Suelen Caldas de Sousa Simião (UNICAMP)

As narrativas cinematográficas compõem um importante objeto cultural, a partir do qual a cidade é lida e apreendida em diversas e inúmeras tramas. Nesse sentido, as análises fílmicas podem ser utilizadas objetivando compreender de que maneiras as pessoas assimilam e registram as mudanças na urbe. Assim, o presente trabalho busca problematizar, a partir do filme argentino Medianeras, de Gustavo Taretto (2011), as diferentes percepções do espaço da cidade esboçadas pelos personagens Martín e Mariana, que veem na cidade e, sobretudo, na arquitetura de Buenos Aires, a perfeita metáfora do caos. Ao longo da película pode ser assinalado um sintoma de inadaptação ao espaço urbano contemporâneo e é a partir dele que os personagens ressignificam o espaço, como no caso da abertura de janelas nas medianeras, atitude considerada uma rota de fuga ilegal à escuridão dos apartamentos. Portanto, o objetivo do trabalho é identificar os usos e representações do espaço urbano portenho, bem como suas ressignificações, a partir da necessidade de interpreta-lo e (re)descobri-lo, na contemporaneidade.

 

A memória na formação e transformação do patrimônio cultural edificado: o caso do convento de San Jerónimo

Fernanda Cristina Pereira Drumond (UNICAMP)

A cidade é entendida como um espaço de conflitos e circulação de ideias; criadora e criatura de um sistema de memórias coletivas e individuais, sempre seletivas e parciais. Na complementaridade entre memória e esquecimento, os espaços edificados surgem como uma representação concreta dos anseios da sociedade contemporânea, bem como dos grupos sociais do passado. Essa ideia de que na cidade coexistem elementos de temporalidades diversas é trazida por Christine Boyer, que argumenta que existem camadas temporais que devem ser compreendidas no interior da ordem material do espaço, sendo esta constantemente alterada pelas demandas e pressões sociais. O antigo convento de San Jerónimo, edificado em 1585 na Cidade do México, personifica a sobrevida de elementos de sociedades temporalmente distintas em um mesmo espaço físico, bem como gera questionamentos sobre as escolhas políticas que culminaram em sua eleição como patrimônio cultural da nação mexicana. Em 1980, o governo federal criou estratégias visando “revitalizar” o centro histórico tido, então, como em declínio. Neste projeto, tal edificação, que teve variados usos a partir do século XIX, foi novamente associada com uma memória conventual. Pergunta-se, então, quais memórias foram priorizadas na construção desse projeto político.

 

Banquetes, festa, espetáculo e representações: luz elétrica e as novas sensibilidades/sociabilidades em Aroeiras-PB (1930-1960)

Iordan Queiroz Gomes (UFBA)

Liélia Barbosa Oliveira (UEPB)

Este trabalho tem por objetivo analisar a recepção aos sistemas de iluminação elétrica instalados na cidade de Aroeiras entre as décadas de 1930 e 1960, momento em que vivenciou um considerável número de mudanças sentidas e experimentadas por muitos de seus antigos habitantes. Para tanto, procuramos perceber como seus antigos moradores sentiram, recepcionaram, representaram tal momento, ou seja, atentando à possíveis mudanças de comportamentos, hábitos e práticas experimentadas após a introdução desses equipamentos modernos. Neste sentido, este trabalho contempla a cidade de Aroeiras, no período estudado, na possibilidade de ser lida, sob diversos ângulos, visualizada, sobretudo, não apenas sob a óptica dos poderes legalmente instituídos, mas também através das leituras feitas por seus antigos moradores, através da memória, acessada por meio das lembranças, representações agenciadas “pelos relatos de espaço” e possibilitadas pelo manuseio da história oral. Sendo notória, a partir deste exercício, a presença de múltiplas leituras, apropriações, consumos, sensibilidades e representações inscritas sobre as transformações ocorridas no espaço urbano aroeirense nos idos de nossa (re)visitação.

 

Memória, Cidade e Segregação: brancos e negros na praça Carlos Gomes:1923/1925

José Roberto Gonçalves (PUC-SP)

O objetivo deste trabalho é dialogar sobre o espaço público das cidades, tendo como pano de fundo as disputas entorno da praça Carlos Gomes – Campinas-SP, interpretada pelos editores do jornal negro Getulino – 1923- 1925. Trabalharemos dentro da perspectiva da História Social, apoiados na Análise de Discurso – AD, de forma a compor um quadro reflexivo sobre as memórias construídas entorno da ocupação deste espaço urbano, pelos diferentes grupos sociais, brancos e negros, que elegem este lugar como campo de disputa. Partimos do princípio que não há espaço social sem sujeito, e que os espaços urbanos são construídos ao mesmo tempo que os sujeitos se constituem no espaço social. Nas cidades não há espaços vazios, destituídos do sentimento de posse – mesmo as praças e as ruas, símbolos máximos do espaço público, têm ‘donos’. São lugares controlados, pelos quais lutas silenciosas e veladas se travam entre as diversas populações que por ali circulam, impondo formas de convivência, de ‘ver e ser visto’, de quem pode circular e, a quem é vedado. A oposição entre “brancos” e “negros” é posta em evidência nas matérias publicadas pelo jornal negro campineiro, destoando do discurso oficial do Estado brasileiro que não existia segregação social na República que se firmava no momento.

 

Memórias negras às margens da Guanabara: o Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana na cidade do Rio de Janeiro

Sandro Vimer Valentini Junior (Universidade Estadual de Campinas)

A Operação Urbana Consorciada Porto Maravilha, empreendimento que visa a recuperação da frente marítima e região portuária do Rio de Janeiro, desde 2009 transforma a cidade. A reorganização do espaço urbano colocou em evidência vestígios do passado da região atrelado às memórias de africanos escravizados que desembarcavam pelo Valongo, antigo porto da cidade. Conciliando as premissas do projeto Porto Maravilha, que propõe por lei a criação de circuito histórico e a valorização do patrimônio, a administração pública por meio do Grupo de Trabalho Curatorial elaborou o Circuito Histórico e Arqueológico de Celebração da Herança Africana, composto por seis lugares localizados na região portuária conectados à memória africana na cidade. Assim, a nova cidade que surge pelas transformações estruturais deve ser capaz de conciliar memórias diversas na construção da identidade carioca. Pela análise dos bens e lugares celebrados, desvendam-se as relações entre a cidade, as memórias e os grupos identitários, bem como os processos de divulgação de memórias e como são retomados lugares antes compreendidos como destituídos de valor. Busca-se problematizar a memória construída, como se apropria dos lugares e como o modelo contemporâneo de cidade pressupõe a criação de amálgamas identitários.

 

Museu de rua: o espaço urbano como espaço expositivo e a construção da memória coletiva

Ingrid Hotte Ambrogi (Universidade Presbiteriana Mackenzie)

Elaine Aparecida Jardim (Universidade de São Paulo)

Ralf José Castanheira Flôres (Centro Universitário Senac)

O presente trabalho resgata o Projeto Museu de Rua, realizado nas ruas do centro da capital paulista, entre 1977-78, constituído por exposição de painéis fotográficos representativos de uma leitura visual comparativa entre as imagens urbanas do final do século XIX em contraponto à paisagem do lugar na época da exposição. Os painéis fotográficos foram compostos a partir do acervo fotográfico do Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura Municipal de São Paulo (DPH). Experiência que teve como arcabouço teórico a Sociomuseologia, especialmente ao promover a inclusão do sujeito na construção da memória urbana, no contexto de metropolização da cidade, por meio de uma experiência capaz de integrar o objeto e a memória à vida cotidiana comunitária. A metodologia do Projeto Museu de Rua, inicialmente realizado em três pontos distintos da região central, teve desdobramentos para outros bairros da capital e para outras cidades paulistas, contando aproximadamente 80 experiências. Trazer esse projeto para a contemporaneidade possibilita a leitura das várias camadas de registros das transformações urbanas de São Paulo como recurso histórico para a problematização e compreensão da realidade urbana atual.

 

O lazer na cidade de São Paulo: a experiência do Parque Shanghai (1937-1968)

Hennan Gessi (UNIFESP)

Esta pesquisa buscará evidenciar o processo de difusão de espaços de lazer em São Paulo por meio da análise da trajetória de uma experiência: do Parque de Diversões Shanghai, empreendimento privado surgido na capital paulista em meados década de 1930 no contexto de sua vertiginosa expansão. Destarte, para a construção dessa pesquisa, serão examinadas, com especial cuidado, fontes textuais, iconográficas orais com a intenção de compreender o modo de inserção deste equipamento na cidade em uma época em que a questão do lazer estava sendo introduzida, tendo em vista as graduais conquistas no campo do trabalho, a ampliação das demandas por novos espaços de lazer e os debates em torno da regulamentação do direito ao lazer.

 

Rituais e práticas memorialísticas no espaço da cidade: A Plaza de Mayo e a celebração da independência argentina

Ana Carolina Oliveira Alves (Universidade Estadual de Campinas)

A Plaza de Mayo é um espaço histórico de poder. É uma praça central na vida de Buenos Aires e da Argentina, sendo centro físico e simbólico da cidade por ter ao seu redor importantes instâncias de poder. Analisaremos a reinterpretação dos sentidos do passado a partir do espaço da cidade que atualiza memórias, gerando comemorações/memoriais que monumentalizam determinados eventos, lugares ou personagens. Buenos Aires foi alvo de transformações no início do século XX e as comemorações do centenário da Independência emergiram como celebrações cívicas na capital tendo a Plaza de Mayo um papel central. A Independência foi celebrada ano após ano como forma de ritualizar esse momento. As celebrações são exibições de poder e funcionam como artifícios que variam da pedagogia à propaganda, intentando evocar sentimentos patrióticos. Seu caráter político é evidente pois são parte de um ritual que busca representar de forma pública a sociedade expressando práticas simbólicas e ritos de recordação que tangenciam os usos feitos do passado. O caso da Plaza de Mayo e a ritualização da independência foi escolhido para pensar essa relação e questionar estas práticas que trazem à tona relações de poder que, a partir dos ritos, definem interpretações feitas do passado a partir do presente.

 

Local: CEL – sala 10 – piso1

28/07 – quinta feira – (14:00 às 18:00)

A I Escola Normal da “Athenas do Sul de Minas” nos documentos de Campanha arquivados no Arquivo Público Mineiro

Vera Lúcia do Lago Souza (USP- Universidade de São Paulo)

Este trabalho integra o Capítulo II da Dissertação de Mestrado “Athenas do Sul de Minas: Entre a Memória e a História da Educação-Práticas e Representações das Elites de Campanha-1870/1930”, em que propôs-se a compreender a metáfora “Athenas do Sul de Minas” criada para a cidade sulmineira de Campanha. A metáfora foi entendida aqui como representação através da interpretação da obra dos memorialistas do lugar à luz da História da Educação e da História Cultural e suas categorias. A análise das práticas culturais da elite campanhense, já sem os recursos do ouro, revelou que na gênese da representação Athenas do Sul de Minas para Campanha estavam as estratégias de manutenção do status quo desta camada social através da busca de distinção com os títulos oriundos da sua formação nos cursos superiores do país. Estes títulos lhes possibilitaram a inserção na política e nos quadros burocráticos do Estado tanto imperial como republicano no período de 1870/1930. A I Escola Normal de Campanha foi entendida como o lócus em que as estratégias de distinção e relações políticas desta elite se iniciavam. Chegou-se a essa escola através da obra dos memorialistas do lugar e pelos documentos como relatórios, livros de matrícula e atas de exames da corporação localizadas no Arquivo Público Mineiro.

 

As ações sanitárias e seus dilemas: fiscalização, denúncias, reclamações e toda sorte de imprevistos que a São Paulo couber

Karla Maestrini (Arquivo Histórico de São Paulo)

O presente artigo tem como mote explicitar feixes do cotidiano das ações de fiscalização na cidade de São Paulo durante os primeiros anos de funcionamento da prefeitura municipal , buscando entrever os problemas e reveses contidos nas intervenções ocorridas no espaço urbano e concomitantemente na vida dos habitantes da urbe. Ao adentrarmos às diversas áreas e setores que constituíam o serviço de fiscalização e vigilância à saúde e higiene na capital paulistana, objetivamos apreender um pouco sobre o alcance e os efeitos surtidos pelas ações sanitárias dentro do ambiente citadino. Nesse sentido, os serviços oferecidos e executados pela administração municipal nem sempre saiam de acordo com o esperado, gerando com isso, manifestações por parte dos munícipes, da imprensa local e alguns setores próprio poder público. Os serviços mal prestados ou não realizados, os resultados adversos das intervenções urbanas e os gastos mal empregados pela prefeitura eram alvo da crítica implícita e explícita de alguns grupos da população paulistana.

 

Construindo o cotidiano: reflexões sobre memória urbana, escrita da história e construção civil no Brasil (1920-1930)

Leonardo Faggion Novo (UNICAMP)

O trabalho objetiva debater as dinâmicas de escrita da história da arquitetura no Brasil, evidenciando os profissionais não diplomados atuantes no campo da construção civil durante as primeiras décadas do século XX na cidade de São Paulo, comumente esquecidos nas narrativas sobre a cidade no período. Com a regulamentação da profissão de arquiteto, através do Decreto Federal nº 23.567 de 1933, a abrangente categoria dos construtores foi, definitivamente, dividida entre os diplomados por escolas de engenharia e arquitetura (sobretudo a Escola Politécnica de São Paulo e o Mackenzie College), e os que atuavam sem possuírem um diploma, conhecidos como “práticos”. A campanha pela regulamentação profissional pode ser lida, nesse sentido, como um movimento pela desqualificação de tais profissionais não diplomados, restringindo e limitando o mercado de trabalho de maneira a diminuir essa “concorrência desleal”. A esse aspecto político, ainda somam-se debates internos ao campo da arquitetura, como a desvalorização do ecletismo frente a ideologias nacionalistas e modernistas. A investigação, portanto, intenta questionar o parcial e lacunoso conhecimento histórico acerca da formulação e consolidação de um saber técnico sobre a cidade, bem como da memória sobre aqueles que a transformaram.

 

Construtores anônimos em Campinas (1892-1933): fortuna crítica de suas obras na historiografia e nas políticas de preservação da cidade

Rita de Cássia Francisco (Arquivo Municipal de Campinas)

Esta comunicação aborda o panorama da construção civil em Campinas entre as décadas de 1890 e 1930, trazendo à tona a produção de construtores não diplomados, então enquadrados pela legislação como arquitetos licenciados. Apesar de sua intensa atividade, da permanência material de suas obras e da existência de referências documentais do conjunto edificado, tais obras chegaram aos dias de hoje sem autoria conhecida, atribuídas, assim, a construtores anônimos. Uma das vias propostas para discussão baseia-se na análise da vasta documentação reunida no Arquivo Municipal de Campinas, visto que os processos tramitados para obtenção de licenças para construir ou reformar, com respectivos desenhos técnicos, revelam-se exemplares não só da grande atuação que os licenciados tiveram no período mas também da qualidade técnica e formal de suas obras. Por fim, partindo da cidade real, expressa tanto materialmente quanto na documentação arquivística e aproximando a discussão a problemas contemporâneos, propõe-se mapear o movimento das ideias e a atuação das personagens envolvidas com a questão da história, da arquitetura e do patrimônio cultural e verificar a repercussão do esquecimento desses construtores na historiografia, nas pesquisas acadêmicas e práticas preservacionistas do município.

 

Instrução, Imprensa e Modernidade no Século XIX – Lugares distintos, ideias convergentes

Adriana Aparecida Pinto (Professor Adjunto)

Sandra Chedid Racy (INPG)

A proposta evidencia a articulação de pesquisas em história da educação brasileira, utilizando como fonte a imprensa periódica de circulação geral, com abordagem teórico-metodológica assentada na Nova História, na vertente da história cultural. Buscou-se identificar e analisar a circulação e permanência de discursos comuns acerca da “modernidade”, entre os anos de 1870-1890, presentes nos jornais em circulação no período, relativos à instrução/educação nas localidades indicadas, a saber: Campinas, em São Paulo, e Cuiabá, em Mato Grosso. A análise dos textos publicados indicou a legitimação dos jornais impressos como porta-vozes de uma pretensa e almejada sociedade, que buscava a adesão ao que se considerava moderno, conforme o padrão europeu, tendo a instrução como mola propulsora. A seleção das localidades justifica-se nas percepção comum acerca do discurso sobre a modernidade que circulavam nas as páginas dos impressos. Consideramos que o discurso que permeia a ideia de modernidade nas cidades examinadas, ao final do século XIX, possibilita aproximações, sobretudo no entendimento do que é representativo do moderno no campo educacional, não sendo a distancia geográfica impedimento para que ideias educacionais semelhantes estivessem em circulação em diferentes localidades.

 

O acervo do IV Centenário da Cidade de São Paulo: da organização à exposição dos 60 anos do Parque do Ibirapuera

Fernanda Correia Silva (Centro Universitário Claretiano)

Cintia Stela Negrão Berlini (Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo)

O acervo da Comissão do IV Centenário da Cidade de São Paulo, que está sob a guarda permanente no Arquivo Histórico de São Paulo, é o objeto da apresentação deste trabalho. O processo de organização arquivística e de conservação que passou por diversas fases influenciaram e influenciam seu estado de conservação atual, garantindo o acesso aos documentos a todo cidadão que queira acessá-los. Os bens culturais materiais e as demais ações implantadas pela Comissão em 1954 foram considerados à época um presente para os paulistanos. A riqueza da documentação e os referenciais teóricos compreende-se a importância deste acervo para a história da cidade de São Paulo, constituindo lugares de memória. O trabalho também se justifica pela importância deste patrimônio documental na organização expositiva dos 60 anos de criação do Parque do Ibirapuera em 2015 que, diante da notoriedade – principalmente – do acervo cartográfico, 40 plantas originais foram expostas. Deste modo, a partir do momento que estes documentos deixam o espaço de arquivo para serem expostos se transformam em objetos museais e produzem valores que os tornam instrumentos de reflexão sobre as representações culturais, usos e percepções do espaço urbano.

 

Os desenhos técnicos de Oscar Niemeyer no Arquivo do Distrito Federal de Brasília

Wilson Florio (Universidade Presbiteriana Mackenzie)

A pesquisa realizada sobre doze obras de Oscar Niemeyer tem como objetivo interpretar características das definições geométricas de seus projetos a partir da observação e análise de seus desenhos técnicos. Para tanto foram consultados os desenhos digitalizados e arquivados no Arquivo do Distrito Federal de Brasília. Os projetos originais foram analisados pormenorizadamente, de modo a interpretar a definição de formas e espaços. Foram realizados redesenhos desses projetos, assim como modelos geométricos 3D e maquetes físicas. Foram identificados diferentes procedimentos adotados pelo arquiteto na definição das formas curvilíneas dos projetos analisados. A contribuição original do artigo é apontar essas características a partir de recursos de modelagem paramétrica.

 

Uma metodologia de pesquisa em projeto de arquitetura a partir de arquivos digitalizados da Biblioteca da FAUUSP

Ana Tagliari (Unicamp)

Entre os anos de 2009 e 2012 foi realizada a pesquisa “Os projetos residenciais não construídos de Vilanova Artigas em São Paulo” na FAUUSP, a partir do Acervo Digital da Biblioteca da FAUUSP. Este acervo foi fundamental para o desenvolvimento desta pesquisa. Neste texto são apresentados os critérios de seleção dos projetos analisados, assim como os procedimentos para organização do material. Inicialmente houve a necessidade de se realizar um levantamento de toda a obra residencial de Artigas presente no Acervo Digital da Biblioteca da FAUUSP. Lá foi identificado um total de 262 projetos residenciais, desde residências unifamiliares até edifícios de habitação coletiva. A partir deste universo, houve uma seleção criteriosa, que excluiu os projetos construídos, os demolidos, e os projetos de edifícios de habitação coletiva, restando assim um conjunto de 50 projetos de residências unifamiliares não construídas. O material foi organizado de modo cronológico sendo o primeiro projeto disponível no acervo digital datado de 1941 e o último projeto é de 1981. Houve a realização do re-desenho e maquetes físicas para que a análise dos projetos fossem desenvolvidas de modo adequado.

 

 

Ementa  do GT:

A cidade muda constantemente e em certo sentido a própria mudança define e configura a cidade. Independente de virtudes ou defeitos, a transformação é sua característica inabalável. Para Rykwert, a constância da mudança é a única certeza que podemos aprender com as cidades do passado. Todavia, historicamente constituída, a cidade está inteira no presente e, ao mesmo tempo que se realiza no presente, uma outra organização do território urbano origina-se de configurações anteriores, a todo momento. À semelhança dos mecanismos da memória, a cidade, ou melhor, as sociedades urbanas reatualizam e alteram constantemente os sentidos das formas passadas, reinterpretando-os. Tal reinterpretação contínua impõe para a compreensão da cidade também a interpretação das diversidades e das temporalidades nas quais se faz o urbano (LEPETIT, 2001, 147). Desse modo, a percepção da constância da mutação e da inevitabilidade da reiterada reinterpretação exigida pela cidade parece atualizar a conhecida advertência de Benjamin em seus escritos sobre a infância em Berlim: “Saber orientar-se numa cidade não significa muito. No entanto, perder-se numa cidade, como alguém que se perde numa floresta, requer instrução.”
Pelo fascínio e temores que desperta, pelas forças e tensões que aglutina, pelos desafios e possibilidades que reitera, pelas memórias e percepções que atualiza, a cidade tem mobilizado a compreensão, a reflexão e a busca por diferentes modos de registro de suas mudanças. A partir desse horizonte, propõe-se para este grupo de trabalho estudar a cidade historicamente, pretende-se abarcar: relações entre identidades e espaço; representações culturais e intelectuais da cidade (narrativas, imagens, paisagens mentais etc.); usos e representações políticas da cidade; diferentes percepções do espaço da cidade; relações entre imagens e espaços da cidade; reflexões sobre os discursos e os ‘lugares de memória’ na cidade; abordagens historiográficas sobre transformações urbanas.

Bibliografia:
ARGAN, Giulio Carlo. O Espaço Visual e a Cidade. In: _____. História da Arte Como História da Cidade. São Paulo: Martins Fontes, 1995, pp. 225-242.
BENJAMIN, Walter. Obras Escolhidas, Vol I e II: magia e técnica, arte e política; A infância em Berlim por volta de 1900. São Paulo: Brasiliense, 1994.
HÉNAFF, Marcel. La ciudad que viene. Santiago-Chile: LOM Ediciones, 2014.
OLIVEIRA, Lúcia Lippi (org.). Cidade: história e desafios. Rio de Janeiro: Ed. FGV, 2002, p. 16-35.
PECHMAN, Robert; KUSTER, Eliana. O chamado da cidade. Ensaio sobre a urbanidade. Belo Horizonte: ed. UFMG, 2014.
PELLITERO, Ana M. Moya. La percepción del paisage urbano. Madri: Biblioteca Nueva, 2011
RYKWERT, Joseph. A Sedução do Lugar: a história e o futuro da cidade. São Paulo: Martins Fontes, 2004.
SCHAMA, Simon. Paisagem e Memória. São Paulo: Companhia das Letras, 1996.
SARLO, Beatriz. Sete ensaios sobre Walter Benjamin e um lampejo. Rio de Janeiro: Ed. UFRJ, 2013.