VIII Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp

GT2 – MEMÓRIA, HISTÓRIA ORAL E IMAGEM

Coordenação: Ana Carolina de M. D. Maciel (pesquisadora do CMU – Unicamp)

Local: CEL –  sala 09 – piso 1

26/07 – terça-feira – (14:00 às 18:00)

 

A disciplina Desenho e a formação prática das normalistas do Instituto Samuel Graham (1953-1956) da cidade de Jataí – Goiás

Kamila Gusatti Dias (UEMS)

Ademilson Batista Paes (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul)

Esta comunicação apresenta contribuições para o conjunto de estudos historiográficos sobre a educação protestante em Goiás, na cidade de Jataí, tendo como foco o Instituto Samuel Graham, uma instituição fundada por presbiterianos norte-americanos. Para tanto, nossa pesquisa tem o objetivo investigar a funcionalidade da disciplina “Desenho” inserida no currículo dessa instituição no curso Normal Regional e a sua relação com a formação prática das normalistas. O marco temporal aqui elencado compreende o período da primeira turma de normalistas do Curso Normal Regional. Dessa maneira, procedeu-se como campo metodológico o mapeamento de documentos, fontes orais, cadernos de ex-alunas e aportes teóricos específicos. Esse curso tinha como propósito formar professores Regentes do Ensino Primário e ao examinarmos a funcionalidade dessa disciplina na formação dessas alunas, confere-nos um panorama sobre a utilização pedagógica em seu cotidiano, por meio da atuação das normalistas em suas aulas práticas de estágio.

 

A história oral e a análise de narrativas sobre a “Festa de São Cosme e Damião da Dona Nilda Benzedeira” em Matinhos/PR (1992-2015): uma discussão teórico-metodológica

Aline Suzana Camargo da Silva Cruz (UFPR)

Propomos a apresentação de um texto que resulta de reflexões acerca de nosso objeto de estudo da pesquisa de mestrado, a qual, a partir da análise de narrativas orais sobre a “Festa de São Cosme e Damião da Dona Nilda Benzedeira”- experiência de religiosidade que acontece anualmente no município de Matinhos/PR desde 1992- pretende discutir o lugar dos sentimentos na constituição desse evento que é parte da história da cidade, realizando assim, uma discussão acerca da influência dos sentimentos na história. O referido texto divide-se em três itens. No primeiro, realizamos uma explanação acerca da crença em Dona Nilda Benzedeira bem como da “Festa a São Cosme e Damião” por ela organizada. No segundo item, discorremos acerca da emergência da história oral no meio acadêmico atendo-nos também ao conceito de história oral e aos seus principais pressupostos. No terceiro e último item, discutirmos questões concernentes à memória e ao trabalho com narrativas, debruçando-nos sobre situações cotidianas, dilemas e armadilhas a que o historiador está sujeito ao trabalhar com a metodologia de história oral. As discussões desenvolvidas no texto mantiveram estreito diálogo com o produto de entrevistas por nós realizadas com moradores da cidade de Matinhos/PR.

 

As festas de 16 de julho na cidade de Borda da Mata – MG

Cleyton Antônio da Costa (Universidade do Vale do Sapucaí)

A presente pesquisa visa analisar as festas realizadas no dia 16 de Julho na cidade de Borda da Mata, localizada no Sul do Estado de Minas Gerais. Festas que são a de Nossa Senhora do Carmo, padroeira da cidade, e do Aniversário Político Administrativo do Município. Metodologicamente trabalhamos com a prática da História Oral, que possibilita investigar as memórias dos sujeitos sociais, que participam das festas em seus diferentes âmbitos. Tensões são estabelecidas entre o sagrado e o profano. As falas dos narradores possibilitaram visualizar tal contexto conflituoso, onde (re)significações são evidenciadas ao longo dos anos. De um evento pautado no sagrado com ritos repetitivos e fixos para o contraponto de uma festividade conduzida pelo divertimento, lazer, consumo e improviso. Eventos paralelos, definidos que agenciam a data de 16 de julho na pequena cidade do Sul de Minas.

 

Comida: uma contadora de histórias

Regiane Caldeira da Silva (UFSCAr)

Bruna Mendes de Fava (UNEMAT- Universidade Estadual de Mato Grosso)

Este estudo busca discutir o papel da memória na construção de nossas histórias de vida, tendo na comida a contadora destas páginas escritas por meio de experiências que englobam todos os nossos sentidos. A pesquisa foi realizada para dar suporte à atividade de extensão intitulada “Comida de mãe, comida de avó: Comfort food e produções culinárias por meio de memórias” desenvolvida em comemoração ao dia das mães (2016). Adotou-se uma abordagem qualitativa, com fins exploratórios por meio de pesquisa bibliográfica e história oral. Os participantes (estudantes da disciplina de Gastronomia II do Curso de Turismo da UNEMAT, suas mães e avós) foram convidados a rememorar as relações estabelecidas com as comidas e bebidas que remetem às suas vivências no contexto familiar. Os resultados enfatizam a importância da memória ao sentimento de pertença e construção de nossas histórias de vida, tendo na comida um dos protagonistas, como também sua relevância frente ao mundo dinâmico que muitas vezes não permite a constante reexperimentarão destas produções culinárias marcantes em nossas vidas e que são relegadas em alguns casos ao esquecimento, chamando atenção à necessidade de registro e valorização.

 

Cultura popular e documentário seriado construindo narrativas múltiplas análise da coleção Folclore em Imagens

Vitoria Azevedo da Fonseca (Secretaria Estado da Educação)

O Projeto Folclore em Imagens , idealizado pelo Núcleo Audiovisual da Comissão Espiritosantense de Folclore para documentar e difundir, através de uma série audiovisual, as manifestações culturais do Espírito Santo, configura-se, tanto em função do produto final editado quanto das imagens brutas produzidas, em um rico acervo documental. A produção contou com variados diretores, fotógrafos e roteiristas, compondo também uma variedade de olhares, sempre seguindo a linha geral do projeto. Existem numerosas manifestações culturais que fazem parte do cotidiano de grupos sociais que são recriadas anualmente compondo uma dinâmica entre a rememoração e a vivência presente que, na maior parte das vezes, se tornam desconhecidas de um público externo à comunidade por não terem sido “tipicizadas” e midiatizadas. A série Folclore em Imagens, propõe uma abordagem audiovisual que cria uma visibilidade para as diversas manifestações culturais do Estado, trazendo análises sociológicas e históricas que ultrapassam a simplificação costumeira. Nesse sentido, o formato audiovisual adotado, uma série de curtas, cada qual realizado por uma equipe diferente, ao mesmo tempo que estrutura narrativas individuais, compõe, no seu conjunto, narrativas múltiplas.

 

História oral e fotografia registram e evidenciam histórias de vida de idosos do Lar dos Velhinhos de Campinas

Vanessa Paola Rojas Fernandez (Unicamp)

Mônica Fernanda Bonomi (Secretaria Municipal de Educação de Campinas)

Nesta comunicação relataremos como a história oral e a fotografia estão sendo utilizadas para registrar e evidenciar histórias de vida de idosos do Lar dos Velhinhos de Campinas. A história oral é utilizada como método na constituição de um banco de histórias para um projeto de memória institucional e no desenvolvimento de uma pesquisa em gerontologia sobre a experiência da velhice institucionalizada do local. A fotografia é utilizada como recurso complementar, uma criação sensível para ilustrar algum aspecto essencial da narrativa. Nesta relação, história oral e fotografia apresentam especificidades segundo os seus objetivos e dialogam na busca de um resultado que apresenta a subjetividade como matéria essencial da memória.

 

Nas memórias da Bahia, a presença de José Joaquim da Rocha no decoro sacro da história religiosa de Salvador

Mônica Farias Menezes Vicente (Universidade Estadual de Campinas)

Século XVIII. Ordens Religiosas. Mestres e artífices. Decoro sacro. O que guardam, dizem e transmitem a decoração pictórica em um ambiente religioso? Questionamento respondido quando múltiplos métodos de pesquisa científico-pedagógica estão unidos. Fontes primárias, abrigadas em arquivos que lutam por sua permanência; história oral, resguardada pelos contos e recontos das gerações; a sobrevivência de um patrimônio que ecoa sob palestras, escritos e confrarias; eis a multiplicidade. É nesse, e por esse, contexto que se buscou entender e propagar a história da pintura colonial baiana, sobretudo porque ela reverbera dos caminhos construídos desde a colonização portuguesa. Os artistas que aqui aportaram, uma regra religiosa a ser seguida, o conhecimento científico pedagó- gico implantado, a presença de talentos locais, eram condições essenciais para nascer a cidade de Salvador/Bahia, hoje o maior acervo decorativo de produção iconográfica sacra com padrões europeus. Esta comunicação trata dos espaços sagrados baianos que emitem mais que misticismo e comunhão. Para o olhar do leigo é decorativo e espiritualizado, para os olhos da historiografia é a Memória de uma sociedade contada através da imagem, pelas mãos de uma Escola Artística que tinha a frente um Mestre: José Joaquim da Rocha.

 

Local: CEL – sala 09 – piso1

27/07 – quarta-feira – (14:00 às 18:00)

Projeto Memória Viva

Carina da Silva Bentlin (Secretaria de Cultura de Cosmópolis)

O Projeto Memória Viva foi realizado em Cosmópolis (www.projetomemoriaviva.com.br), também disponível em DVD, reúne dez curtas-metragens de história oral. Benzedeiras, que relatam esse ofício ancestral de práticas de curas não tradicionais e que possuem como base a oralidade na transmissão de saber; imigrantes e migrantes e seus relatos; narrativas sobre diferentes ofícios, como a cortadora-de-cana e suas memórias da lida sob o sol. O alfaiate e seu alinhavar de causos, o fotógrafo que através de sua lente registrou a vida na cidade, o casal e suas histórias sobre um modo de viver rural. Todos juntos, tecendo uma história plural. Local: sala CB06 27/07 – quarta-feira – (14:00 às 18:00) Álbuns da Modéstia: aproximação aos arquivos pessoais de uma artista Ana Cristina Barral Mariani Passos (Universidade Presbiteriana Mackenzie) Cadernos de anotações, “álbuns da modéstia” com recortes de jornais e revistas, 1800 slides, um espaço repleto de objetos, memórias e o sentido de urgência em registrá-las. A convite da artista plástica joalheira Reny Golcman, entre janeiro e outubro de 2015, foram realizadas entrevistas, pesquisas em arquivos pessoais e extenso registro fotográfico de sua produção artística e seu ateliê. Tal projeto combina afetos e expectativas. O olhar do outro é desafiador. A delicadeza precisa estar aliada ao rigor para que a ficção que é a vida seja cuidadosamente inventada. Deve haver respeito para elaborar sua escritura. É importante reconhecer o papel do esquecimento. É necessário ler objetos, espaços, gestos e imagens. É fundamental atender às necessidades do presente enquanto evocamos o passado. Este trabalho fala da escrita de si e do outro, do exercício curatorial envolvido, do papel de coleções, arquivos e registros pessoais na construção da memória, da importância da fotografia para o registro da arte. Coube ao projeto dar ordem e sentido aos arquivos pessoais da artista, porém seu resultado – o livro As joias de Reny Golcman – é um exemplo de significação compartilhada, de como fazer este mergulho e voltar com histórias e imagens para revelar todo um universo.

 

Barry Charles Silva: vida e obra em um grande picadeiro

Daniel de Carvalho Lopes (Universidade de São Paulo – USP)

A pesquisa se caracteriza na realização de um vídeo documentário sobre a trajetória de vida e obra do artista e empresário circense Barry Charles Silva (1931 – 2012), 3ª geração de duas importantes famílias circenses no Brasil: Wassilnovich (atual Silva) e Riego, duas famílias, que como a maioria dos circenses que chegaram nos últimos três séculos, muito contribuíram para a produção cultural e a consolidação do circo como patrimônio cultural. Por meio do cruzamento de dezenas de fotografias, documentos cartoriais e variadas fontes (cerimônias de homenagem filmadas, rodas de conversa filmadas, periódicos, peças de teatro etc.) com entrevistas com Barry, familiares e artistas circenses, pretendemos compor uma cartografia da “multidão” que foi Barry Charles (acrobata, trapezista, cantor, ator, dançarino, domador, aprendiz, mestre, empresário, aviador, chefe de clã, pai, avó, ma- çom etc.) e, consequentemente, além de apresentar suas variadas facetas, oferecer visibilidade à própria história do circo e dos circenses brasileiros.

 

Fluxos de imagens em redes sociais: da dispersão à construção identitária

Gabriel Carlos de Souza Santos (Instituto de Filosofia e Ciências Humanas – Unicamp)

Inaugurada em 1926, a Usina de Cubatão teve importante papel na eletrificação de São Paulo. Afastada da capital pela Serra do Mar e distante do núcleo urbano de Cubatão, requereu a alocação de mão-de-obra em suas imediações, construindo na década 1930 a Vila Light, conjunto de acampamentos localizado no sopé da serra com alta rotatividade de moradores. No entanto, apesar da rotatividade, as memórias orais dos ex-moradores colhidas até o momento indicam um forte vínculo identitário para com o local, com destaque para a recusa do pertencimento a Cubatão. A partir da análise das reproduções de fotografias sobre o espaço urbano, industrial e natural cubatense e sobre a Vila Light por seus ex-moradores na rede social Facebook, bem como da comparação desse fenômeno às entrevistas até então realizadas, esta comunicação objetiva refletir sobre os modos como se estabelecem sentidos de comunidade entre esses indivíduos. A comunica- ção se direciona para a análise do estatuto adquirido por essas imagens nos seus fluxos contemporâneos que, por um lado, desempenham um importante papel na reafirmação dos laços comunitários entre os ex-moradores e de memórias canônicas sobre Cubatão, e por outro, acarretam a formação de acervos pessoais efêmeros e, quiçá, a perda do potencial reflexivo da imagem.

 

Fotografia e pesquisa

Iara Cecília Pimentel Rolim (Faculdade de Artes de Limeira)

De modo geral, a fotografia dos anos 20 e 30 na França, voltou-se para o questionamento de sua ligação com o referente e com o real e se transformou em um vasto campo de experiências onde o importante era a desconstrução da imagem. A fotografia tornou-se moderna neste período por meio do realismo e da abstração. A Nova Objetividade (Neue Sachlichkeit), a Nova Visão (Neue Optik), a “fotografia direta” (Straight Photography), as propostas da vanguarda russa, o Dadaísmo e o Surrealismo foram algumas das possibilidades postas como forma de fotografar naquele momento. Além destas, surgiu também o que anos mais tarde se denominou de Fotografia Humanista a qual muitas vezes caracterizava o trabalho do fotojornalista. Neste contexto algumas fotografias apareciam em variados meios de comunicação e exposições em galerias e museus, sozinhas ou em séries, permitindo diferentes interpretações sobre a mesma imagem: arte, documento, etnografia, testemunho. Desta forma, esta apresentação está baseada em uma discussão sobre a fotografia como fonte de pesquisa e as possibilidades para a sua utilização.

 

Na fronteira entre realidade e representação: a problemática dos lugares

Juliana Oshima Franco (Centro de Memória – UNICAMP)

Este trabalho tem como objetivo discutir o videodocumentário de caráter comunitário – aquele que resulta da ação de grupos sociais e coletivos diversos, que o elegem enquanto estratégia de autorrepresentação, expressão, organização e/ou registro – enquanto lugar de memória, nos termos propostos por Pierre Nora (1993). Entendendo a centralidade da discussão sobre a representação da realidade no campo do documentário, e partindo do pressuposto que a singularidade do audiovisual está relacionada ao seu caráter híbrido de tanto registrar realidades, quanto projetar representações sobre elas, defendo a relevância das discussões em torno dos lugares de memória na compreensão das especificidades que fazem do audiovisual, em especial do documentário, ferramenta de democratização da comunicação e da memória social e, por conseguinte, de transformação social.

 

No fio da navalha: Modernização e resistência da profissão de barbeiros

Denise Dantas de Alcântara (FACULDADE DE AMERICANA)

Este trabalho pretende investigar os fatores históricos que definiram as transformações da profissão de barbeiros. Com a proposta de fazer uma análise sobre a atual situação da profissão de barbeiros, este trabalho pretende investigar os fatores que levam esta profissão a uma possível extinção, no que diz respeito à característica que deu origem a sua denominação: a função de cortar e aparar barbas e bigodes. O trabalho discute sobre as relações sociais e de trabalho do profissional barbeiro, qual seu campo de atuação e seu papel na sociedade que compõe. Também são abordadas a forma que a profissão é passada de geração para geração e como os novos profissionais lidam com as contradições entre tradição e tecnologia profissional. As relações, muitas vezes fogem o profissional e estabelecem relações de amizade duradouras que resistem ao tempo. A história oral é importante fonte de recuperação, através das falas dos profissionais, o tempo passado sob a ótica da memória e as perspectivas sobre o futuro da profissão.

 

O corpo falado: a transmissão oral do tango no cinema documentário argentino

Natacha Muriel López Gallucci (Conservatório Carlos Gomes)

Havendo organizado recentemente um corpus fílmico periodizado que apresenta a história imagética do tango dança no cinema argentino [mudo, clássico, moderno e contemporâneo], o presente trabalho visa mapear e analisar diversas filosofias imbuídas na transmissão oral das técnicas corporais do tango. Tomando como eixo as experiências fílmicas de documentaristas argentinos a partir dos anos 60, como Simon Felman, Mauricio Berú, Jorge Zanada, Mercedes García Guevara, Alejandro Saderman, entre outros, buscamos deslindar o papel performativo da autorreflexão e da crítica social e cultural propiciada, tanto pelo cineasta quanto pelos bailarinos, em busca de um espaço criativo e transformador da realidade. O trabalho examina diversas formas de entender o corpo criativo através dos depoimentos e das performances de tango dança à luz de questões próprias da situação sócio-política desse pais.

 

Uma Máquina de Memória

Marcelo Ribeiro dos Santos (Unicamp)

As “artes menores”, feitas para serem funcionais além de belas, receberam uma atenção especial de AbyWarburg em seus estudos sobre a história da arte e a proposta de uma “fórmula emotiva” (Pathosformeln) desconhece fronteiras temporais ou preconceitos sobre o que é arte. Propomos neste trabalho o estudo de um objeto que pode ser enquadrado entre as “artes menores”; o Tarot de Marselha, um tradicional baralho medieval do sul da França. Utilizando uma metodologia baseada nos conceitos de Warburg, seguimos a “fórmula emotiva” predominante no Tarot de Marselha através de suas ressonâncias arquitetônicas mais antigas, detectando uma estrutura no baralho totalmente condizente com os preceitos da Arte da Memória, conforme os estudos de Frances Yates. Discutimos as implicações do Tarot como Arte da Memória, propondo uma maquete da estrutura arquitetônica imaginária que a própria consistência matemática do Tarot de Marselha sugere. Abordamos também as possíveis razões pelas quais uma estrutura de memória seria divulgada como jogo, encontrando ressonâncias possíveis nos “Role Playing Games”(RPG) contemporâneos.

 

Local: CEL – sala 09 – piso1

28/07 – quinta-feira – (14:00 às 18:00)

As portas da memória e da subjetividade: o uso das fontes orais em uma pesquisa sobre drogas e contracultura

Júlio Delmanto (FFLCH – USP)

Este trabalho apresentará alguns dos estudos metodológicos e dos dilemas da pesquisa de doutorado do autor, ainda em curso, sobre drogas e contracultura no Brasil nos anos 1960 e 1970. Além das fontes de arquivo, documentais, o tema exigiu uma proposta metodológica que incorporasse também as fontes orais e as reflexões a respeito de seu uso, análise e apresentação pertinentes ao campo da História Oral, tanto pelo aspecto de complementar as fontes documentais quanto pela possibilidade de constituírem recurso para o acesso a uma camada mais subjetiva do (olhar presente para o) passado. De quebra, a introdução das fontes orais no processo de pesquisa, desde a formulação metodológica anterior à utilização dos dados coletados nas entrevistas, fornece alguns elementos interessantes para a reflexão historiográfica, sobretudo no que diz respeito à temática da memória e de sua constituição. O trabalho cita também algumas dificuldades práticas do processo de entrevistas e como elas podem desestabilizar as premissas metodológicas anteriormente estabelecidas e almejadas.

 

Cinejornal e as plataformas digitais

Rafael Fermino Beverari (CAPES)

O Noticiarios y Documentales – No-Do – foi um cinejornal espanhol que teve a sua primeira exibição em janeiro de 1943 e a última em maio de 1981. Sob forte centralismo do governo de Francisco Franco, seu primeiro grande obstáculo foi a cobertura dos conflitos da 2ª Guerra Mundial, perpassando por diversos conflitos mundiais no decorrer de sua existência. Em dezembro de 2012, a Corporación de Radio y Televisión Española (RTVE) lançou, em seu site, 4.012 edições digitalizadas deste cinejornal que marcou o cotidiano dos cinemas espanhóis durante mais de três décadas. Devidamente mediada pelos gestores de Franco, o conteúdo audiovisual transborda de conhecimentos que não se limitam aos acontecimentos daquele país. Antes, tomadas de decisões mundiais são meticulosamente articuladas, através da edição, e exibidas ao público. O presente trabalho pretende investigar como a possibilidade do acesso à essa fonte documental, disponibilizada de maneira online, possibilitou a realização de uma pesquisa envolvendo as particularidades deste cinejornal no decorrer da Segunda Guerra Mundial – momento decisivo para sua consolidação. Deste modo, as barreiras entre tempo e espaço são continuamente alteradas diante das transformações ocorridas na história.

 

 Cinema e educação e memória: uma articulação entre os conceitos de dupla captura, dispositivo, regime estético e individuação para pensar o cinema na educação da memória

Carlos Eduardo Albuquerque Miranda (Faculdade de Educação da Unicamp)

Consideramos o que problema da imagem cinematográfica (entendida aqui como imagem da câmera) enquanto forma de apreensão do real, para o campo da educação, é um falso problema. A câmera não apreende o real, nem tampouco deixa de fazer parte dele. O trabalho com cinema na educação, que opera ao mesmo tempo com a memória no sentido de evocação de experiências passadas e com a memória no sentido funcional de aprendizagem, tem nos ensinado que o cinema é trabalho com o real (Pasolini). A imagem cinematográfica ao mesmo tempo em que sofre real ela também inventa este mesmo real. Nesta perspectiva, analisamos as experimentações com dispositivos (Migliorin) de cinema, realizadas no curso de extensão “Estudos em educação visual – Imagem e educação” (2015), como procedimento de duplas capturas (Deleuze): a câmera captura e é capturada pelo real. Com este registro estético (Rancière) da imagem nos desviamos do misto de subjetividade e objetividade da imagem em direção sua individuação (Simondon). A questão que propomos compartilhar é: como o conceito de individuação pode nos ajudar a pensar o cinema com arte da memória (Almeida) – uma fábrica de memória do presente e de lembrança do passado.

 

Construindo a memória da Escola Profissional Washington Luis: Relato da experiência escolar do Sr. Pimentel

Sâmela Cristinne F. de Carvalho Ignácio (Unirio)

Esta comunicação ocorrerá a partir dos fragmentos do passado existentes na Escola Profissional Washington Luis, localizada em Niterói (RJ), hoje Escola Técnica Estadual Henrique Lage, na qual traçaremos a relação da memória com a historiografia desta escola, sendo ela de cunho profissional e voltada para o sexo masculino. Como um dos itens metodológicos e fonte desta pesquisa, encontramos a necessidade de utilizar a única experiência escolar vivida, até pouco tempo depois da realização da entrevista, o Sr. Pimentel, aluno e professor desta escola em questão, a fim de utilizar suas memórias escolares, do tempo passado e construindo-as a partir de nosso tempo presente. Esta memória, oral, única que temos a priori do período desta instituição, que é essa memória individual e ao mesmo tempo coletiva segundo Halbwachs, nos deixa marcas de um passado escolar vivido, cheio de marcas da industrialização, do processo do movimento escolanovista, da modernização e civilização da sociedade, sendo ela uma das nossas mais valiosas fontes para solidificação historiografia da escola.

 

Elas – um estudo sobre as meninas da FUNABEM

Patricia Amaral Siqueira (UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO/UERJ)

A Fundação Nacional do Bem- Estar do Menor (FUNABEM) é conhecida ainda hoje pelo imaginário social como o lugar onde viviam os menores infratores. Espaço de delinquentes, registro de maltrato de crianças e jovens, fábrica de bandidos entre tantos outros estigmas. Muitos foram os trabalhos produzidos, mas pouco se escreveu sobre as meninas. No presente artigo relato as primeiras descobertas realizadas na busca pelo perfil e pelo contexto em que viviam as meninas da FUNABEM. Primeiramente, a investigação da presença na revista publicada pela Fundação, a BRASIL JOVEM, estudando as cartas dos leitores e algumas das capas. Procuro traçar o perfil da publicação para compreender o contexto no qual elas aparecem ou são silenciadas. Em seguida, apresento o relato e a contextualização metodológica das entrevistas já realizadas com as meninas da instituição, hoje mulheres que se dispuseram a contar suas trajetórias de vida. A metodologia utilizada é a História Oral.

 

Entre postes e fios: O audiovisual e as experiências de rua na Praça da Sé (São Paulo)

Livia Agostini Gaddi (Instituto Federal de São Paulo)

Este artigo visa problematizar o papel dos recursos audiovisuais em nossa investigação das experiências das populações columbinas em situação de rua da região da Sé, na capital paulista. Tais populações migrantes têm sido alvo de políticas higienistas patrocinadas pelo poder público e encampadas pelas classes médias, acarretando um trauma que explica ao menos em parte o porquê delas terem frequentemente abdicado de seus direitos de expressão. O recrudescimento de políticas afirmativas calcadas no reconhecimento do outro e na revalorização do sentimento de pertença tem contribuído para a emergência de um novo olhar sobre esses sujeitos, que não deve resvalar para a crença ingênua de que é possível dar-lhes voz. A utilização do audiovisual tem se provado indispensável para romper a incomunicabilidade dessas experiências: atenta não apenas para as palavras mas também para as performatividades que traduzem as vivências dessa população. Privilegiaremos as narrativas audiovisuais que demonstram as estratégias de enfrentamento com instituições do poder público, tais como a Prefeitura de São Paulo, a Guarda Civil Metropolitana, e em situações-limite a Defesa Civil, o Corpo de Bombeiros e o Centro de Controle de Zoonoses, reforçando a progressiva desumanização causada por essas políticas.

 

Reflexões em torno do Programa de História Oral do Museu da República

Silvia Oliveira Campos de Pinho (Museu da República/IBRAM)

Em 2010, ao completar 50 anos, o Museu da República, embora se identificasse como uma instituição de memória, não disponha de espaço de guarda nem de quaisquer instrumentos destinados à recuperação e à preservação de sua própria trajetória. No fim daquele ano foi criado então, dentro do setor de Arquivo Histórico, o Programa de Memória Institucional. Seu ponto de partida foi a criação do Arquivo Institucional, que buscou localizar, recolher, tratar, classificar e preservar os documentos de caráter permanente produzidos e acumulados pelo Museu ao longo de sua história. Em seguida, foi criado um programa de História Oral, buscando produzir um acervo audiovisual que, ao mesmo tempo que complementasse as lacunas da documentação escrita, trouxesse um outro tipo de olhar/ registro acerca da história da instituição. As entrevistas, iniciadas em 2014 e ainda em andamento, têm conduzido a múltiplos desafios e percepções. Torna-se patente, sobretudo, o processo ativo e permanente de construção da memória, capitaneado por atores diversos, entre os quais sobressaem entrevistados e entrevistadores. É sobre esse programa, e as reflexões em torno dele, que pretendemos discorrer.

 

Um homem e seu projeto de memória: o Fundo José Roberto do Amaral Lapa no CMU

Ana Carolina de Moura Delfim Maciel (UNICAMP)

A presente comunicação aborda o Fundo José Roberto do Amaral Lapa, conjunto depositado no Centro de Memória – Unicamp (CMU) e que reúne acervo pessoal e institucional do titular – docente do departamento de História da Unicamp e fundador do Centro -, compreendendo correspondência ativa e passiva, diários, artigos, textos de pesquisa, artigos de jornais, fotografias etc. Além dos aspectos eminentemente profissionais, tais fontes trazem subjacentes fragmentos da história de vida do Prof. Lapa, extrapolando fronteiras institucionais. Refletir sobre as motivações que o levaram a armazenar suas próprias fontes, remete à sistematização de uma prática e permite repensar o projeto memorialístico em torno do qual o CMU se consolidou.

 

Ementa do GT:

Memória, entendida aqui no sentido de evocação, individual ou coletiva, de experiências passadas, é uma fonte primordial para a construção de narrativas históricas. Como é notório, a oralidade configura-se como expressão primeira de transmissão e, por vezes, da manutenção e difusão da memória. Não por acaso, o registro de testemunhos, seja como evidência do vivido ou como portador da memória – potencializou-se após o Holocausto. Desde então, e num crescendo, testemunhos transcritos, gravados e, nas últimas décadas, filmados, integram o fazer historiográfico. O Grupo de Trabalho Memória, História Oral e Imagem pretende acolher pesquisas que tenham como fonte testemunhos orais e/ou audiovisuais para que possamos discutir o estatuto de tais fontes, e de como estas, por vezes, atingem, equivocadamente, uma perspectiva de “apreensão do real”. A proposta do GT reside, portanto, em extrapolar uma concepção do testemunho enquanto “prova”, situando-o num campo, tão caro à historiografia ou seja, aquele da subjetividade.

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