VIII Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp

GT11– MEMÓRIA, HISTÓRIA ECONÔMICA E DEMOGRAFIA

Coordenação: Maísa Faleiros da Cunha (Pesquisadora do NEPO-Unicamp) e Maria Alice Rosa Ribeiro UNESP/Pesquisadora Colaboradora CMU-Unicamp)

Local: sala: CEL15 – piso 2
26/07 – terça feira – (14:00 às 18:00)

Cemitério e Memória: Os Pretos Novos e a Revitalização do Porto do Rio de Janeiro

Júlio César Medeiros da Silva Pereira
(Universidade Federal Fluminense)

Este trabalho examina a redescoberta do cemitério de escravos recém-chegados, que ocorreram no Rio de Janeiro, dos séculos XVIII ao XIX, no Cemitério dos Pretos Novos que se situava na região do Valongo, parte noroeste da Corte do Rio de Janeiro. A pesquisa histórica demonstrou que, sem nenhum cuidado religioso, nem preocupação social os escravos que faleciam no Valongo ou na Lazareto, eram lançados à flor da terra para apodrecerem e cheirarem mal. Após a sua redescoberta, discute-se o papel do achado arqueológico enquanto peça fundamental para o entendimento do nosso passado e reduto da memória escrava na Cidade do Rio de Janeiro.

 

Escravidão na Campinas do Século XIX: O casamento em foco

Paulo Eduardo Teixeira
(UNESP)
O século XIX se abre com a recém criada vila de São Carlos, posteriormente transformada em cidade de Campinas, que abrigou uma população cativa oriunda da África e de diversas localidades brasileiras, que em grande parte contribuíram para o desenvolvimento da economia açucareira e cafeeira. Nesse sentido, o casamento religioso entre escravos contribuiu para a formação de vínculos afetivos por meio das relações de compadrio que se formaram, bem como a formação de núcleos familiares. Portanto, o foco desse trabalho é discutir alguns aspectos relativos a origem dos escravos que aportaram em Campinas e as formas de reprodução vegetativa por meio dos matrimônios realizados ao longo do século XIX.

 

Estratégias familiares na fronteira do Paraná (Palmas, século XIX)

Daniele Weigert
(USP)

No início dos anos de 1840, estancieiros do Planalto Paranaense fundaram fazendas ligadas a criação de gado nos Campos de Palmas, até então habitado por indígenas. Ao longo do século XIX, estes fazendeiros tiveram de mobilizar estratégias para enfrentar as dificuldades relacionadas a fronteira, a crise da atividade criatória e o fim da escravidão. Tendo em vista este contexto, o presente trabalho perseguiu um destes fazendeiros e sua família em fontes paroquiais, inventários de bens, registros cartoriais, cíveis. Por meio destas fontes pretendemos traçar as estratégias que ele e sua família mobilizaram ao longo do século XIX.

 

Os inventários e os testamentos (post-mortem) e o “preço da morte”

Lélio Luiz de Oliveira
(USP – FEARP – Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade de Ribeirão Preto – Departamento de Economia)

Determinados documentos podem ser analisados pelo historiador visando diversas abordagens. É o caso dos testamentos e dos inventários post-mortem. Cabe, então, conhecer as preocupações dos indivíduos, dotados de algum patrimônio, relativas às suas vontades após à morte. Contudo, rituais como os funerais e as missas ou concessões a ordens religiosas, por exemplo, impunham custos e oneravam parte do patrimônio. Nosso intuito, nesta pesquisa, é conhecer a parte empenhada do patrimônio e seu peso relativo (de indivíduos de posses) que tiveram a precaução de registrar as vontades e conduzir seus recursos para a “boa morte”. Isso, dentro de um contexto específico, ou seja, o nordeste paulista entre 1810 e 1840, cujo patrimônio era acumulado em uma economia de abastecimento interno. A pesquisa só é possível em decorrência da preservação e do acesso aos documentos concedido pelo Arquivo Histórico Municipal de Franca Capital Hipólito Antônio Pinheiro, que favorece a produção do conhecimento da história regional.

 

Reprodução natural de escravos e manutenção das escravarias. Vila de Piranga, Minas Gerais, 1850-1888

Guilherme Augusto do Nascimento e Silva
(UFMG)

Nesta comunicação, pretendemos apresentar os resultados de parte de nossa pesquisa relativa ao estudo de famílias escravas da região da Vila de Piranga, província de Minas Gerais, na segunda metade do século XIX. Temos como base de nosso estudo a análise de 218 inventários post-mortem, até então inexplorados, arquivados no Fórum de Piranga. Apresentaremos a análise da demografia escrava da região entre os anos de 1850 e 1888, com foco na reprodução natural de escravos. Analisamos variáveis como a diversidade etária dos escravos através das décadas, a razão criança/mulher e discutimos a questão do crescimento endógeno versus crescimento exógeno na manutenção das escravarias, aventando a possibilidade de crescimento vegetativo da população escrava piranguense. Acreditamos que Piranga tinha uma população escrava com condições, se não de se reproduzir positivamente como a população livre, pelo menos de se manter estável ao longo do tempo através dos inúmeros nascimentos e capaz de manter o sistema escravista em plena atividade anos após o fim do tráfico transatlântico.

 

Local: sala: CEL15 – piso 2
27/07 – quarta feira – (14:00 às 18:00)

Acervo do CMU & Produção de Conhecimento. História Econômica em pauta. Considerações

Ema Elisabete Rodrigues Camillo
(CMU – UNICAMP)

Em 1985, nascia o CMU como um espaço interdisciplinar, não apenas para preservação da memória, mas para pesquisa e produção de conhecimento. Concebido para captar, guardar, conservar o patrimônio histórico documental de Campinas e região, de grande importância econômica por ter sido centro irradiador da expansão cafeeira e ferroviária rumo ao oeste e ao norte do estado, hoje conta com um rico acervo distribuído em aproximadamente 150 conjuntos documentais, datados entre o final do século XVIII e início do século XXI, que possibilitam retraçar as transformações ocorridas na região de Campinas desde os ciclos da cana-de-açúcar e do café, até a industrialização. Tenciona-se elencar e comentar os principais fundos e coleções de interesse histórico-econômico existentes. Também avaliar a produção de conhecimento derivada desse acervo, nos seus 30 anos, tangenciando a questão da História Econômica em face às novas tendências historiográficas. Visando problematizar como o CMU poderia atuar no sentido da melhoria das condições de acesso, de divulgação tendo por base as potencialidades do acervo.

 

As Atas das Câmaras Municipais e os Inventários como fontes para a História Econômica

Natânia Silva Ferreira
(USP)
Paulo Roberto de Oliveira
(FFLCH/USP)

Um dos grandes dilemas que norteiam boa parte dos trabalhos em História Econômica se encontra na possibilidade de mediação entre diferentes níveis da análise e da narrativa histórica. Em linguagem braudeliana, em como articular o nível estrutural com o cotidiano, as questões estruturais com as conjunturais. Neste sentido, alguns arquivos do interior do Brasil fornecem documentação que tornam possível a articulação entre alguns destes níveis: tratam-se das Atas das Câmaras Municipais e dos Inventários post-mortem. Para explorar as possibilidades destes grupos de documentos nos focaremos em duas cidades mineiras: Uberaba e Varginha, objetos de nossas últimas pesquisas. Em nossas pesquisas foi possível perceber que o diálogo entre os dois grupos documentais esclarece nuances mais profundas sobre o crescimento urbano e o comércio em ambas as regiões. Por meio das Atas é possível entender os planos mais amplos ligados à abertura de estradas para a manutenção e expansão do comércio, sobre os serviços urbanos, como a iluminação, o calçamento de ruas, etc; enquanto por meio dos Inventários é possível acompanhar os agentes que aparecem como prestadores de serviço ou administradores que participaram destes processos, compreendendo os seus interesses e os grupos dos quais faziam parte.

 

Famílias capitalistas: relações de poder em Pouso Alegre e Varginha nas décadas finais do século XIX

Rafaela Carvalho Pinheiro
(FFLCH/USP)

O Sul de Minas Gerais passou por um processo de transição para o século XX muito peculiar, com profundas transformações econômicas e sociais, como a modernização de suas cidades, a reorganização da estrutura produtiva agora com o trabalho livre, a ascensão do café como importante item de produção e o grande aumento das linhas ferroviárias. Porém, um aspecto da economia regional ainda era pouco desenvolvido: a rede bancária sul mineira, que se expandiria apenas a partir da década de 1910. Assim o fornecimento de crédito era realizado por meio de comissários, que atuavam como intermediários principalmente na compra e venda do café, e de capitalistas, que financiavam as atividades nessas cidades. A falta de um sistema bancário desenvolvido implicava numa remuneração muito significativa desses capitalistas, de modo a causar por um lado a centralização da riqueza e dos destinos econômicos dessas localidades, e por outro a dependência dos que demandavam o crédito. Nesse sentido, este trabalho pretende analisar a relação de poder entre as famílias ditas capitalistas e a sociedade, avaliando, para tanto a composição da sua riqueza por meio de inventários post-mortem de duas cidades sul-mineiras, Pouso Alegre e Varginha, nas duas décadas finais do século XIX.

 

O estudo dos pequenos e médios cafeicultores em Ribeirão Preto/SP: Possibilidades de análise a partir de fontes primárias (1889 – 1914)

Ulysses de Paiva Faleiros Neto
(Centro Universitário Barão de Mauá)

Neste estudo, pretendemos analisar e compreender as possibilidades interpretativas oferecidas pelas fontes documentais primárias a compreensão do universo econômico dos pequenos e médios cafeicultores, estas, disponíveis no município de Ribeirão Preto. Ainda pouco exploradas, por si só, já oferecem novas perspectivas sobre o cotidiano econômico desta parcela de sujeitos ainda pouco observados pela historiografia. Entretanto, ao cruzarmos os dados de diversas fontes conseguimos constituir com maior riqueza o complexo universo econômico que esses indivíduos atuavam. Nossa problemática foi gerada através da revisão dos estudos clássicos que trabalham com a temática da econômica cafeeira. O ponto em comum entre elas gira em torno do estudo dos grandes proprietários e suas grandes propriedades, estes, demonstram dinâmicas econômicas próprias do grande capital, dentre os autores que estudaram o grande complexo cafeeiro, podemos apontar os clássicos como Celso Furtado (2007), Caio Prado Júnior (1969) e Boris Fausto (1995). De tal modo, é mister que trabalhos explorando novas fontes primárias e novos sujeitos históricos comecem a ser produzidos em maior volume, trazendo à luz essa parcela significativa da história econômica, ainda pouco abordada na historiografia.

 

Rede de negócios e crédito por meio da análise de um livro caixa da loja do Coronel Joaquim da Cunha Diniz Junqueira

Carlo Guimarães Monti
(Centro Universitário Barão de Mauá)

Neste trabalho estudamos a loja que o Coronel Joaquim da Cunha Diniz Junqueira teve em Ribeirão Preto, seu estabelecimento comercial vendia produtos industrializados que eram importados e outros que eram produzidos localmente. Isto nos possibilita verificar o curso do comércio em uma esfera local e regional. O estudo teve por base a análise do livro caixa da loja existente no Arquivo Pessoal – Documentação da Fazenda Boa Vista, para os anos de 1891 e 1892, o qual possibilitou a construção de um método que auxiliou na demonstração do perfil dos clientes e das empresas fornecedoras de produtos para a loja. Ao desvendarmos a forma de relação econômica que se dava entre a loja, clientes e fornecedores, pudemos identificar a função deste comércio na cadeia de negócios desenvolvidos por Joaquim da Cunha. É por meio da loja passamos a selecionar e apontar as estratégias de negócios, dentro do processo de comercialização do café, que servia de moeda para muitas das combinações realizadas nela. O café comercializado na loja também foi a alavanca para a concessão de crédito, de tal modo que a loja não fornecia somente produtos industrializados ou agrícolas, além disso, ela fornecia crédito.

 

 

Ementa do GT:

O propósito de GT é reunir trabalhos de pesquisa de História Econômica e História Demográfica que se fundamentam em investigações junto a fontes documentais primárias como registros paroquiais e civis (batizados/nascimentos, casamentos e óbitos); inventários post mortem, testamentos e outros processos produzidos pelo poder judiciário – execução de dívidas, conflitos de terras, ações de liberdade, processos crimes; registros cartoriais como registros de hipotecas e de imóveis; recenseamentos populacionais, maços de população ou listas nominativas, censos populacionais, registro de terras etc. e relatos de viajantes. A ênfase dada a esse corpo documental, que integra o acervo do CMU e de outras instituições arquivísticas, tem por objetivo atender a proposta do presente seminário que consiste em “redimensionar o potencial de pesquisa dos arquivos documentais trazendo à luz a perspectiva histórica de seus fundos e coleções”. Partilhamos da ideia já expressa por historiadores economistas de que a economia e a demografia têm “complexas relações de condicionamento recíproco” (MOTTA e NOZOE, 2009, p.180). O GT pretende contribuir para o debate sobre temas que envolvem a incursão teórica e historiográfica sobre a família escrava e egressos da escravidão, a riqueza propiciada pela posse de escravos, o acesso à terra, a composição da família, os arranjos matrimonias, a rede de negócios, a formação, a transmissão da propriedade, as transformações das formas de riqueza e as estratégias de acumulação de capital nos diferentes momentos da história brasileira: Colônia, Império e Primeira República.

Bibliografia:
MOTTA, José Flávio e NOZOE, Nelson. A acumulação de capital e a propriedade de riquezas: a contribuição dos registros paroquiais para o estudo de nossa economia pretérita. In: BASSANEZI, Maria Sylvia Beozzo e BOTELHO, Tarcísio R. (Orgs.). Linhas e entrelinhas: as diferentes leituras das atas paroquiais dos setecentos e oitocentos. Belo Horizonte: Veredas& Cenários, 2009.
BACELLAR, Carlos de Almeida Prado. Os senhores da terra. Campinas: CMU/Unicamp, 1997.
MELLO, Zélia Cardoso de. As metamorfoses da riqueza: São Paulo, 1845-1895. São Paulo: Hucitec/Prefeitura do Município de São Paulo, 1985.
TEIXEIRA, Paulo Eduardo. A formação das famílias livres. Campinas, 1774-1850. São Paulo: Editora UNESP, 2011.