VIII Seminário Nacional do Centro de Memória – Unicamp

GT10 – MEMÓRIA, ARQUIVOS E EDUCAÇÃO

Coordenação: Adriana Carvalho Koyama (Pesquisadora Colaboradora da Faculdade de Educação-Unicamp) e Marcia Eckert Miranda (Professora do Departamento de História da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)

Local: sala: CEL13 – piso 2
26/07 – terça feira – (14:00 às 18:00)

A Cinemateca Brasileira e o Patrimônio Audiovisual: uma análise sobre o programa Cine-educação

Thaís Vanessa Lara
(UNICAMP)

Nos últimos anos presenciamos uma valorização da imagem de arquivo, seu uso que normalmente estava restrito aos pesquisadores, cineastas e principalmente aos jornalistas se abriu para um novo público de não especialistas. Nesta perspectiva, cinematecas, filmotecas e museus de cinema criam políticas para a valorização do patrimônio audiovisual e para a educação cinematográfica, tais como programas de exibição, sites, visitas monitoradas e mostras com filmes raros que dão visibilidade aos seus acervos. A partir deste contexto, esta comunicação faz uma análise das políticas de difusão da Cinemateca Brasileira direcionadas à valorização do acervo audiovisual. Discutindo o conceito de patrimonialização elaborado por Jean Davallon (2006), busca-se identificar e descrever os processos de valorização das obras por meio do programa Cine-Educação.

 

Arquivos digitais no sítio eletrônico Palavras-chave: Arte, Tecnologia, Natureza como manutenção da memória dos estudantes do Ensino Médio da Escola Estadual Pedro Fernandes de Camargo

Fellipe Eloy Teixeira Albuquerque
(UNIFESP)

O sítio eletrônico Palavras-chave: Arte, Tecnologia, Natureza é uma plataforma desenvolvida pelo professor responsável por ministrar as aulas de Arte na Escola Estadual Pedro Fernandes de Camargo, na cidade de Porto Feliz-SP. Uma das estratégias adotadas é a criação de uma página onde vídeos e fotografias dos trabalhos feitos pelos estudantes são expostos e mantidos como forma de registro das atividades docentes e discentes desta disciplina. Nosso trabalho, portanto, será o de analisar como a função social do ensino de Arte pode corresponder com uma concepção de valor que se atribui a convivência na escola capaz de cumprir outras funções educacionais, tais como o reconhecimento do produto final das tarefas dos estudantes, da possibilidade de acompanhamento destas tarefas pelos seus pais no ambiente virtual e de servir como arquivo digital para as experiências individuais e coletivas vivenciadas pelo estudante nesta fase da sua formação como cidadão.

 

Introdução à Política e ao Tratamento dos Arquivos: balanço e perspectivas de um curso de extensão cultural para organização de arquivos e formação de profissionais para área de Documentação e Memória

Ana Célia Navarro de Andrade
(UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO)

O presente trabalho tem por objetivos resgatar a memória do curso de extensão cultural “Introdução à Política e ao Tratamento dos Arquivos”, promovido pelo Centro de Documentação e Informação Científica – CEDIC, pelo Departamento de História e pelo Programa de Estudos Pós-graduados em História da PUC-SP, realizar um balanço de seus 24 anos de experiência na formação de profissionais que atuam em Arquivos, Centros de Documentação e de Memória, não apenas na cidade de São Paulo, como também em outras cidades brasileiras, e traçar algumas perspectivas para seu futuro na Universidade, seja permanecendo na categoria extensão cultural, ou alçando novos voos. Nesse período, o curso evoluiu de acordo com a demanda do mercado, oferecendo visitas técnicas a diversas instituições de custódia de acervos no decorrer de seus dois módulos; incluindo novas disciplinas; aumentando a carga horária total; e realizando, no segundo módulo, atividade aberta ao público interessado: mesa redonda sobre Gestão de Projetos Culturais, para que instituições de custódia do patrimônio documental, tanto arquivístico, quanto bibliográfico e museológico, pudessem apresentar experiências bem sucedidas de difusão do acervo e seu contato com a comunidade.

 

Nós que aqui estamos por vós esperamos: a metáfora dos Arquivos Científicos nas universidades

Jacilene Alves Brejo
(UNIRIO)
Junia G. C. Guimarães e Silva
(UNIRIO)

O presente projeto de pesquisa tem como objeto os arquivos científicos nas universidades como fontes primárias de pesquisa e informação, na perspectiva de ampliar a sua utilização e consulta no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ou seja, reconhecer essas fontes como instrumento de conhecimento para a pesquisa científica e na formação acadêmica. Portanto, se considerarmos que nas universidades é necessário ampliar o conhecimento, preservar e difundir a cultura, concluímos que seja o momento da universidade refletir sobre a realidade da produção documental cientifica, o reconhecimento do valor desta produção, sua preservação e o papel do arquivo dentro da universidade. Este trabalho tem como propósito buscar elementos constitutivos para o desenvolvimento e a criação de uma metodologia participativa que favoreça a elaboração de uma proposta de política aqui denominada de “política reflexiva”, voltada para a produção e o uso de arquivos científicos e culturais no âmbito do CFCH/URFJ. Desta forma, pretende-se não apenas divulgar os arquivos na universidade, mas “incitar o produtor a zelar, o mais cedo possível, por seu legado documental. ” (Welfelé, 2004, p.69)

 

Repositório da História da Educação Matemática: um arquivo digital

Claudia Regina Boen Frizzarini
(UNIFESP)
Bruna Lima Ramos
(UNIFESP)
Deoclecia de Andrade Trindade
(UNIFESP)

A presente comunicação tem como objetivo apresentar e discutir as possibilidades de divulgação e uso dos diversos documentos disponibilizados no Repositório da História da Educação Matemática sediado institucionalmente no domínio da UFSC e atualmente alimentado pelos membros do GHEMAT – Grupo de Pesquisa de História da Educação Matemática no Brasil. O Repositório conta com mais de 2300 documentos datados desde o período imperial até os dias atuais, compostos por materiais legislativos, revistas pedagógicas, livros e manuais didáticos, e documentos escolares de 19 estados brasileiros e o Distrito Federal acerca do ensino dos saberes elementares matemáticos. Com a finalidade de minimizar as fronteiras das documentações do ensino de matemática no Brasil, o repositório tem seu espaço visitado por brasileiros e estrangeiros, seus arquivos também são referência para outras bibliotecas digitais como Vérsila Biblioteca Digital e Portal Brasileiro de Acesso Aberto à Informação Científica – oasisbr. O uso das documentações disponibilizadas no repositório em artigos, dissertações e teses também podem ser destacados como indícios do consumo de tal acervo digital, não somente por membros do GHEMAT, mas por toda a comunidade acadêmica da história da educação matemática no Brasil.

 

Um grande laboratório da área de ciências humanas: o Arquivo Edgard Leuenroth (AEL) e a produção do conhecimento a partir da prática de estágio

Silvia Rosana Modena Martini
(Instituto de Filosofia e Ciências Humanas/AEL)
O AEL recebe estagiários do curso de História/Unicamp para realização de estágio obrigatório. Fundamentado na Lei n. 11.788, de 25/09/2008 e na Resolução 39/UNICAMP, de 24/11/2008, visa completar o ensino e a aprendizagem do estudante de graduação da Universidade. Sem vínculo empregatício, sob supervisão dos técnicos das seções de processamento técnico e preservação, desenvolve no AEL atividades relacionadas ao trajeto que o documento faz dentro da instituição: recebimento de acervo, diagnóstico da condição física do documento, ações de conservação, digitalização, preparação para a catalogação, produção de instrumentos de pesquisa e outros produtos. A avaliação, tanto dos bolsistas como da instituição, demonstra que o estágio em instituições arquivísticas representa um ganho social, uma vez que permite ao futuro profissional aliar prática e teoria, vivenciar peculiaridades da profissão, desenvolver capacidades e habilidades que lhe permitam uma atuação mais responsável na sociedade. A instituição arquivística concedente de estágio beneficia-se na medida em que coloca documentos ainda não processados pela equipe técnica acessível ao próprio corpo de funcionários e aos pesquisadores, bem como aprimora uma nova metodologia de trabalho para com estes estagiários.

 

Local: sala: CEL13 – piso 2
27/07 – quarta feira – (14:00 às 18:00)

Centro de Memória Etec Cônego José Bento: experiências pedagógicas e de pesquisas com história e memória escolar

Julia Naomi Kanazawa
(Etec Cônego José Bento)

Este artigo tem como objetivo relatar as experiências pedagógicas e de pesquisas relacionadas à história e memória institucional, desenvolvidas pelos alunos do Ensino Médio e pela docente da disciplina de História, com base nas diversas fontes que compõe o acervo do Centro de Memória Etec Cônego José Bento, localizado no município de Jacareí, São Paulo e parte integrante do complexo de edificações da Etec Cônego José Bento, instituição de ensino pertencente ao CEETEPS. A proposta da Nova História em considerar novos objetos ou novas fontes, ou ainda, buscar nas velhas fontes novas leituras, abriram um leque de alternativas de trabalho. Metodologicamente, com a investigação, coleta de dados e análise nos/dos documentos, foi possível reconstruir parte do percurso histórico da Etec, do ensino técnico e das práticas escolares de uma determinada época. Assim, estudos, como A Etec Cônego José Bento nas décadas de1930, 1940 e 1950 nos jornais Folha do Povo e O Combate, Reminiscências e significados de uma época e Objetos escolares: um encontro de múltiplas possibilidades, proporcionaram, especialmente aos educandos, vivências para desenvolverem competências, habilidades e posturas de respeito ao patrimônio histórico e cultural, e valorizarem a pesquisa investigativa.

 

Colégio Paes de Carvalho – Belém- PA: Arquivos, método e fontes da História da Educação da Amazônia

Maria José Aviz do Rosário
(Servidora Pública)
Iza Helena Travassos Ferraz
(Universidade Federal do Pará)

O trabalho trata da análise inicial de fontes históricas do arquivo do Colégio Paes de Carvalho, de Belém – PA. A metodologia constituiu-se do levantamento, análise de fontes históricas documentais e iconográficas e do arquivo do CEPC. Na análise procurou – se discutir conceito e o método com fontes históricas, articulando ao conhecimento sobre a importância dos arquivos educacionais para história e memória da educação A primeira tratou do conhecimento, ambientação e organização do arquivo. A segunda etapa, ao levantamento e digitalização das fontes escritas. Ao todo foram levantadas e digitalizadas mais de 2.000 fontes que reforçam a ideia do colégio como um dos principais instrumentos de articulação da proposta(s) de educação do povo paraense. Entretanto seu arquivo encontra-se abandonado, com suas fontes sendo corroídas pelo tempo. A análise inicial permite afirmar, o arquivo com suas fontes, apontam no Colégio, vestígios de uma educação que acompanhou as mudanças ocorridas na sociedade brasileira e paraense e, que o necessitam de urgente trabalho de recuperação e análise, caso contrário, perde – se – á parte da história e memória de uma das instituições escolares mais importantes do Brasil. e por conseguinte, da Amazônia.

 

Educação na imprensa paraense e o arquivo como lugar de memória

Clarice Nascimento de Melo
(Universidade Federal do Pará)
Neste texto intencionamos problematizar e socializar o processo da pesquisa documental realizada no projeto “Educação e desenvolvimentismo no Pará: notas da imprensa local (1950-1963)” que está sendo realizada no arquivo de jornais impressos microfilmados e não microfilmados da Biblioteca Pública “Arthur Vianna” Fundação Cultural do Pará Tancredo Neves – CENTUR. O fito da pesquisa em localizar todas as notícias publicadas referentes à educação nos dois principais jornais paraenses do período estudado nos colocou diante dos limites e possibilidades da política de preservação e divulgação da memória por uma instituição que se apresenta como uma das “responsáveis pela memória de uma sociedade na preservação do patrimônio de pensamento humano e das conquistas culturais”. Trataremos dessa questão seguindo dois caminhos. Inicialmente faremos uma análise sobre o acervo de jornais, indagando sobre as razões da existência deste e daquele jornal, bem como seu volume numérico. Em seguida, indicaremos os sentidos, intenções e interesses subliminares e explícitos nas notas relativas à educação publicadas naqueles jornais e mantidas como patrimônio memorialístico, a partir do diálogo que fazemos com o conceito “documento-monumento” de Jacques Le Goff.

 

Educação Popular e Educação de Jovens e Adultos: memória e história

Elisa Motta
(Puc-Rio)
Osmar Favero
(Programa de Pós-Graduação em Educação da UFF)

Relato de pesquisa sobre a historiografia e digitalização da documentação relativa à memória da educação popular, oriunda dos movimentos do final dos anos de 1950 e início dos anos de 1960, assim como a produção relativa aos trabalhos de assessoria das agências e centros de educação popular, atuantes de meados dos anos de 1970 até os dias atuais. Esse conjunto representa parte significativa das duas mil fontes documentais contidas no acervo organizado pelo Núcleo de Documentação e Estudos em Educação de Jovens e Adultos, da Universidade Federal Fluminense. Compreendem projetos, programas e propostas, documentos instituidores de campanhas e movimentos, relatórios de experiências, depoimentos, entrevistas, livros, artigos, teses e dissertações e especialmente material didático, entendido em sentido amplo: cartilhas, conjuntos para professores e alunos, folhetos de cordel, vídeos, filmes, fotos, diapositivos etc. Muitos desses materiais são exemplares raros, originais ou únicos, recolhidos em arquivos particulares, documentos salvos do pouco apreço à preservação de nossa memória ou que sobreviveram à desestruturação dos movimentos populares ocorrida no país após o golpe de 1964, guardados em situações adversas: embaixo de caixas d’água, no teto de igrejas ou mesmo enterrados.

 

Patrimônio documental, arquivos escolares e memórias

Janete Leiko Tanno
(Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP)
Vanessa Campos Mariano Ruckstadter
(Universidade Estadual do Norte do Paraná – UENP)

O objetivo desta comunicação é refletir sobre a relação entre guarda e preservação de bens culturais regionais, a partir da interlocução entre patrimônio documental e História da Educação, especialmente nos trabalhos com arquivos escolares. Salientamos as disputas entre as diversas memórias existentes na região denominada de Norte Pioneiro do Paraná e que incidem no projeto de constituição do Centro de Documentação e Pesquisa Histórica (CEDHIS) da Universidade Estadual do Norte do Paraná (UENP), campus Jacarezinho. Nesse sentido, mais do que guardar papéis, o centro de documentação preserva memórias múltiplas que podem servir para diferentes propósitos e a intenção aqui é indicar alguns caminhos para a democratização do acesso aos bens culturais, às memórias diversas, em especial, por meio de um trabalho com os arquivos escolares. Destaca-se a necessidade de preservação do patrimônio documental de uma forma geral e da instituição escolar em particular, bem como a importância da organização, conservação e divulgação dos documentos presentes nos arquivos escolares como parte constituinte da preservação do patrimônio documental nacional.

 

Colégio São Benedito: Da realização à Utopia da igualdade Racial na Campinas do início do século XX

Carlos Roberto Pereira de Souza
(GEPEJA – UNICAMP)

Trata-se da reconstrução histórica do extinto Colégio São Benedito (1902- 1908) fundado pelo professor afrodescendente Francisco José de Oliveira, cuja proposta era criar uma instituição de ensino pautada na igualdade racial. Sabemos que a cidade de Campinas foi marcada, a partir de meados século XIX, por forte experiência escravocrata e racista, onde toda qualquer manifestação cultural de origem negra era repelida pelos grupos dominantes da sociedade local, daí a justificativa da proposto do professor. Após levantamento bibliográfico minucioso, apontaremos quais as estratégias utilizadas pelo Prof. José de Oliveira para a concretização do Colégio São Benedito.

 

Local: sala: CEL13 – piso 2
28/07 – quinta feira – (14:00 às 18:00)

A constituição da Ilha das Flores como Centro de Memória da Imigração

Julianna Carolina Oliveira Costa
(Faculdade de Formação de Professores)

Em 1883, o governo imperial criou na Ilha das Flores uma Hospedaria de Imigrantes para abrigar os estrangeiros recém-chegados ao país. A Hospedaria fazia parte das ações governamentais implementadas no processo de povoamento do território brasileiro e de substituição da mão de obra escrava para a livre. Durante sua existência, a Hospedaria atendeu não só imigrantes, mas migrantes internos e presos políticos. Em 1966, com a transferência da Ilha das Flores para o Ministério da Marinha, as atividades da Hospedaria foram definitivamente encerradas. Apesar da Hospedaria ser amplamente conhecida pela produção acadêmica sobre imigração, sua história foi pouco estudada. Para reverter esse quadro, em 2011, através de um convênio firmado entre o Ministério da Marinha e a Universidade do Estado do Rio de Janeiro, foi criado o Centro de Memória da Imigração da Ilha das Flores, com o objetivo de registrar e divulgar as experiências migratórias vivenciadas naquele espaço. Este trabalho visa demonstrar como o Centro de Memória tem sensibilizado a população acerca do tema da (i)migração ao estabelecer uma interface entre pesquisa, ensino e extensão, estimulando assim o exercício da memória e despertando a curiosidade acerca do passado.

 

Entre os acervos de memória: múltiplas faces de um sujeito na correspondência pessoal de Coelho Netto

Shayenne Schneider Silva
(Universidade do Estado do Rio de Janeiro)

Examinar as escritas “ordinárias” na correspondência pessoal de Coelho Netto é o objetivo do presente trabalho. Localizadas em duas Instituições de guarda do Rio de Janeiro: na Academia Brasileira de Letras, entre diversos documentos presentes no arquivo pessoal do acadêmico, e na Biblioteca Nacional, na seção de manuscritos, estas missivas se tornam fontes riquíssimas na preservação da memória na História da Educação brasileira. Aparentemente banais, debruçar-me na análise desses documentos, permite a interpretação de um sujeito e suas múltiplas faces, pois neles guardam ofícios diários enquanto diretor da Escola Dramática, acadêmico, jornalista, escritor como também pai e amigo. Tomando como referência os estudos de Mignot (2005) sobre cartas, Viñao Frago (1996) sobre cultura escrita, Artières (1998), Mignot e Cunha (2006) e Mignot (2000) sobre arquivos pessoais, e Silva (2012) que estudou sobre a legitimação intelectual de um sujeito através de seu relatório de viagem, a análise dessas fontes, me permitirá entender as decisões cotidianas tomadas por um intelectual que viveu na passagem da Monarquia para a República e no qual participou ativamente da vida política, social e educacional do país.

 

Guardadas no lado esquerdo do peito…

Ana Maria de Campos
(UNICAMP)

Guardadas no lado esquerdo do peito, dentro do coração, estão cuidadosamente embaladas as memórias mais significativas de nossa vida íntima. Em algumas oportunidades também podem estar materializadas em formato de álbuns de fotografias e de cadernos escondidos em fundos de gavetas ou em prateleiras de estantes. Outras vezes se manifestam na forma de brinquedos recolhidos do abandono, salvos em virtude de alguma sensibilidade tatuada no inconsciente. São “recuerdos” sentimentais e sensíveis aos gestos de aproximação. Quando somos chamadas a desmanchar a embalagem e tocar outra vez nessas memórias, novos sentidos são criados para experiências antigas, adormecidas e quase esquecidas. Neste trabalho apresentamos reflexões elaboradas no entrecruzamento de memórias e de achados e guardados pessoais de professoras, convidadas a revisitar as vivências infantis a partir de estudos realizados em uma disciplina de curso de pós-graduação em educação.

 

Memória, monumento, documento: reflexões sobre as experiências educativas em arquivos

Adriana Carvalho Koyama
(Unicamp)
Nas experiências com educação patrimonial em arquivos que envolvem a leitura de documentos, sejam eles pessoais ou institucionais, em sua origem, sejam textuais, midiáticos, iconográficos, em seus formatos, como o contato com tais documentos tem colaborado com a produção de conhecimento? Em que medida essas experiências estimulam a produção e/ou o deslocamento de memórias, tanto no sentido da percepção do passado pelos sujeitos envolvidos, como em sua ressignificação, na relação com questões do presente e com a construção de imagens de futuro? Essa apresentação propõe um olhar sobre a educação em arquivos, buscando refletir sobre algumas experiências singulares, a partir das questões aqui levantadas.

 

Os Anos de Aprendizagem de Antonio Candido (1930-1940)

Camila Almeida Vaz Antunes
(UNICAMP)

Os anos de aprendizagem de um intelectual como Antonio Candido de Mello e Souza configuram um assunto que ainda carece de reflexão no âmbito da sociologia e da educação, áreas interessadas no tema da formação e das formas de sociabilidade que dela resultam. Baseado nisso, o presente estudo procura discutir os anos de aprendizagem de Antonio Candido, que coincidem com seus anos de formação escolar e engajamento político na juventude, em meados da década de 1930, ainda na cidade Poços de Caldas. Esses momentos de formação são considerados decisivos, porque dão o lastro àquilo que vai resultar no amadurecimento de um posicionamento político declaradamente socialista na vida adulta. Nessa pesquisa são tomados como ponto de partida o primeiro artigo escrito por Antonio Candido para um periódico ginasial, o Jornal Ariel, e os inúmeros encontros e eventos de que ele participou ao longo das décadas de 1930 e 1940. Entrevistas, publicações e toda a fortuna crítica do intelectual são também cautelosamente consideradas no processo de reconstrução de seus anos de aprendizagem e desenvolvimento. Essa perspectiva biográfica é oferecida pela sociologia alemã de Georg Simmel e Norbert Elias, fonte de inspiração e orientação dos métodos escolhidos.

 

Impasses da cultura: tensões no acesso e nas concepções de pessoa, cultura e duração em acervos públicos

Luísa Valentini
(FFLCH/USP)
A garantia de direitos dos povos indígenas, hoje violentamente disputada, se fundamenta na noção de cultura, atestada pela construção e circulação de documentos. Do ponto de vista das instituições culturais e universitárias de guarda documental, a que dedico minha atenção, a mesma noção de cultura acarreta expectativas institucionais de amplo acesso que vêm sendo contestadas pelos próprios grupos documentados – como já examinado nos casos de direitos de propriedade intelectual, principalmente, por Manuela Carneiro da Cunha. Nos casos de guarda e gestão de documentos, estão em jogo não apenas questões relativas à própria noção de documento, mas especialmente à duração da pessoa e de sua memória na comunidade, e ao estatuto ontológico da imagem e de artefatos cujas agências exigem moderação, muitas vezes pelo recurso ao esquecimento. Proponho que o exame comparativo de tensões nas gestões de acervos pessoais de intelectuais e da documentação relativa a povos indígenas pode contribuir para uma melhor compreensão destes impasses e para se criar um campo de tradução e de envolvimento destes grupos na gestão de suas memórias.

 

Ementa do GT:

O simpósio temático propõe a reflexão sobre a relação entre memória, educação e arquivos em suas diversas perspectivas, espaços e públicos: a ação educativa em arquivos; a educação patrimonial; o ensino de História; a formação de pesquisadores, professores e de profissionais de instituições de custódia documental; a educação formal, não formal e mesmo informal, enredada nas interfaces entre mídia, memória e acervos documentais. Com o intuito de colaborar com as reflexões sobre a educação nos arquivos e centros de documentação, bem como sobre as relações entre memória e ensino de História, convidamos a professores e pesquisadores a dialogar sobre o potencial do entrecruzamento das pesquisas que aproximam memória, educação e arquivos, interrogadas da perspectiva da arquivística, da educação, do ensino de História e da história cultural. Buscamos reunir e dar visibilidade às experiências que estimulem aproximações educativas das formas de arranjo e acesso próprias dos arquivos; que convidem seus leitores a flagrar a produção de representações sobre o passado em seus confrontos, pluralidade e contradições; que colaborem com a ampliação dos laços entre tais aproximações e as memórias dos sujeitos sociais. Convidamos ao diálogo comprometido, sobretudo, com a investigação e desenvolvimento de abordagens teóricas e metodológicas que fortaleçam a dimensão pessoal e coletiva dos sujeitos históricos envolvidos nesses lugares e práticas, em uma abordagem racional e sensível.

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